segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Li um grande garoto: Nick Hornby

Na sexta feira passada, uma amiga querida emprestou-me um livro dizendo: esse autor é muuuuuuito booooooom. Ele é um jornalista inglês e que escreveu Alta fidelidade, que virou filme e tem um filme desse livro aqui também: O grande garoto (About a Boy, no original). Ela estava falando de Nick Hornby. Já, na orelha do livro, não escreveram que ele é jornalista, mas que nasceu em 1957 e que trabalhava como professor antes de tornar-se escritor em tempo integral, que escreveu Pique febril, um ensaio memorialístico sobre as torcidas de futebol, e Alta fidelidade, seu primeiro romance já publicado também pela Rocco (como esse que eu li), e que obtiveram sucesso absoluto de público e crítica. Somos informados também que o autor mora na zona norte de Londres.
No começo, eu não estava gostando de uma das personagens, o Will Freeman, um homem de 36 anos que não faz nada da vida, pois vive de rendimentos de uma famosa canção que o seu pai compusera. Mas era puro preconceito meu. Depois, você entende que ele é uma personagem muito importante para o conjunto da história e que ele tem aquela característica humana peculiar às boas personagens de romance: ele se transforma e isso porque tinha tudo dentro de si para transformar-se. Para tanto, só faltava mesmo a ele encontrar Marcus, o garoto de 12 anos que é o “grande garoto” do título. É claro que o livro nos ensina que todo mundo é “garoto”, no final das contas. O que está em questão é que somos todos kids e isso foi o mais agradável de descobrir, ao sermos auxiliados pelos comportamentos tocantes da miríade de personagens com as quais convivemos durante a leitura do livro.
Ontem, enquanto eu lia o livro no meu quarto, eu dava imensas gargalhadas, a ponto de chorar de rir. (minha mãe teve que ir até meu quarto para saber o que estava acontecendo, imaginem!). Essa é uma qualidade absolutamente difícil de se ver em um romance sério: fazer a gente rir. O humor é aquele mesmo que podemos esperar de um escritor britânico, é o humor absolutamente inglês. E que eu adoro!
Vou reproduzir aqui um dos trechos que me fizeram gargalhar. Nesse caso, é óbvio que é preciso considerar que a essa altura você tem bastante intimidade com as personagens, lá pela página 166, mas penso que leitores sensíveis poderão compreender tudo, porque o tom da prosa é por si só revelador.
Apenas para que entendam o contexto: É véspera de Natal e Will foi convidado pelo garoto, Marcus, a passar o natal na casa dele. Estão reunidos a mãe do garoto (Fiona), o ex-marido e pai do garoto (Clive), sua atual esposa (Lindsey), e a sua sogra. Chegam uma amiga da mãe do garoto (Suzie), com sua filhinha e que conhecera Will, quando ele estava fingindo ser pai solteiro para conquistar mães solteiras num grupo de apoio a pais solteiros. rsrsrs A garotinha pega um presente na árvore e o entrega ao Will, que estava constrangido com a presença de Suzie – era a primeira vez que eles se viam depois que sua mentira fora desmascarada:

