quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Looking In: Robert Frank's The Americans




Se hoje, dia 30 de dezembro de 2009, eu estivesse em Nem York eu iria ao The Metropolitam Museum of Art e veria a essa exposição. Simples assim.
Essa exposição celebra o aniversário de cinquenta anos da publicação de The Americans, uma influente coleção de fotografias em preto e branco, feitas durante um tour de Robert Frank pelas estradas do país em 1955/56. Embora a descrição de Frank da vida americana tenha sido criticada quando o livro foi lançado nos EUA, em 1959, logo ele foi reconhecido como um mestre dos fotógrafos de rua. Nascido na Suiça, em 1924, Frank é considerado um dos maiores mestres da fotografia. A exposição reúne 83 fotografias publicadas no livro e é a primeira vez que esse conjunto de trabalhos é mostrado para os nova-iorquinos. Além desses, a exposição conta com o material que Frank usou para criar o livro, fotografias anteriores a esse período feitas na Europa, Peru e New Iork e um curta-metragem sobre a vida do artista.
Espero que um grande amigo meu e que, possivelmente, já se encontra em New York, possa ver essa exposição, ou seja, aceite essa minha dica. ;-D

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Wendy Wonsuk Lee








Se eu escrevesse um livro infantil, pediria para Wendy Wonsuk Lee, essa ilustradora que vive no Queens, em New York, ilustrá-lo.
Acho que há nesse trabalho sonho, delicadeza, força (que está sobretudo nos cabelos das personagens) e muita imaginação: graças a essa capacidade tão rara de desprendimento do real. É como se um mundo próprio pudesse ser construído, sem culpa ou temor, ou quase...
Conheça outros trabalhos e converse com ela, se desejar: http://wendywlee.com/work20.html

sábado, 26 de dezembro de 2009

Balanço da festa do Menino

Quando eu era criança adorava muito muito o Natal. Criança nascida em uma família católica era natural que tal festa cristã tivesse sua importância na minha educação. O Papai-Noel nunca me seduziu muito, é verdade. Desde criança, eu sabia que aquela representação não tinha muito a ver com o meu país tropical: afinal, por que aquele velhinho simpático estava tão agasalhado em pleno verão? Creio mesmo que cheguei a elaborar essa pergunta e que deve ter sido respondida, com constrangimento, por parte de algum adulto de plantão, na ocasião...
Depois fui crescendo, e os natais se repetiam em todo 25 de dezembro, em todos os tempos da minha existência. A cada ano, o natal ganhava novo significado. Houve um tempo em que até cheguei a detestar um ou outro natal, provavelmente isso se deu quando eu estava morando distante da minha família. Quando morei em Brasília, por exemplo. É que quando não estamos acalentados pelos nossos entes queridos, tendemos a ver os defeitos da festa. No caso do natal, o defeito mais gritante é o excesso de consumismo que toma as pessoas: a farra dos presentes, procurados avidamente em todas as lojas por milhões de pessoas, e com isso, a transparência do poder econômico de cada um, em suas gritantes diferenças, sobretudo em nosso país.
Esse ano, até mesmo esse aspecto eu tive oportunidade de ver com outros olhos. Aqui em São Paulo, temos a Rua 25 de Março que é o local de maior concentração do comércio popular. Em uma cidade com milhões de habitantes, ao menos um milhão de pessoas passam por dia nessa rua, nesse período de festas. Na televisão, vários telejornais mostravam esse movimento incrível de gente e de vendedores na tal rua. Pois bem, esse ano, achei tudo comovente. Aquelas pobres pessoas estavam ali buscando presentes, na maioria para as crianças (os brinquedos eram os itens mais procurados, dizia a repórter). Não é bonito que os adultos queiram agradar as crianças em uma data em que se celebra o nascimento também de uma criança considerada especial, divina?
A verdade é que a humanidade é comovente na sua loucura, ainda que na loucura expressa em algo tão impuro quanto o consumismo desenfreado. Nesse sentido, a loucura de crer é tão legítima quanto a loucura de ser. De ser seja o que for: um consumidor da 25 de março, um Papai-Noel, um menino Deus.
Eu, mesmo depois de tanto tempo, prefiro crer no menino em sua pureza: dentro de Deus, dentro do Papai-Noel e, pourquoi pas?, dentro de cada consumidor.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Releitura

Eu devo ter lido esse livro no início deste ano. Em março ou abril, aliás, não me lembro se postei about... De qualquer modo, estando em casa esses dias, o reencontrei e notei que foi um livro no qual rabisquei muito, ou seja, grifei inúmeras passagens. Relendo tais passagens, vejo que são também aforismos da poeta.
A delícia de ler uma poeta escrevendo em prosa é que temos a certeza de que quando a pessoa é poeta ela não perde a mão e tudo o que fala, mesmo em prosa, é pura poesia. Cecília é dessas. Essas crônicas ela escreveu, na década de 40, em diferentes jornais brasileiros. Era um tempo em que ler jornal devia ser encantador, porque nossos grandes escritores escreviam neles. A crônica jornalística não tinha nada de banal era pura informação verdadeira, porque traduzia o pensamento de pessoas que tinham o que dizer para aquelas pessoas do seu tempo, mas cuja repercussão do que diziam pode ser observada ainda hoje.
Não resisti, ao reler meus grifos, e escolhi algumas passagens que transcrevo aqui, na esperança de que as pessoas se enlevem tanto quanto eu, na primeira ocasião em que li tais passagens e, hoje, pela manhã, quando fiz a releitura e a escolha dessas passagens, em particular.

