Ontem, fui ao Belas Artes conferir o documentário de Tatiana Issa e Raphael Alvarez, Dzi Croquettes. O que essa moça fez foi um imenso favor a todos nós: ela resgatou a história do sensacional grupo e que ela acompanhou desde pequenina, pois o pai dela conviveu com o mesmo, ele trabalhava com a cenografia. Tal resgate era muitíssimo necessário, pois se até eu, que nasci em 1967, não me lembrava desse fenômeno brasileiro, e que estreou em 1972, como poderiam conhecê-lo as novas gerações? Essas jamais teriam ouvido falar nessa gente brilhante (literalmente, de corpos brilhantes, purpurinados) se não fosse nessa oportunidade.
Graças aos céus, a sala menor do cinema estava lotada e eu ouvi dizer que o boca a boca é tão intenso que tem sido assim sempre: as exibições do documentário têm tido um público considerável, em praticamente todas as sessões.Essa gente absolutamente de teatro, que eram os Dzi Croquettes, foi um verdadeiro furor na época, com suas performances irreverentes e figurinos totalmente extravagantes. Eles interpretam, cantam, dançam, e desafiam todas as convenções, durante aqueles anos, no Brasil, e em plena ditadura militar. Foi o maior fenômeno que tivemos de contracultura, de power flower, de gay power. Eram homens entusiasmados, talentosos, inteligentes e, muitos deles, poliglotas (o que auxiliou bastante no sucesso internacional do grupo).
O humor era pungente, tocante e, sendo fruto de uma essência de verdade e alegria, que animava cada um dos 13 integrantes da "família", não puderam deixar indiferentes aqueles que os conheceram. É o que reiteram os depoimentos de Liza Minelli, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, Elke Maravilha, Betty Faria, Marília Pêra, de ex-integrantes das Frenéticas, dentre outros do Brasil, que conviveram com os artistas, bem como de alguns franceses contactados e que também conheceram o grupo, quando eles passaram pela França e deixaram boquiaberto o público parisiense, que contava na plateia com gente como Catherine Deneuve, Jeanne Moreau e Josephine Baker.
Tatiana mostra imagens dela própria, muito linda e ainda pequenina, ou seja, de quando conviveu com os Dzi Croquettes. Ela nos diz que não podendo compreender tudo o que se passava ao seu redor, apenas os via como seus "palhacinhos", aqueles homens de enormes cílios postiços, e que lhe sugeriam que ela apenas fechasse os olhinhos quando sentisse medo. Eles eram cheios de bondade e mesmo o modo trágico como muitos deles morreram não poderia macular tanta bondade e talento: o ofício de artista, com que cada um deles pôde situar-se nessa comovente história, remete-os diretamente para a glória que sempre alcança quem pode amar.
Era esse amor que atraia tanto o público. Aliás, há uma passagem no filme em que vemos a cena de estreia de um espetáculo deles em uma cabaret do Rio de Janeiro: havia 600 pessoas dentro do teatro (a capacidade de público da casa) e 1200 pessoas do lado de fora do teatro desejando entrar e batendo na porta... Isso não foi demais?!
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