sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

The purpose

Há uma qualidade no artista que me parece sempre notável: poder dizer o que sente, o que pensa, de um modo que não ocorreu a ninguém mais dizer. Ou mesmo quando ocorre de seu modo de expressão ser mais ou menos semelhante ao de algum outro (seja pela escolha dos materiais com os quais trabalha, ou, enfim, por uma preocupação ou temática que acaba por ser comum a mais de um artista) isso não impede que naquele artista em particular tal maneira de se expressar se desdobre naquilo que só pode ser particularidade desse artista: único, de alma inviolável.

Assim sendo, todo artista traduz sempre o seu desejo muito pessoal de expressão, revelando aquilo que lhe é próprio, incomum, mas que, em contrapartida, toca a todos por que ao menos nisso há uma centelha de revelação de algo conhecido, ou seja, podemos notar que redescobrimos em determinado artefato, objeto de arte, criado por um outro alguém, aquilo que - em se tratando de sentimentos ou de uma reflexão em direção a determinadas referências temáticas ou ainda de uma cosmovisão - aquilo que já estava em mim, guardado como desejo de memória ou mesmo de permanência no belo, no inefável...

Cada artista fala de um desconhecido que, entretanto, já nos fora dado em algum outro lugar, que não o aqui e agora, imediatos. É como se abrissem com cada uma de suas criações brechas no tempo e no espaço e fizessem, então, surgir esse surpreendente (des)conhecido, que emociona, tão somente por que sempre fora possível.

Essa minha reflexão vem a propósito do trabalho dessa artista nascida em Paris e radicada em Portugal: Joana Vasconcelos.

Have a nice weekend!







quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Wickedness

A maldade é terrível por que tem muitos nomes. Ela pode ser chamada de, no mínimo, falta de educação. Já sua expressão máxima pertence à ordem do inominável.
Imaginem uma situação vulgar como essa: você senta-se em um balcão de uma padaria, pede uma bebida, serve-se de um copo, deixa a garrafa quase cheia, no balcão, e ausenta-se por instantes. Quando volta, a mesma garrafa está quase vazia. Há suspeitos de terem tomado o seu conteúdo, no entorno, e você fica constrangido de reclamar a quelqu'un.
Evidentemente, essa é uma maldade que pode servir de exemplo àquela modalidade primeira: a da mínima maldade. No entanto, sabendo já da proporção que essa mera maldada pode vir a alcançar, em se tratando de seres humanos, você fica alarmado com o ocorrido.
Ok. Você decide pagar pelo que não tomou. Assim sendo, conclui-se que a amaldade é sobretudo injusta, e imediatamente, uma vez que, de fato, as consequências dessa maldade são imediatas para o vitimado.
Entretanto, penso que também para o maldoso poderão tais atos resultarem em consequências,  ainda que, aqui e ali, elas não sejam claras e possam se vestir de mistério. Tais consequências poderão ir se somando, como quando ele faz da maldade um hábito. E, claro, tais maldades em exercício poderão alcançar também o status daquela maldade inominável.

Isso é assustador e, no entanto, parece mesmo pertencer a uma certa condição humana.

God deliver us from evil.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Mais do que um Museu: um Sonho bom!

Ontem, foi aniversário da cidade de São Paulo e eu, como paulistano, me dei um presente: fui conhecer (Pasmem! Eu não o conhecia!) o Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz.
O Museu, graças a Deus, não precisa de mais incentivo ou propaganda. Ele é um sucesso absoluto de público, desde que foi criado. Quase concluí que somente gente “tonta” não foi ainda conhecer esse espaço consagrado ao bem imaterial mais valioso de todos: a língua que falamos.
Inicialmente, eu e minha amiga fomos até lá para ver a Mostra Fernando Pessoa: plural como o universo, pois ela estava programada para terminar no final de janeiro. Hoje, soube por meio do site do Museu que, atendendo a pedidos, o prazo para o término dessa Mostra foi prorrogado: Fernando Pessoa: plural como o universo continuará no Museu até o dia 22 de fevereiro.
A apresentação dessa Mostra segue o padrão das homenagens que o museu presta aos grandes escritores da Língua Portuguesa, desde que foi criado. Assim sendo, foi elaborada, no primeiro andar, toda uma atmosfera para exibir a obra do bardo português. As paredes são tomadas com trechos de seus poemas, há uma ambientação dos espaços que o poeta frequentava, como cafés, há ainda maquetes etc. Os recursos de multimídia característicos do Museu dão aquele toque de futurismo e que combina com a sensação de modernidade de sua obra e que, é claro, o poeta sempre testemunhou em seus escritos. Você poderá, por exemplo, folhear seus manuscritos, registrados digitalmente, apenas elevando no ar e movimentando com delicadeza sua mão, enquanto na imensa tela, logo abaixo, as páginas de um livro se abrem. Além disso, há inúmeros exemplares de publicação da obra do poeta em diversos momentos e edições, e ainda um poema que se escreve na areia, também com o recurso da digitalização em projeção.
Para além dessa Mostra, a visita ao Museu foi particularmente fascinante para mim, por que há uma apresentação acerca da nossa língua projetada em uma tela imensa, no terceiro andar, e que é emocionante: trata-se de um documentário, narrado por Fernanda Montenegro, que faz uma verdadeira apologia da Língua Portuguesa e que, sendo merecida, não há como não encantar o público.
Além disso, somos convidados para adentrar no espaço contíguo, quando a tela se levanta e, enquanto vemos projeções ilustrativas no teto, chão ou paredes, ouvimos trechos de obras da literatura em língua portuguesa e do cancioneiro popular brasileiro, rescitados por personalidades do universo da cultura brasileira. É uma delicia reconhecer, por exemplo, a voz de Maria Bethânia, José Miguel Wisnik, Chico Buarque, dentre muitos outros.
Anotei, mesmo no escuro, um trecho de um poema rescitado por Bethânia que dizia:

Qualquer amor já é um pouquinho de Saúde, um descanso para a loucura.