Enjoy it!

Eu, da Literatura não tenho muita pena, porque ela facilmente se defende: de todas as artes é a única dotada de fala. (Os Artistas, Rio de Janeio, A Manhã, 13 de junho de 1945)

Você gosta da cólera, amigo? Eu não gosto, porque é uma loucura passageira e feia. Há loucuras belas: quando alguém nos pergunta: “A senhora se lembra de d'Artagnan? Pois era eu...” - e quando uma pessoa nos apresenta os originais de um tratado sobre as granulações concomitantes do éter, ou estudos congêneres. Nisso há poesia, transcendência, um desprendimento da realidade, um gratuito abandono às possibilidades do Sonho. (Evasão, Rio de Janeio, A Manhã, 20 de junho de 1945)

A bomba atômica não deve causar tanta admiração nem tanto susto. Ela é apenas a representação plástica do que uma parte da humanindade tem surdamente realizado, nesses invisíveis laboratórios que também somos. (Oh! A bomba... Rio de Janeio, Folha Carioca, 11 de agosto de 1945)

Das minhas altas varandas a avistava. E se a notei, foi só por sua solidão, esse uniforme pelo qual – objetos, animais, pessoas, - fazemos o nosso reconhecimento.(A casa, Rio de Janeio, A Manhã, “Letras e Artes”, 29 de junho de 1947)

Nunca esperei, no entanto, nada mais do que esse meu amor. Porque o amor não precisa mesmo de nada. E até de certo modo, quando se fortalece muito, começa a excluir tudo.O amor quer ser sozinho, isento de repercussão. (A casa, Rio de Janeio, A Manhã, “Letras e Artes”, 29 de junho de 1947)

Conheço pessoas bem-aventuradas, que falam com os santos, e médiuns ainda não muito esclarecidos que vêem pedaços de gente morta. Tive uma criada que quase todos os dias me contava: “Eu hoje vi as costas do falecido seu José...” “Eu hoje vi o calcanhar da defunda dona Maria...” Essa criada me asseverou que só se vêem as pessoas de costas, e da cintura para baixo. Explicou-me também quando elas podem ser vistas de corpo inteiro. Mas isso foi há muito tempo, e não me lembro. Não quero dizer, porém, que não acredite. Eu acredito em tudo. (Loucuras variadas, Rio de Janeiro, A Manhã, 31 de maio de 1944)

Conheço até pessoas que falam em nome de Jesus Cristo: mas essas são as que eu reputo demasiadamente ousadas, abusivas, principalmente quando comparo suas afirmações com seus atos. E de toda a horda de loucos acima enumerados, esses são os únicos que sinceramente detesto. (Loucuras variadas, Rio de Janeiro, A Manhã, 31 de maio de 1944)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Eu leio diálogos

Falei de tantos presentes que ganhei e não falei em um livro outro que também me presentearam. Um livro organizado e traduzido por John O'Kuinghltons. Esse homem de nome tão estrangeiro traduziu para o português os diálogos entre Jorge Luis Borges e Osvaldo Ferrari, portanto, os autores do livro Sobre a Filosofia e outros diálogos.

É tão bom ler um livro de diálogos. Sempre gostei muito desse gênero de livros. Em primeiro lugar, porque o diálogo filosófico é realmente o tipo de diálogo que as pessoas deveriam ter. E, no entanto, poucos no mundo o mantém ou têm condições de mantê-lo. Então, por isso só, já é uma honra e mesmo um privilégio poder acompanhar esse tipo de diálogo, pela leitura, o que é possível devido ao fato de o diálogo ter sido registrado na escrita.

Da página 101 em diante, da edição que eu possuo (a da editora hedra), há uma conversa entre os dois que gira em torno de Sonetos, Revelações, Viagens e Países. Nela encontramos esse trecho, que tenho o prazer de compartilhar com os leitores desse blog:


Borges: (...) escrevi um soneto que tenho que burilar - Será publicado em Montevidéu, me parece - de qualquer forma, uma versão sobre o tema de, apesar de estar um pouco envergonhado de ter cumprido 85 anos, e apesar de estar cego, me sinto, enfim, mais feliz, ou, na realidade, mais sereno do que quando era jovem... bem, do que quando tentava ser infeliz de uma forma interessante. E agora não; além disso, a infelicidade nos encontra, não é preciso procurá-la.


Ferrari: Mas é muito interessante isso que o senhor menciona quanto a sentir-se mais feliz agora do que quando era jovem. É muito paradoxal.


Borges: Bem, não, penso que os jovens são facilmente infelizes, já que as paixões são mais fortes, e entre as paixões está o desespero, não é? (ri). Por outro lado, agora eu tento, bem - não sei se tenho muitas esperanças, mas desesperado não posso estar (riem ambos). Para repetir a frase de Júlio Cesar de Shakespeare, quando diz: "César desespera", e César - o da literatura, não o da história - responde: "Quem nunca esperou não pode desesperar." Bem, então, eu continuo esperando


Ferrari: Isso é justamente a serenidade, me parece.


Borges: Sim, acredito que sim; esperar sem muita impaciência, é claro.


A mim, essa leitura foi tão necessária esses dias...

