sexta-feira, 11 de março de 2011

O brilho eterno das Estrelas

Comecei, ontem, a ler um livro que um amigo querido me emprestou. Hoje, no trajeto para o trabalho, não consegui parar a leitura nenhum minuto sequer. É que a narrativa é apaixonada e, apesar de contar passagens muitas vezes tristíssimas e até mesmo trágicas, ela não é nenhum pouco desabrida. É que Pery Ribeiro, filho de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins, escreveu esse livro para ficar em paz de uma vez por todas com suas duas estrelas. Minhas duas estrelas - uma vida com meus pais Dalva de Oliveira e Herivelto Martins. É assim que ele chamou seu livro, escrito em parceria com Ana Duarte, sua companheira, mãe de seus filhos.
Ruy Castro, no seu prefácio, nos descreve o que vem a ser esse livro:

Esta não é uma biografia deles [Dalva de Oliveira e Herivelto Martins], embora grande parte de suas vidas esteja contada aqui – inclusive os detalhes mais inconfessáveis. Não é também uma autobiografia de Pery, embora ele seja o narrador. É exatamente o que o nome indica: uma “memória”, um relato vivido, de alguém que estava lá e que viajou ao extremo de suas lembranças para recuperar uma experiência – e poucos filhos de celebridades tiveram uma experiência que os feriu tão fundo.

Sim, é mais um livro para eu chorar muito, enquanto o leio.
Trio de Ouro em sua formação original:
Nilo Chagas, Herivelto Martins e Dalva de Oliveira
 Algo suplementar no livro é que ficamos sabendo de episódios do relacionamento do famoso casal também com os seus amigos famosos: Carmem Miranda, Orson Welles, Dorival Caymmi, Grande Otelo, entre muitos outros. Como todo bom livro de memórias, esse é agraciado com o respeito intenso por todos os que já se foram e é por isso que sabermos do que eles provavelmente nem poderiam suportar ouvir, quando vivos, pode, então, ocorrer. Afinal, seus espíritos já devem, Oxalá, poder, então, ouvir acerca do próprio passado doloroso, e também continuar em frente...

Um outro amigo do casal retratado, por exemplo, foi o cantor Nelson Gonçalves. Tenho uma relação especial com esse cantor boêmio, porque, quando eu próprio era criança, meu pai adorava cantar suas canções na varanda de casa. Meu pai tinha uma bonita voz, e na época, acho que se identificava por demasiado com o repertório de Nelson Gonçalves, lindíssimo por sinal. No livro, ficamos sabendo que muitas canções desse repertório, sobretudo no início da carreira, eram composições de Herivelto Martins.
Já uma passagem que achei bastante tocante, e apenas para exemplificar a toada do livro, é a que Pery nos conta em relação à primeira vez que sua mãe recebeu um cachê, quando perto de se separar do marido, já há alguns anos depois de ter atingido o auge do sucesso com o Trio de Ouro. Isso só ocorreu, por então, por que Herivelto nunca lhe dava sua parte no pagamento dos shows, ou de outros empreendimentos que tinham em comum, embora, evidentemente, nunca tenha deixado lhe faltar nada, materialmente falando, uma vez que o filho nos conta que o pai era bastante provedor e mesmo generoso para com todos.

Conta Amália que, depois do primeiro show que Dalva e o maestro fizeram sozinhos em
Belém, ele entregou o dinheiro do cachê para minha mãe. Ela arregalou os olhos muito verdes e desatou a chorar. Assustado, sem entender o porquê daquele pranto repentino, Vicente procurava consolá-la. E ficou ainda mais surpreendido ao ouvir a explicação dela:
“Não estou triste, não, Cabeção, estou emocionada. É a primeira vez que vejo tanto dinheiro junto. É todo meu, tem certeza?”.
Comovido com aquela criatura tão frágil, ele confirmou que já havia pego [sic] a sua parte e que aquele dinheiro era todo dela.

São inúmeras as passagens tocantes como essa. Só por esse exemplo vocês já podem ver que esse é um livro para se ler como uma lição de vida muito profunda. Afinal, sim, só aprendemos com as lições de quem se permitiu viver intensamente. Assim vivenciando-as, desse modo e anteriormente, é que podem nos legar tal relato, ou seja, o de uma experiência humana tão intensa: os artistas são mesmo seres humanos muito especiais nesse sentido.

2 comentários:

  1. Oi Josafá!
    Esse livro deve ter uma emocionante narrativa, pena por enquanto já ter vários livros me esperando, mas não vou esquecer a bela dica.

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  2. Valéria,
    vale super a pena, sim, colocá-lo na fila de livros para serem lidos! ;-)

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