sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

The purpose

Há uma qualidade no artista que me parece sempre notável: poder dizer o que sente, o que pensa, de um modo que não ocorreu a ninguém mais dizer. Ou mesmo quando ocorre de seu modo de expressão ser mais ou menos semelhante ao de algum outro (seja pela escolha dos materiais com os quais trabalha, ou, enfim, por uma preocupação ou temática que acaba por ser comum a mais de um artista) isso não impede que naquele artista em particular tal maneira de se expressar se desdobre naquilo que só pode ser particularidade desse artista: único, de alma inviolável.

Assim sendo, todo artista traduz sempre o seu desejo muito pessoal de expressão, revelando aquilo que lhe é próprio, incomum, mas que, em contrapartida, toca a todos por que ao menos nisso há uma centelha de revelação de algo conhecido, ou seja, podemos notar que redescobrimos em determinado artefato, objeto de arte, criado por um outro alguém, aquilo que - em se tratando de sentimentos ou de uma reflexão em direção a determinadas referências temáticas ou ainda de uma cosmovisão - aquilo que já estava em mim, guardado como desejo de memória ou mesmo de permanência no belo, no inefável...

Cada artista fala de um desconhecido que, entretanto, já nos fora dado em algum outro lugar, que não o aqui e agora, imediatos. É como se abrissem com cada uma de suas criações brechas no tempo e no espaço e fizessem, então, surgir esse surpreendente (des)conhecido, que emociona, tão somente por que sempre fora possível.

Essa minha reflexão vem a propósito do trabalho dessa artista nascida em Paris e radicada em Portugal: Joana Vasconcelos.

Have a nice weekend!







4 comentários:

  1. Oi Josafá!
    Mais uma artista de muita sensibilidade, chega a ser redundante isso, não? Tem que ter sensibilidade para criar buscando completar a paisagem, o que nos rodeia.
    No meu blog fiz referência a você...

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  2. Pois é, sabe que uma amiga não curtiu muito? Ainda bem que ela não veio falar mal da artista por aqui...rsrsrs
    Achou o sapato, por exemplo, meio estranho... Já eu não acho não, acho bem criativo: a obra foi intitulada Carmem Miranda e é um sapato imenso feito de panelas tampadas!
    Eu posso pensar em tanta coisa diante disso! ;-)
    Já fui lá no seu blog e deixei um comentário também. <3

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  3. Josafá, penso que vale para seu blog o que vc diz no primeiro parágrafo deste post:

    "Há uma qualidade no artista que me parece sempre notável: poder dizer o que sente, o que pensa, de um modo que não ocorreu a ninguém mais dizer. Ou mesmo quando ocorre de seu modo de expressão ser mais ou menos semelhante ao de algum outro (seja pela escolha dos materiais com os quais trabalha, ou, enfim, por uma preocupação ou temática que acaba por ser comum a mais de um artista) isso não impede que naquele artista em particular tal maneira de se expressar se desdobre naquilo que só pode ser particularidade desse artista: único, de alma inviolável."

    É lindo o que vc faz deste espaço aqui!
    Agradecemos, nós, os navegadores em busca de algum lirismo na vida...

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  4. Luciana,

    Que coisa mais linda de se ouvir! Na verdade, eu estava pensando em outras pessoas, inclusive na moça da postagem. Mas vindo de vc eu acredito, sim, que possa ser também esse um espaço de exercício disso que foi dito. Você é tão sincera, amiga. Deus nos ajude, então, a continuar sempre melhorando essa qualidade lírica.

    Merci amiga querida! ;-D

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