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Migalhas de Machado de Assis

Uma coisa muito boa desse época do ano, de festejos natalinos, é que ganhamos presentes. Eu, particularmente, adoro dar presentes. Esse ano, no entanto, mais ganhei do que dei, o que me faz pensar que talvez eu tenha merecido. Quero acreditar nisso!
;-D
Sobretudo isso faz-me acreditar que foi um ano no qual fiz novas e boníssimas amizades.
Uma nova amiga, por exemplo, deu-me hoje de presente um mimo de livro, a começar pelo título Migalhas de Machado de Assis, de Miguel Matos. Ele reuniu aforismos machadianos que extraiu da obra do velho bruxo.
Estou adorando. É livro de ficar na cabeceira, ou na mesinha de centro da sala de estar ou mesmo no banheiro. Irá proporcionar momentos de enlevo, do prazer de leitura rápida e esparsa e ao mesmo tempo leitura fortíssima e profunda como sói ser a leitura de tudo o que Machado escreveu.
Trago para cá alguns desses aforismos:

Há entre os suicidas um excelente costume que é de não deixar a vida sem dizer o motivo e as circunstâncias que os armam contra ela.

Depois da invenção do fumo não há solidão possível. É a melhor companhia desse mundo. Demais, o charuto é um verdadeiro Memento homo: convertendo-se pouco a pouco em cinzas, vai lembrando ao homem o fim real e infalível de todas as cousas: é o aviso filosófico, é a sentença fúnebre que nos acompanha em toda parte.

Quando a gente se aborrece dos homens toma sempre a afeição dos animais, que têm a vantagem de não discorrer, nem intrigar.

Os infelizes são apenas infelizes.

Ser feliz à vista de todos é repartir a felicidade.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Lembrei-me de José Régio

Ontem, aconteceu de uma ex-aluna encontrar-me na web e enviar-me um e-mail. Quando ela foi minha aluna era uma debutante e isso já faz uns bons 13 anos. Ela era uma aluna linda do Cefam do Itaim Bibi. Eu fiquei encantado com a alegria que seu e-mail revelava por ter finalmente me encontrado, depois de tanto tempo. Ela ainda se lembrava da história que eu contara acerca da origem do meu nome e, dentre outras coisas, reiterou a importância que eu tivera em sua formação. Eu considerei tudo isso emocionante. ;-D
Uma delicia que acontece quando damos aulas, sobretudo aulas de literatura, que era o objeto da disciplina que eu ministrava naquela época, é o fato de que, mais do que qualquer coisa, são as experiências vitais que ficam guardadas no coração. Nunca me esqueço de, quando dando aula de literatura portuguesa, por exemplo, quando lia para os adolescentes o poema Cântico Negro, do poeta José Régio, do quanto esses alunos ficavam impressionados com o poder daquelas palavras:

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Esse é apenas um pequeno trecho, o poema é bem maior e embora lírico mais se parece com um épico! O épico do Eu. rsrsrs
Lembrando-me desses alunos adolescentes de antanho, lembrei-me também desse poeta. José Régio era o poeta que mais os marcava e do qual quase não se tem mais notícias, não é mesmo? Querendo matar saudades, fiz uma busca de seus poemas no São Google e descobri esse soneto (a-do-ro sonetos!), absolutamente erótico:

Soneto de amor
Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma...Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.
Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.
E em duas bocas uma língua..., - unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.
Depois... - abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!

Não é o máximo?!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

João Carlos Martins, o maestro educador

Sábado último, eu conversava com um amigo. Ambos lamentávamos não podermos assistir ao show de Maria Bethânia, naquele final de semana em São Paulo. O que nos impedia? Dispor, a essa altura do mês, dos 90 a 200 reais que teriam que ser pagos.
Eu argumentava que não via problema nesse valor de ingresso exorbitante. (Embora lamentasse não dispor de tal grana nessa exata ocasião... rsrsrs) Afinal,e esse era o meu argumento na defesa do que a artista está cobrando, essa quantia é, mais ou menos, o que temos pago para ver estrelas internacionais. Assim sendo, por que Bethânia não poderia cobrar o mesmo valor?
O meu amigo considera isso tudo muito elitista mesmo. As pessoas que não têm grana não podem ter acesso ao tipo de trabalho de arte e cultura que Maria Bethânia desenvolve ou qualquer outro artista que tenha os ingressos para o seu espetáculo cobrados desse modo. Seu argumento foi mais forte que o meu e também tinha um exemplo para contrapor: foi quando ele contou-me acerca desse famoso maestro brasileiro, João Carlos Martins, cuja história de vida (bastante conhecida no mundo inteiro) é um assombro, assim como o seu próprio talento.
Pois bem, esse artista apresentou-se no local de trabalho desse meu amigo. Onde ele trabalha? Na Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (CASA). Trata-se de uma autarquia do Governo do Estado de São Paulo vinculada à Secretaria de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania. Sua função é executar as medidas socioeducativas aplicadas pelo Poder Judiciário aos adolescentes autores de atos infracionais com idade de 12 a 21 anos incompletos, conforme determina o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A Fundação CASA foi criada em substituição à antiga Fundação Estadual do Bem Estar do Menor (FEBEM).
Aqui no Brasil, em São Paulo, todos sabemos o horror que foi a FEBEM! Maltratados, os jovens ali reclusos fizeram rebeliões históricas. Os jovens da FEBEM, agora Fundação CASA, ali vivem parte de suas vidas, reclusos, e são bastante marginalizados pela sociedade. Assim sendo, não teriam acesso, por exemplo, à música clássica (objeto de trabalho do referido maestro) e, para muitos preconceituosos de plantão, não saberiam ou poderiam apreciar a música de um Bach, por exemplo.
No entanto, não foi isso o que aconteceu, muitíssimo pelo contrário. Assim que o maestro terminou sua apresentação gratuita aos garotos da Fundação CASA, o público de jovens privados da liberdade aplaudia de pé por mais de dez minutos, contava o meu amigo, emocionado. Foi uma das coisas mais lindas a que ele já assistiu, dentro da Fundação, como educador. Parabéns ao maestro por tudo, mas sobretudo por João Carlos Martins fazer exatamente isso: viajar por todo o Brasil, apresentando-se para todos os públicos e descobrindo e apoiando jovens talentos por meio de sua Fundação Bachiana! \o/\o/\o/

