quarta-feira, 3 de junho de 2009

O Avião e os trens

Uma semana difícil para muitos. Junho começou sob o signo do desastre. Quando, na segunda, ouvi falar do desaparecimento do avião da Air France fiquei apreensivo. Pensei o que uma amiga sempre fala quando são noticiados desastres, desgraças e tragédias coletivas de grandes proporções: Famílias estão chorando nesse momento.
Nesse sentido, foi muito pertinente o que Alessandro Martins, do Blog Livros e Afins, escreveu ontem. Trata-se de uma reflexão a respeito do que aconteceu no Twitter: as piadinhas de mau gosto, dos "twitteiros" de plantão, em torno da tragédia, ou seja, comparando o ocorrido com o seriado Lost... O título do post do Alessandro é Queda do avião: o cinismo é a nova hipocrisia [perdoem-me não ter aprendido a fazer o link direto, é só procurar no http://livroseafins.com/]
Aconteceu também essa semana: como já disse por aqui, estou fazendo o Treinamento de Corel Draw (vide post Amor ao desenho) em uma escola na Avenida Paulista. No entanto, moro muito longe dali. Assim sendo, tenho acordado muito cedo e atravessado a cidade.
Então, pude acompanhar o verdadeiro calvário que é o da população da Zona Leste da cidade de São Paulo para chegar ao trabalho, no centro da cidade ou ainda mais distante. Os trens da CPTM são minúsculos e o povo vinha como se fora, literalmente, sardinhas em lata, comprimido dentro dos vagões. Ontem, vi mais de uma pessoa sentindo-se mal e tendo que interromper o trajeto, levadas pelos seguranças das diferentes estações para atendimento médico.
Hoje, o que me comoveu foi o episódio do embarque, às 7h da manhã, na estação Brás, sentido Sé. Aqui, preciso destacar o trabalho do funcionário do Metrô que fica na plataforma, auxiliando os passageiros no embarque. Naquele caos, não há muito o que fazer, mas ele faz o essencial, uma vez que o problema todo ocorre no momento em que o carro para e abre suas portas: é quando a multidão tenta entrar em vagões já absolutamente lotados. Desenvolve-se, então, uma verdadeira batalha entre os que estão dentro e os que se encontram na espécie de cancela da plataforma. Como o movimento é intenso e coletivo, o empurrar o grupo da frente para dentro do vagão faz com que, quando o trem fecha as portas, os primeiros passageiros do grupo, e que não embarcou, estejam completamente fora da faixa amarela, a mesma que impediria possíveis acidentes, incluindo a queda de uma passageiro na via.
Pois bem, esse funcionário não tem como impedir essa dança primitiva e que ocorre por força das circunstâncias, mas é ele quem cuida de pedir (depois que quem conseguiu entrar no trem entrou e não há condições de ninguém mais entrar) que as pessoas dêem um passo para trás; quem avisa para aqueles, mais desatentos, que o último vagão tem uma alça e que poderá machucar, se bater no corpo da pessoa; é ele quem libera o maquinista, quando vê que há um espaço mínimo de distância entre as pessoas na plataforma e o trem que, então, se movimenta e parte.
Não é um trabalho fácil: trata-se de lidar com inúmeros desconhecidos, passageiros, em um momento de estresse coletivo e, o mais importante, ele se sente responsável pelas vidas ali em jogo, isso é visível para quem assiste seu trabalho. Fica aqui minha singela homenagem a esse agente de segurança anônimo, do Metrô.
Para terminar, uma pergunta importante: quando o Governo do Estado de São Paulo irá parar de fazer propaganda da compra de novos trens, tanto para a CPTM quanto para o Metrô, e vai colocá-los de vez para rodar?

4 comentários:

  1. Sim, nós do extremo da zona leste sabemos bem o que é sofrer pra ir trabalhar. Porém eu não creio que seja fácil lidar com estranhos não, ainda mais sob estresse, esses funcionários sofrem desacatos imensos e ter de lidar com certos tipinhos é extremamente traumatíco!
    Boa postagem essa!

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  2. Isso mesmo, não é fácil. Na cena à qual me reportei o funcionário foi exemplar. Daí minha admiração. Obrigado Olyvia!

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  3. Como sabe sou moradora da Zona Leste e muitas vezes me senti num navio negreiro e pensei a diferença é que recebemos salários mínimos.

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  4. É verdade e a comparação realmente é boa. Pois é, o tempo passa e quem trabalha é que é sempre mal tratado. Oh my God como é que pode!

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