sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

The Good Hearth

Ontem, boa parte das pessoas que moram nessa cidade de São Paulo iniciou um processo de luto. Foi anunciada a morte do cinema de rua mais importante da cidade: o Cine Belas Artes. Eu fui até o cinema manifestar minha solidariedade aos funcionários que, aliás, ficarão desempregados. Uma moça linda da bilheteria abraçou-me chorando. O público manifestou-se na rede durante todo o dia. Um abaixo-assinado corre pelo Facebook. E nada disso irá reverter o processo do poder do Capital que, como sói acontecer em Sampa, destrói coisas belas e constrói tão poucas, eu diria.
Na minha ida ao cinema moribundo, aproveitei para assistir um filme em cartaz. Como sempre, como sói ser a programação da casa, o filme era uma pérola do bom gosto e da sensibilidade que ainda habitam nos espíritos que fazem bom cinema mundo afora.
Tratava-se de um filme do chamado cinema independente (leia-se “nada a ver com Hollywood!”), O Bom Coração, do diretor Dagur Kári, que nasceu em Paris, de pais islandeses, e que vive na Dinamarca.
A primeira sensação agradável do filme, pelo menos para mim, se deu pelo impacto que nos causa sua excelente fotografia, cuja direção resultou em uma luz fria o tempo todo. Isso faz com que a locação do filme, que se passa em Nova York, não seja imediatamente reconhecida. Ou seja, que apenas se crie uma atmosfera, aquela tão somente que o roteiro precisa para situar seus personagens na grande metrópole. O que temos de início é um encontro que se dá em um momento de crise das figuras centrais da narrativa: um morador de rua, que tentara o suicídio, encontra-se em um hospital, na companhia de um rude Jacques, dono de um bar decadente e que teve um infarto. O excelente ator Paul Dano (o mesmo de A Pequena Miss Sunshine), no papel de Lucas, cria o sem-teto mais doce que podemos conceber: é a personagem-título do filme, afinal, ele, sim, é todo bom coração.
O filme nos revela, muito tranquila e singelamente, o que é isso afinal de se ser uma pessoa de bom coração: é aprender que mesmo não tendo o pulso firme que a vida o tempo todo exige e que, ainda que sintamos vontade de jogar a toalha, no ring da vida, podemos, ainda assim, com nossas atitudes de bondade e mesmo que elas beirem a insensatez (a bondade parece coisa insensata num mundo rude!), ainda assim, podemos salvar qualquer situação, até quando não sabemos que assim mesmo é que será!
O final, aliás, é surpreendente, inesperado, verdadeiro, transcendente!

O Belas Artes mesmo nos estertores de sua agonia é ele também um cinema bom coração (deixando essas lições de bom cinema em suas telas até o fim) e é por isso que seu público promete promover uma

Manifestação Pública Contra o Fechamento do Belas Artes
na esquina da Av. Consolação com a Av. Paulista,
no sábado: dia 15 de janeiro, às 20 horas.

Eu acho isso muito bom, que ao menos o capitalismo selvagem do proprietário do imóvel tenha que ouvir um barulhinho bom das pessoas dessa cidade quando também elas são pessoas de bom coração! ;-D

2 comentários:

  1. Lindo post, Jô!Acho que TODOS deveríamos acampar no Belas Artes pra ver se essa palhaçada tem fim. bejo bejo

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  2. Mari linda! Obrigado, que saudades!
    Então, nos vemos lá! ;-D

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