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Naomi Kobayashi









Hoje, desejei trazer cores e desenhos para esse blog. Tenho andando muito cerebral, pensando somente por meio de palavras, palavras, palavras. Não quero mais tão somente words. Quero também ver imagens que fantasiem essa nossa existência. Algo, talvez, como dizia uma canção que ouvi há muitos anos: delicate like you and me.
Assim sendo, saí navegando pela web, em busca do encontro perfeito e foi quando me deparei com essas delicadas ilustrações de Naomi Kobayashi. Visitando seu site, ficamos em contato com esse mundo de pequenas criaturas femininas e de objetos de pura transparência pintados em madeira. Não foi possível saber mais nada, não leio japonês, ou seria chinês? Se alguém puder contar-nos algo mais about her, além do tanto que ela já nos diz com esse trabalho, eu agradeço. ;-D

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Gabriela Machado



Ontem, na minha hora de almoço, fui ver uma exposição na galeria da Caixa Cultural. Ela fica bem pertinho de onde trabalho, então, sempre passo por lá para ver as novidades. Agora, por exemplo, essa artista plástica, que mora no Rio de Janeiro, está expondo seus trabalhos nessa exposição a que chamou doida disciplina. Esses quadros de pintura abstrata são, na verdade, imensos. A maioria pertence à série Cascas e medem 220 x 195 cm ou 233 x 198 cm. É bonito vê-los, assim, cobrindo cada qual grande extensão das paredes. As pinceladas são fartas, generosas, e o efeito, ao menos para mim, é o de tranquilizar o observador.
Há também um vídeo que, ao que tudo indica, mostra a artista trabalhando em seu atêlie: algo sempre interessante de se ver. Eu não pude vê-lo, porque havia um rapaz também imenso assistindo ao vídeo na torre que vinha do chão e alcançava-lhe a cintura. Estava tão compenetrado que achei melhor não atrapalhar. ;-D
Volto outro dia para conferir.
Na parede, antes dos quadros, há um texto de Ronaldo Brito, curador da exposição, e nele somos muito bem informados acerca desse trabalho. Como é um texto que instiga o desejo de ver tais quadros, vou reproduzí-lo aqui:
Há quase dois séculos, Eugène Delacroix começava a inventar a cor moderna, e o fazia sobretudo por meio de pequenos estudos livres, as suas legendárias manchas de cor. Ao emancipar-se de a priori acadêmicos, da tirania do claro-escuro, da mimese da textura ( a imitação visual da sensação tátil), essas manchas afirmavam decididamente a sensibilidade, agora realibitada, do homem moderno. Reza a lenda que, à frente do quadro pronto, Delacroix costumava passar um buquê de flores sislvestres para conferir o acerto de cores: porque em um buquê, qualquer buquê, o arranjo de cores está sempre coerente, é infalível. Longe de receitas acadêmicas, tudo se decidia já no olho pelo olho, no contato fluente entre homem e natureza.
Em vários sentidos, as pinturas e os desenhos de Gabriela Machado procuram atualizar, em um mundo muito diferente, essa lógica espontânea e esse rigoroso frescor. Só valem aqui as cores que acabam de se descobrir como tais e que respondem de imediato a uma sensação vital e corpórea: do mesmo modo, feitas todas as mediações, também essas obras buscam renovar à sua maneira o contato com a natureza. Claro, como se pode notar por seu aspecto um tanto pop, pela estridência de seus tons contemporâneos, esta não é mais a natureza do século 19. O que permanece em comum, no entanto, é a ideia básica da pintura como metabolismo, interação entre o artista e a natureza. A atividade da pintura repotencializa assim o impulso de vida, e sua disciplina específica, insubstituível, consiste em aguçar, sempre em crescendo, uma curiosidade visual pródiga e incessante.
Não é excelente esse texto? Eu o li primeiro e, depois, olhei para os quadros e pude compreendê-los melhor. Uma prova de que precisamos estar sempre nos educando. Penso que se trata de uma educação do olhar, é isso o que nos possibilita esse trabalho de Gabriela Machado.
Caixa Cultural São Paulo
Praça da Sé, 111
Tel.: 11 3321.4400
28/11/09 a 17/01/10
terça a domingo / 9h às 21h
Entrada Franca \o/ \o/ \o/

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Conversa de mãe e filha

(Foto: Nuno Veiga do blog http://cadoalentejo.blogspot.com/)

