quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Desejos vãos

Quando eu era adolescente eu ouvi pela primeira vez um poema de Florbela Espanca e pensei: eu compreendo, perfeitamente, o que essa poetisa está a dizer. É que, então, eu comungava, com aquela alma, dos mesmos anseios e, quiçá, também dos desesperos que ela de um modo tão pungente traduz em seus escritos.
Ontem ou anteontem, no Facebook, uma amiga postou um vídeo de uma cantora de fado chamada Mariza e que (vergonha!) eu não conhecia. A mulher que nasceu em Moçambique é famosíssima e de um talento como só podem ter os artistas mais dedicados e verdadeiros.
Tratava-se desse vídeo que fiz questão de também trazer para esse sítio, uma vez que estamos quase terminando o ano de 2010 e merecemos refletir sobre a vida.

Sim, a vida carece de reflexão full time.

E, afinal, quem já não sentiu como Florbela que desejaria ser mais e mais e mais, ou maior, mais forte, mais vasto, altivo, indiferente, possuir até o bem como fonte de orgulho e quem, como ela, já não percebeu, ao menos aqui e ali, que tudo isso é pouco e nada se não entendermos que devemos primeiro servir e amar desinteressadamente sempre, porque tudo nesse mundo é passageiro (uma amiga minha, palhaça toda vida, completaria: menos o cobrador e o motorista. kkkkk)
Curta, então, o soneto belíssimo da querida Florbela e a voz magnífica de Mariza cantando o fado.
Apenas uma última observação: também penso que os modelos que Mariza veste, uns vestidos sempre longos e que deixam-na imensa no palco, altiva, do modo como ela merece aparecer no mundo, afinal, porque o bem também precisa “crescer” nesse mesmo mundo. Enjoy it!

Desejos Vãos
Composição: Florbela Espanca/ Thiago Machado

Eu queria ser o mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!

Mas o Mar também chora de tristeza...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!

E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras...essas...pisa-as toda gente!...

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