A semana passada eu postei no Facebook que eu tinha ganho tantos presentes por ocasião do meu aniversário que estava até constrangido! rsrsrs
Bem, um deles eu já falei aqui, foi o livro Clarice, de Benjamin Moser. O mais engraçado é que eu li o livro, que tem mais de 500 páginas, em 5 dias e os amigos queridos que me deram a biografia de presente ficaram chocados! As pessoas pensam que eu leio muito rápido! A verdade, porém, é que eu leio desde a mais tenra idade e isso estabelece um ritmo próprio de leitura, penso eu. Ainda mais um livro que emociona e que é bem escrito: não queremos mais largá-lo, não é mesmo?
Ontem, comecei a leitura de um outro livro que também ganhei de presente, agora de duas amigas, lá mesmo na data do meu aniversário.
Já aconteceu um episódio também de observação dessa minha presente leitura. Eu tenho por hábito ler em qualquer lugar. Por exemplo, ontem, enquanto aguardava um amigo, em um barzinho, abri o livro e continuava lendo-o. O rapaz do balcão, que me conhece de frequentar o lugar, é um jovem nordestino e que me perguntou:
- Você gosta de ler? Como é que você lê? Você lê com a mente ou em voz alta?
Eu tive que pensar rápido (com a mente rsrsrs) para responder:
- Com a mente.
Na verdade, ele estava se referindo àquilo que na infância a professora do primário pedia-nos para fazermos em sala de aula, ou seja, a velha e boa "leitura silenciosa"... Isso é o contrário de ler em voz alta, é ler em silêncio, apenas com os olhos e... com a mente rsrsrs
Eu, no entanto, adoro ler em voz alta. Quando estou em casa, dependendo do trecho do livro em prosa, preciso lê-lo em voz alta para ouvir melhor a cadência, a poesia que pode também haver por ali.
No novo livro que ora leio, de Amós Oz, há um trecho em que isso ocorreu, ou seja, precisei lê-lo em voz alta. Sugiro que você também o faça. Só para contextualizar, o protagonista da história é um jovem que mora em um kibutz e está bastante contrariado com a vida que leva ali. O New York Times Book Review considerou essa "a obra mais poderosa de Amós Oz". Esse livro é anterior a um outro do autor e que eu também já li e que é o mais conhecido ou cultuado, ou seja, A Caixa Preta. Nesse que estou lendo, intitulado Uma certa paz, o conflito dessa personagem, em sua desilusão, contrasta fortemente com a esperança que motiva a geração de judeus imediatamente anterior, como a de seu pai, por exemplo. Assim, reproduz-se na vida familiar todas aquelas tensões que antecederam o conflito bélico, por ali iminente, do Estado de Israel.
O trecho que me comoveu e que eu acho que caracteriza bem o primor do estilo de Amós Oz é esse:
Tinha pena de se despedir dos aromas, dos sons e das cores que o tinham acompanhado desde pequeno. Amava o cheiro que baixava lentamente sobre os gramados aparados, nos últimos dias de verão: junto aos oleandros, três cães vira-latas lutam furiosamente pelos restos de um sapato despedaçado. Um velho pioneiro com um boné na cabeça lê um jornal, de pé no meio do caminho em pleno crepúsculo, e seus lábios se movem como se rezasse. Por ele passa uma chaverá idosa - que não o cumprimenta nem com um aceno de cabeça por causa de uma briga antiga - levando um balde azul carregado de verduras, ovos e pão fresco. Ionatan [esse é o nome do protagonista da história], ela diz suavemente olha as margaridas ali no canteiro na beira do gramado, tão brancas e imaculadas, como a neve que caía em nossa Lupatin no inverno. E da direção das casas das crianças ouve-se o som de flautas doces entre muitos gritos de pássaros, e mais longe, no oeste, além do pomar de cítricos e junto ao pôr do sol, passa um trem de carga e a locomotiva apita duas vezes. Ionatan lamentava por seus pais. E pelas vésperas de shabat e de festas judaicas, quando a maioria dos homens, mulheres e crianças se reuniam na casa de cultura, quase todos vestindo camisas de shabat, brancas e passadas, e cantavam canções antigas. Também lamentava pelo barracão de lata no meio do pomar, onde às vezes se escondia por vinte minutos roubados do trabalho para ler o jornal de esportes. E por Rimona. E pelo espetáculo do nascer do sol, como um banho de sangue num dia de verão às cinco da manhã entre as pedregosas colinas a leste e entre as ruínas de Sheikh-Dahar, a aldeia árabe abandonada. Por todos os passeios de sábado àquelas mesmas colinas e ruínas, ele com Rimona, ou ele com Rimona e Udi com Anat, e às vezes sozinho.
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