Hoje cedo, eu estava em um ônibus descendo a Rua da Consolação, em direção ao trabalho. Chovia cântaros. Eu sentado. No banco de trás, mãe e filha conversavam:
- Filha, ali atrás é a Praça da Bandeira, mais para frente é o Teatro Municipal.
- Mas mãe, eu não quero só ver as coisas, eu quero conhecer.
- Em frente ao Municipal tinha uma loja que se chamava Mappin e que funcionava num alto edifício e em cada andar havia um departamento: um andar era só de brinquedos, outro só de calçados e assim por diante.
- Mas cada andar era de um dono ou era um dono só para todos esses andares?
- Acho que um dono só, era uma loja só.
- Nossa, que absurdo!
Vamos combinar que eu já tinha achado a garota o máximo na primeira fala, nessa última, então, ela conquistou esse ouvinte.
- Mas eu duvido que tivesse a Imaginarium nessa loja.
[Tudo bem, esse não é um blog de merchandising, mas eu adoro essa loja que a garota citou. Se eu soubesse como fazer um link, vocês poderiam entrar no site deles e entender o espírito da coisa. Mas vamos continuar ouvindo a conversa de mãe e filha.]
- Não sei. É uma loja isso?
- É mãe, é o tipo de loja que só tem coisa Lelé [ela queria dizer com isso, coisas malucas. rsrsrs]
Por exemplo, lá tem um relógio que quando você liga, ele começa a fazer piruetas, coisas assim. Eu duvido que tivesse essa loja lá.
Então, eu me levantei morrendo de vontade de dizer à mãe:
- Sua filha é uma pessoa que tem uma conversa amabilíssima, não é mesmo?
Não foi possível, porque mãe e filha tinham os polegares apertados, o de uma no da outra, e estavam agora em silêncio e com os olhos fechados. Pensavam em um desejo. Após esses instantes, ao separarem os polegares o cílio ficara no polegar da filha e ela imediatamente levou-o ao interior da blusa, guardando-o no peito. Sorria por isso.
Eu desci em frente à Prefeitura, na Praça do Patriarca, achando que esse tinha sido um encontro encantador para iniciar mais um dia chuvoso e de trabalho, em São Paulo.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Um Calonga de aniversário






Hoje, ganhei uma escultura de presente de aniversário. A minha amiga já sabia que eu admiro demais esse trabalho do argentino Santiago Calonga, que, aliás, já mora no Brasil há oito anos.
Ele é um miniaturista, desde os treze anos de idade. Sua mãe é escultora, assim como seus avós e bisavós.
É incrível o que ele consegue esculpir em um palito de fósforo!
Delicado esse trabalho e bastante inspirado. Calonga tem pesquisado o artesado nordestino brasileiro e o barroco mineiro. Ele também diz que é fortemente influenciado pelos trabalhos de Mestre Vitalino (Caruaru - PE), Guto Lacaz (SP) e Peter Callesen (Dinamarca).
As suas pequenas peças misturam o sacro e o lúdico. Trata-se de um trabalho autoral, enraizado no artesanato, mas com o olhar voltado para o design e as artes plásticas.
O meu é um equilibrista que eu não encontrei a imagem no Flickr, mas por lá tem muito mais.
http://www.flickr.com/photos/santiagocalonga/
Você também pode fazer como minha amiga e adquirir um desses trabalhos na lojinha do CCBB no centro de São Paulo.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Federico García Lorca


Vejam como tenho razão em sentir-me bem, sempre bem e cada vez melhor. Esse ano, para mim, foi o ano de retomar a leitura de poesia. E desde que tomei tal atitude, só me chegam livros e presentes, que são coletâneas de poesia, obras completas de poetas. \o/ \o/

Ontem, fui visitar uma amiga e ela presenteou-me com a Obra Poética Completa, de Federico García Lorca.

Eu, ignorante que sou, nunca lera nenhum poema de Lorca.

Na apresentação de Ático Vilas-Boas da Mota, nessa edição bilíngue, lançada pela editora Martins Fontes, lemos:
Grande poeta, dramaturgo, além de desenhista e musicista, aos múltiplos talentos juntava um extraordinário poder de sedução pessoal. Excelente palestrador e conferencista de primeira ordem. Eis aqui o testemunho do seu amigo Rafael Albertis:
"Quando Garcia Loca falava, recitava, interpretava curtos ensaios dramáticos ou cantava, acompanhando-se ao piano, criava-se em torno dele uma atmosfera mágica a que nenhum auditório podia resistir."
Que delícia tudo isso!

Estou lendo seus poemas sem compromisso, a não ser o de apreciar e sorver-lhe as palavras. Estou considerando tudo bastante delicado até agora. Ele é denso sem ser cansativo, é doce sem esconder o prato de sal, é triste sem deixar de ser alegre. Gosto dessa mistura boa e penso que muitas vezes as delicias de uma pessoa, de um poeta, residem nessa seara de contradições que pode revelar-se como a paisagem de um coração.
Os primeiros poemas que li, do livro imenso e farto, traduzido por Willian Agel de Melo:

MADRIGAL
1919

YO te miré a los ojos
cuando era niño y bueno.
Tus manos me rozaron
y me diste un beso.

(Los relojes llevan la misma cadencia,
y las noches tienen las mismas estrellas.)

Y se abrió mi corazón
como una flor bajo el cielo,
los pétalos de lujuria
y los estambres de sueño.

(Los relojes llevan la misma cadencia,
y las noches tienen las mismas estrellas.)

