sexta-feira, 30 de abril de 2010

Ser compassivo

Eu conheço alguém que por algum motivo muito obscuro para mim, provavelmente, me odeia. Diria mesmo que muito provavelmente, porque tal pessoa procura, mesmo na mais ínfima oportunidade que lhe seja propícia, reiterar o sentimento de profundo desgosto em conviver comigo.

Eu, por minha vez, gosto muito de mim mesmo. E, inclusive, também não tenho nada de concreto contra tal pessoa. A não ser o fato de que, eu, gostando de mim, não vejo nenhum motivo para que alguém me odeie, portanto, tão somente esse sentimento contrário ao daquele e que resulta nessa minha incompreensão absoluta de que alguém me odeie. Aliás, sempre que perscruto meu coração, concluo que não tenho lhe dado motivos para alimentar tamanho ódio. No entanto, seu ódio é até mesmo mais forte do que o bom senso e que, posso notar, esse ser também possui noutras circunstâncias.
Observando essa personagem de agora, lembro-me de todos os que também me odiaram, em maior ou menor grau, nessa minha vida, que já vai no alto de seus 42 anos. Não foram muitas pessoas, é verdade, e cada qual parecia ter sempre motivos muito obscuros para odiar a mim. Como podem notar o meu amor próprio é inegável. Por outro lado, como não consigo, deliberadamente, odiar a ninguém, acabo por perceber que fico sempre no escuro, quando sou eu o alvo de tal desamor.
O que é possível fazer? Em tal circunstância, penso que o silêncio, primeiramente, é sempre a melhor atitude diante dos surtos odientos daquele ser, por exemplo. Quando então, ele exala seus miasmas, e, portanto, quando sua vibração negativa será muito próxima do insuportável. Também penso que não se deve chorar, por mais penalizados que fiquemos diante de tal expressão. Mas, sobretudo, não devemos nos contaminar com o ódio, afinal seria horrível odiar alguém tão somente porque esse alguém nos odeia.
E mais, há segredo aí. Quero acreditar que, no infinito do obscuro, o que nos pode salvar de um quadro ainda mais lamentável é nos mantermos o máximo possível à margem, mas elevando um clamor aos céus para que esse ser seja feliz! Tão feliz a ponto de, quiça, nos esquecer e também a esse ódio que, tão veementemente, nutre por esse pobre odiado e, sobretudo, que esse último considere a possibilidade de lhe ser útil, caso ele venha a precisar - pela graça das circunstâncias insopitáveis - de nossa ajuda. Mas, sobretudo que consigamos ter, então, uma atitude de respeito tão grande no momento desse socorro que nem a mais leve lembrança do ódio daquele seja sentida por quelqu’un.

4 comentários:

  1. Meu caro,
    quem é um ser do amor, como vc, não tem mesmo como entender o ódio, apenas percebê-lo (e incomodar-se com ele, claro...). Ainda que se posssa pensar que o ódio é uma das pontas de um mesmo espectro... será? Never mind, acenda uma vela pedindo iluminação pra esse ser de vibração baixa, ou acenda um incenso dos bons, ou eleve os olhos ao céu azul desta manhã... Enfim, faça aí um gesto que aponte pro alto, pra luz. Os que vivem na onda do amor têm uma força incrível nos seus mínimos gestos.

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  2. Lu,
    Que maravilha todos os seres existirem e dentre eles, você, uma lição de solidariedade!
    Merci, merci, belíssima.

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  3. Priminho que lindo isso!
    fiquei boquiaberta
    quero desenvolver esse pensamento e esse tipo de atitude dentro de mim.
    não é a toa que te admiro tanto e sou sua fã!!
    beijinhos

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  4. Marília querida,
    Que alegria imensa ler seu comentário no meu blog. Fiquei muito feliz com esse seu gesto de carinho.
    Bom, você sabe: querer é poder. E não é tão difícil não. Eu estou no treino, é claro! Mas tô achando tão bacana... Quero mais é perseverar. rsrsrs
    beijos ;-D Te adoro!

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