- Brinca com ela – disse Suzie – Meu Deus, dá para ver quem não tem filhos aqui.
- Vamos fazer o seguinte – disse Will – Você brinca com ela – jogou o brinquedo para Suzie. – Já que eu sou tão ignorante.
- Talvez você pudesse ser menos ignorante – disse Suzie.
- Para quê?
- Eu diria que no seu campo profissional talvez fosse vantajoso saber brincar com crianças.
- Qual é o seu campo profissional? – perguntou Lindsey educadamente, como se aquilo fosse uma conversa normal entre um grupo normal de pessoas.
- Ele não faz nada – disse Marcus – O pai dele compôs uma música de Natal de sucesso e ele ganha um milhão de libras por minuto.
- Ele finge que tem um filho a fim de frequentar grupos de pais solteiros e cantar mães solteiras – disse Suzie.
- É, mas ele não é pago por isso. – disse Marcus.
Will levantou-se novamente, mas desta vez não se sentou de novo.
- Obrigado pelo almoço e tudo o mais – disse ele. – Estou indo.
- A Suzie tem o direito de expressar a raiva dela, Will – disse Fiona.
- É, e já expressou, de modo que agora eu tenho o direito de ir para casa. – Começou a abrir caminho por entre os presentes, os copos e as pessoas em direção à porta.
- Ele é meu amigo – disse Marcus subitamente. – Fui eu que convidei ele. Eu é que devia dizer a ele quando ir para casa.
- Acho que não é bem assim que funciona esse negócio de hospitalidade – disse Will.
- Mas eu não quero que ele vá ainda – disse Marcus. – Isso não é justo. Como é que a mãe da Lindsey ainda está aqui, se ninguém convidou ela, e o meu único convidado está indo embora porque todo mundo está tratando ele mal?
- Em primeiro lugar – disse Fiona – a mãe da Lindsey é minha convidada, e aqui também é a minha casa. E nós não tratamos o Will mal. A Suzie está com raiva do Will, tem todo o direito de estar, e está dizendo isso a ele.
Marcus teve a impressão de estar numa peça teatral. Ele estava de pé, Will estava de pé, e aí Fiona também pô-se de pé; mas Lindsey, a mãe e Clive estavam enfileirados no sofá assistindo de boca aberta.
- A única coisa que ele fez foi inventar um filho durante umas duas semanas. Meu Deus. Isso não é nada. E daí? Quem se importa? A garotada da escola faz muito pior do que isso todo dia.
- O problema, Marcus, é que o Will já saiu da escola há muito tempo. Já devia ter crescido e parado de inventar gente a essa altura.
- É, mas ele se comportou melhor depois, não foi?
- Eu já posso ir? – disse Will, mas ninguém lhe deu atenção.
- Por quê? O que foi que ele fez? – perguntou Suzie.
- Ele não me queria lá no apartamento todo dia. E eu continuei indo. E ele me comprou aqueles sapatos, e pelo menos escuta quando eu digo que estou com problemas na escola.Você simplesmente dizem para eu me acostumar com isso. E ele sabia quem era o Kirk O’Bane.
- Kurt Cobain – disse Will.
- E não é como se vocês todos também nunca fizessem nada de errado, é? – disse Marcus. – Quer dizer... – Precisava tomar cuidado com aquilo. Sabia que não podia falar demais, e talvez quase nada, sobre o troço do hospital. – Quer dizer, como foi que eu conheci o Will em primeiro lugar?
- Basicamente porque você jogou uma porcaria de uma baguete na cabeça de um mareco e matou ele – disse Will.
Marcus quase não acreditou que Will tivesse mencionado aquilo naquele momento. O assunto era para ser o fato de todo mundo também fazer coisas erradas, e não que ele matara o marreco. Mas aí Suzie e Fiona começaram a rir, e Marcus percebeu que Will sabia o que estava fazendo.

Eu espero que essa passagem tenha feito você rir também! ;-)
Agora quero ver o filme, com Hugh Grant. Uma pequena curiosidade: quando eu lia a descrição da personagem Will Freeman e acompanhava sua atuação no livro, eu ficava imaginando alguém exatamente como o Hugh Grant, e nem sabia que fora ele quem vivenciara a personagem no cinema. rsrsrs

3 comentários:

  1. Talvez hoje não esteja bem humorada porque não consegui rir, ou esteja dormindo ainda, afinal chove, é domingo e eu aqui visitando seu blog, mas eu ri quando vi o filme mais que uma vez porque é assim que faço com os filmes com Hug Granta e com outros filmes que gosto. Uma vez que você ja leu o livro pode ser que goste do filme meu filho costuma dizer que os filmes costumam ser uma sinopse do livro. Quem ficou com vontade de ler o livro agora fui eu. Beijo lindo Josafá.

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  2. Eu percebi que faltou um h no nome do Hugh, no comentário acima, desculpe Hugh, talvez esse h seja importante para você.

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  3. Luiza,
    Eu não vi esse comentário anteriormente! Perdão: deixei você falando sozinha. ;-(
    Eu também gosto do Hugh (com h ou sem) e tenho certeza que vou gostar do filme, mas ainda não pude vê-lo. Vou fazer isso em dezembro, quando, suponho, terei mais tempo. Seu filho tem razão: é raro um filme ser tão rico como o livro que o inspirou. Há exceções, of course.
    Obrigado pelo seu comentário e desculpe-me por respondê-lo tanto tempo depois! ;-)

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