En mi cuarto sollozaba
como el príncipe del cuento
por Estrellita de oro
que se fue de los torneos.

(Los relojes llevan la misma cadencia,
y las noches tienen las meismas estrellas.)

Yo me alejé de tu lado
queriéndote sin saberlo.
No sé cómo son tus ojos,
tus manos ni tus cabellos.

Solo me queda em la fronte
la mariposa del beso.

(Los relojes llevan la misma cadencia,
y las noches tienen las mismas estrellas.)

DESEO
1920

SOLO tu corazón caliente,
y nada más.

Mi paraíso un campo
sin ruiseñor
ni liras,
con um río discreto
y una fuentecilla.

Sin la espuela del viento
sobre la fronda,
ni la estrella que quiere
ser hoja.

Una enorme luz
que fuera
luciérnaga
de outra,
en un campo de
mirada rotas.

Um reposo claro
y allí nuestros besos,
lunares sonoros
del eco,
se abrirían muy lejos.

Y tu corazón caliente,
nada más.
MADRIGAL
1919

EU te mirei nos olhos
quando era menino e bom.
Tuas mãos me roçaram
e me deste um beijo.

(Os relógios têm a mesma cadência,
e as noites têm as mesmas estrelas.)

E se abriu meu coração,
como uma flor sob o céu,
as pétalas de luxúria
e os estames de sonho.

(Os relógios têm a mesma cadência,
e as noites têm as mesmas estrelas.)

Em meu quarto soluçava
como o príncipe do conto
por Estrelinha de ouro
que se foi dos torneios.
(Os relógios têm a mesma cadência,
e as noites têm as mesmas estrelas.)

Eu me afastei de teu lado
querendo-te sem sabê-lo
Não sei como são teus olhos,
tuas mãos nem teus cabelos

Só me resta na fronte
a mariposa do beijo.

(Os relógios têm a mesma cadência,
e as noites têm as mesmas estrelas.)

DESEJO
1920

SÓ o teu coração quente,
e nada mais.

Meu paraíso um campo
sem rouxinol
nem liras,
com um rio discreto
e uma fontezinha.

Sem a espora do vento
sobre a fronde,
nem a estrela que quer
ser folha.

Uma enorme luz
que fosse
pirilampo
de outra,
num campo de
olhadas partidas.

Um repouxo claro
e ali nossos beijos,
lunares sonoros
do eco,
se abririam muito longe.

E teu coração quente,
nada mais.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Ná Ozzetti no Ibirapuera

Sou fã de Ná Ozzetti e já andei falando dela por aqui. Leiam Ná Ozzetti e a transcendência e entendam minha admiração por essa cantora e artista brasileiríssima. Uma amiga querida convidou-me para sua única apresentação no Auditório Ibirapuera, amanhã. Trata-se do último trabalho de Ná e que foi vencedor do Prêmio Bravo! Prime 2009 como Melhor CD de Música Popular.
Balangandãs exprime o cenário musical das décadas de 30 a 50, em canções eternizadas por Carmen Miranda. O espetáculo, na verdade, traz novos arranjos e interpretações dos clássicos de Carmen Miranda, com uma concepção contemporânea de arranjos musicais, roteiro, figurino e iluminação. Em se tratando de Ná Ozzetti só podemos esperar originalidade total! \o/ \o/ \o/

Eu estarei lá!

Dia: 5 de Dezembro de 2009
Horários: Sábado, 21h
Duração: 90 min (aproximadamente)
Ingressos: R$ 30,00 e R$ 15,00 (meia-entrada)
Gênero: MPB
Classificação Indicativa: Livre para todos os públicos

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Aluno atarefado

Estou ocupadíssimo essa semana e, então, meu blog querido ficou navegando no mar da web abandonado por quatro dias! O mais engraçado é que isso tem a ver com a aproximação das festas de fim de ano: onde trabalho, elas são motivo de agitação.

Além disso, estou também no final do semestre escolar. E preparo dois trabalhos, para duas diferentes disciplinas. Uma delas trata da Psicologia da Educação. Como nossa professora trabalhou conceitos da psicanálise e fez uma introdução acerca de Freud, nesse trabalho, que irei apresentar para a disciplina, devo utilizar tais conceitos na análise e leitura que eu promover acerca de um tema. A professora sugeriu que ficássemos livres para trabalhar e escolher uma obra literária ou do mundo de cinema, por exemplo.

Ao decidir-me acerca do que eu ia fazer, lembrei-me que certa vez um amigo ficou "bravo" comigo porque eu consegui estabelecer uma relação de sentido entre O ser e o Tempo, de Heidegger e uma música, um hit na verdade, do conjunto brasileiro de roque chamado Sepultura. rsrsrs

Ainda no sábado, eu dizia em um sarau, que tinha ouvido uma canção do Mika, um pop star britânico, que me lembrara uma importante lição da psicanálise: a de que o sofrimento de nossa neurose leva-nos ao divã, onde muito simplesmente descobrimos que não somos culpados, mas que tampouco somos inocentes e, portanto, a questão toda está apenas em como viver com isso.

A canção do Mika que me despertou a associação é Blame it on the girls. rsrsrs

No meu trabalho para aquela disciplina, não vou utilizar essa canção, claro! Vou fazer um ensaio em que aproximo o que Freud diz no Capítulo V de O mal-estar da civilização e o que Baudelaire nos sugere em seu poema L'Irréparable (O irreparável), que pertence à obra As Flores do Mal.

Vou partilhar aqui meu primeiro parágrafo desse ensaio e que ainda estou escrevendo:

Em O mal-estar da civilização, Freud afirma: "O trabalho psicanalítico nos mostrou que as frustrações da vida sexual são precisamente aquelas que as pessoas conhecidas como neuróticas não podem tolerar." A primeira reação que um leitor comum terá diante dessa afirmação - e estou pensando em alguém que jamais tenha ouvido falar em psicanálise e, portanto, não saiba que a teoria psicanalítica afirma que somos todos ao menos neuróticos - será necessariamente, ou muito provavelmente, uma reação de perplexidade. Sim, pois como pessoa neurótica que é, ela terá que concordar com o fato das frustrações da vida sexual serem intoleráveis, e simultaneamente irá descobrir-se, portanto, como fazendo parte desse grupo de pessoas que a psicanálise diz conhecer como neuróticas.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A escolha divina e maldita do poeta


Li, ontem, um ensaio que foi publicado originalmente em uma revista de Florianópolis chamada Morcego Cego, em 1997. Agora, ele está reunido numa coletânea de ensaios de Ivan Junqueira, poeta, crítico literário e tradutor, no livro a que ele chamou O Fio de Dédalo, publicado pela Record, em 1998. O ensaio a que me refiro trata de A modernidade de Cruz e Souza. Sempre admirei esse nosso poeta simbolista, autor de poemas de uma intensidade e profundidade como nunca vi, como, por exemplo, as que notamos no soneto Triunfo Supremo e que, aliás, Junqueira Freire reproduz no corpo do ensaio, integralmente, para que tudo o que ele dizia acerca do poeta e sua obra ficasse “mesmo e afinal por dito”.
Eu irei fazer o mesmo aqui, para que aqueles que têm sensibilidade para a poesia entendam a grandeza desse nosso poeta, por conta própria:


Quem anda pelas lágrimas perdido,
Sonâmbulo dos trágicos fragelos,
É quem para sempre deixou esquecido
O mundo e os fúteis européis mais belos!

É quem ficou do mundo redimido,
Expurgado dos vícios mais singelos
E disse a tudo o adeus indefinido
e desprendeu-se dos carnais anelos!

É quem entrou por todas as batalhas,
As mãos e os pés e o flanco ensanguentado,
Amortalhado em todas as mortalhas.

Quem florestas e mares foi rasgando
E entre raios, pedradas e metralhas,
Ficou gemendo mas ficou sonhando.

Há uma passagem bastante importante no ensaio de Junqueira, na qual ele questiona a comum interpretação acerca da obsessão que Cruz e Souza tinha pelo branco, revelada em muitos dos seus poemas. Eu também sempre ouvi que isso talvez se devesse ao fato de ele ser negro. Junqueira sugere uma outra leitura desse traço de sua poesia, em particular. Ele acredita que essa obsessão está associada à “metáfora sobre a geração da luz” de um Ezra Pound ou ainda mais, está relacionada àquele "branco dantesco que inunda cada um dos cantos do Paradiso”, afinal, como já nos dissera Haroldo de Campos, “Dante prolonga, sustenta e totaliza essa especulação radiosa sobre um Amor que é Luz”.
Ao final do ensaio, Junqueira cita ainda um pesquisador, Alexei Bueno, que descobriu cartas escritas por Cruz e Souza e dentre elas uma escrita a um amigo do poeta, Luis Delfino. Diz Bueno: “Dolorosa carta esta (...) na qual o poeta pede insistentemente ao seu êmulo e conterrâneo qualquer auxílio monetário, mais um reflexo da pavorosa miséria em que se debateu o poeta até a morte.” Ivan Junqueira, então, termina seu ensaio nos provocando com uma questão que a mim emocionou devido a uma densidade vertical que carrega em si mesma:
“E quantos entre nós, acrescentamos de nossa parte, não padeceram – ou padecem ainda hoje – as agruras que resultam da escolha a um tempo divina e maldita que fazem todos os autênticos poetas?”
Essa leitura eu tinha que compartilhar. Trata-se da mensagem de um erudito e que também é poeta, e mais do que sua erudição, sempre bem vida, sinto que todas essas questões presentes na poesia de Cruz e Souza, e que foram resgatadas pelo crítico, são as questões que importam ser ditas e ouvidas, mas não é o que ocorre comumente em nosso cotidiano, não é mesmo?

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Olhares Cruzados no Parque


Realizar um retrato é observar um visível que nos olha, que respira, que indaga. Alternar-se na posição de sujeito e objeto dessa observação é trabalhar a linguagem da pintura à luz da identidade, invertendo logo a seguir essa posição, num movimento pendular, escreve Hélio Schonmann, artista plástico, participante do Coletivo Água Branca e responsável pela organização da intervenção que o coletivo preparou ao convidar doze artistas que farão, no dia dezenove de dezembro, intervenção sobre as paredes de vidro de uma construção, situada em meio ao Parque da Água Branca.

Eu gosto muito de coletivos de artistas e por isso faço questão de divulgar mais essa ação desse Coletivo Água Branca que é muito simpático porque estão sempre pintando o sete nesse parque do qual o coletivo toma o nome emprestado e que é uma delícia de frequentar. Eu também divulguei aqui a última intervenção que eles fizeram por lá Translúcidos na Água Branca

Schonmann ainda nos conta, no material de divulgação que recebi, que a inversão de papéis, a que ele se referiu no texto acima, acontecerá no dia da intervenção, quando os participantes estarão se alternando, como artistas e como modelos. Já o público, o observador da ação, terá uma inédita aproximação com o processo de elaboração das imagens – a tal ponto que ele poderá como que tocá-las, pelo lado externo, enquanto o trabalho é realizado. Esse suporte é sem dúvida atraente por si só e, como também nos conta o artista, ele será a chave formal dessa intervenção-exposição, tornando as imagens visualmente penetráveis – umas pelas outras – viabilizando a interação, não somente entre as que são vizinhas num mesmo plano, mas entre aquelas realizadas sobre paredes distintas, transformando a espacialidade da obra em importante protagonista do evento.
Tomara que o dia 19 de dezembro seja um sábado de muito sol em São Paulo e possamos curtir uma manhã ou uma tarde, ou um dia inteiro (porquoi pas?) naquele parque. Eu estou muito interessado em ver os artistas em ação e o resultado desse trabalho coletivo.
Intervenção

Local: quiosque nº 8, Parque da Água Branca, São Paulo

Data: 19/12/2009

Horário: 8h às 12h e das 13h às 17h

Exposição

20/12/2009 a 31/1/2010

Horário: diariamente, das 6h às 17h50min.

Artistas

Altina Felício, Ângela Barbour, Constança Lucas, Elias Júnior, Fernando Cherubim, Francisco Maringelli, Hélio Schonmann, Lúcia Neto, Paulo Barreto, Pedro Maluf, Rubi, Sérgio Kon.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Recordis Photograph








Essa dica eu li no delicioso blog http://www.followthecolors.blogspot.com/ Trata-se do site Recordis Photograph. Seu idealizador nos explica o porquê do nome: From the Latin words "re" (repeat) and "cordis" (heart), translating into "Again by heart".
Achei bastante apropriada essa referência de que recordamos o que volta novamente à memória pelo coração.
O site é dedicado à fotografia e trata-se de um projeto idealizado por Sabino Aguad, de Santiago, Chile. Eu achei a intenção de reunir fotógrafos e suas fotografias totalmente original e despretensiosa. E, muito provavelmente, o resultado foi feliz porque a inspiração é verdadeira. Essas imagens eu trouxe de lá e são assinadas pelos fotógrafos: Laurence - Montreal, Anna Ristuccia - Atlanta, Baie - Polônia, Julia Galdo - Los Angeles, Steven Beckly - Toronto e Ryan MacGinley - New York.
A Laurence, por exemplo, tem apenas 16 anos e concedeu uma entrevista ao site. Por esse pequeno trecho é possível conhecer seu modo de ser:
Do you think flickr/internet had anything to do with your decision of becoming a photographer?
Yes and no. Taking photo is a very personal thing for me, and I would be doing it anyway if flickr/internet didn’t exist. However, the flickr community really did encourage me and helped me realize that this is what I want to do. The people I «met» on the internet definitely changed the way I see things in general, and I will always be grateful that they were a part of my life
.
Ele perguntou se o flickr/a internet a influenciou na decisão de tornar-se uma fotógrafa. Ela diz que sim e não. Tirar fotografias é algo muito pessoal para ela e, portanto, poderia fazer isso de qualquer modo, mesmo que o flickr ou a internet não existissem. Mas ela admite que a comunidade do flickr realmente a encorajou e a fez perceber que era isso o que ela queria. Assim, as pessoas que ela "encontra" na internet, definitivamente, mudaram o seu modo de ver as coisas em geral e ela será sempre grata a todas essas pessoas que fazem parte da sua vida.
Ela é muito simpática e acho que ela tem toda razão ao dar essa declaração. Esse movimento na web muda mesmo o nosso modo de ver as coisas e por isso somos gratos a todos aqueles que vamos encontrando nesse meio.
Leia a entrevista na íntegra e conheça também o site: http://www.recordisphotography.com/

domingo, 22 de novembro de 2009

Make love not war



A Coleção Folha Grandes Museus do Mundo traz, em seu segundo volume dedicado à National Gallery, de Londres, reproduções das obras-primas mais célebres das coleções daquele museu. Eu ganhei os volumes 1 e 2 da Coleção, por isso tive oportunidade de ler a ambos. O primeiro volume é dedicado ao Museu do Prado, em Madri, que possui em seu acervo o magnífico Jardim das Delícias, de Hieronymus Bosch.
Eu estou achando o texto de Daniela Tarabra, a especialista que comenta cada quadro, de altíssimo nível. Dá gosto ler suas descrições dessas obras. É como se fosse uma pequena aula durante um determinado trajeto dentro de cada museu.

Eu apreciei particularmente o texto em que ela fala desse quadro, Vênus e Marte (cerca de 1485), pintado por Sandro Botticelli, e que pertence ao acervo da National Gallery.

Abaixo do detalhe do deus Marte, Tarabra salienta: Marte, adormecido, repete a postura clássica de muitos sarcófagos da idade imperial romana, que Botticelli evoca com um desenho delicado e de refinada afetação. Os pequenos sátiros, certamente a um sinal de Vênus, despertam o deus nu do sono profundo, e o amor vencerá mais uma vez a guerra.

Não é lindo? Eu acho que esse quadro é uma das primeiras manifestações do ideal hippie na história: Make love not war. Totalmente Flower Power! rsrsrs