Aproveitando esse mote, só posso, por fim, deixar aqui uma singela questão. Quer fazer um bem para si ou para os seus queridos: filhos, sobrinhos, afilhados, netos, namorado(a), pai, mãe, amigos, enfim, a qualquer um e que mereça a demonstração desse amor? Leve-os ao Museu da Língua Portuguesa.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Kar

Eu pensei em não falar desse livro que ora leio porque ele é um livro difícil de se falar about. Aliás, li essa resenha  do livro, em que o resenhista começa por dizer que finalmente tivera coragem de falar sobre esse livro, por que era isso mesmo, para falar desse livro é preciso ter coragem. rsrsrs Assim sendo, eu, aqui, vou apenas fazer o que, aliás, costumo fazer, quando se trata de falar dos meus livros em leitura, dar uma notícia, tão somente, de uma leitura que faço.
Fico também me perguntando como eu poderia falar da experiência intensa de ler um romance que trata de um universo tão peculiar, como esse sobre o qual no livro se narra em urdidura.

Bem, o romance Neve (Kar, em Turco) é um livro da literatura contemporânea da Turquia. E o que eu conheço da Turquia? Muito pouco, com exceção do que vim a saber por intermédio de um grande amigo catalão, e que sempre me fala de seus cantantes, músicos e grupos musicais. Para Enric, a cultura de todo o mediterrâneo é importantíssima e lhe é muito querida. Essa semana, aliás, Enric nos fala de uma banda de punk rock de Istambul, no seu excelente blog Bosphorus.
Penso que agora poderei, provavelmente, conhecer ainda um pouco mais da Turquia, e isso tão somente acompanhando a ótica dessa cultura tal como é exposta nesse romance do grande escritor turco, Orhan Pamuk, Prêmio Nobel de Literatura.
É que, em Neve, o autor situou suas personagens em uma cidade que parece representar bem o que ele deseja. Trata-se de Kars, na fronteira com a Geórgia, uma cidade outrora rica e que, na época em que se passa a história que ele narra, está abandonada a sua própria sorte e que, mesmo assim, ou por isso mesmo, vivencia conflitos que são bastante intensos: entre o Estado secularista e os representantes da tradição islâmica. Ambos se embatem ali e o que está por trás desse embate é a própria condição humana. Uma sinalizador disso, por exemplo, é o estopim do conflito e que se dá, penso que simbolicamente, pela notícia de moças que, impedidas de frequentarem a escola cobertas por seus véus de devoção religiosa, passaram, talvez por ou também por esse motivo, a cometer suicídio.
Portanto, há no livro, entre outras, essa questão, a dos homens que se organizam politicamente, e que também são representados na obra, muito profundamente, pela sua organização interna, seja ela filosófica ou religiosa. Portanto, nessa cidade iremos assistir à construção de um microcosmo dos conflitos raciais, políticos e étnicos da Turquia, bem como veremos nela, de modo suplementar, o palco de uma tragédia bem pessoal, ou seja, a do protagonista do romance: Ka, o poeta.
Durante a leitura, é impossível não pensarmos em que outro romance, senão em um romance cuja personagem protagonista seja um poeta, encontraríamos a alusão a um tipo de sentimento, como o que é expresso nessa passagem que ora cito:

Foi assim que Ka ouviu o chamado do fundo de si: o chamado que ele ouvia nos momentos de inspiração, o único som que podia fazê-lo feliz, o som de sua musa. Pela primeira vez em quatro anos, um poema vinha até ele. Embora ainda precisasse ouvir as palavras, ele sabia que já estava escrito; mesmo aguardando em seu lugar escondido, o poema irradiava a força e a beleza do destino. O coração de Ka se encheu de alegria.

Ou ainda:

"Aqui nós temos duas diversões. Falamos sobre tudo o que nos acontece e vemos televisão. E até conversamos enquanto vemos televisão. E enquanto conversamos, vemos televisão também. Minha irmã é muito bonita, você não acha?"
"Sim, ela é muito bonita", disse Ka num tom reverente. "Mas você também é bonita", acrescentou delicadamente. "E agora você vai contar isso para ela também?
"Não, não vou lhe contar. Vamos ter um segredo para partilhar. É a melhor maneira de iniciar uma amizade." E ela sacudiu a neve que se acumulara em sua comprida capa de chuva roxa.

Sim, meus caros, o mais delicioso nesse livro é que ele é ambientado e construído considerando um tema presente e que nos parece sempre atual em se tratando da Turquia e mesmo do que hoje chamamos de mundo globalizado, mas o livro extrapola o mesmo e o faz pelas frestas das questões atemporais: essas que não carecem de globalização política ou econômica porque pertencem à condição humana em todo tempo e lugar.
Acerca do estilo do romancista eu ainda não poderia me referir como conviria, uma vez que estou tateando por ele. Apenas gostaria de chamar a atenção para a organização dos capítulos, o modo como cada um deles, em seus títulos (isso mesmo, cada capítulo tem dois títulos), nos são apresentados. O primeiro título é apresentado em tipos maiores, e trata-se da citação de um trecho presente no interior do próprio capítulo e, na linha inferior e em tipos menores e em itálico, aparece, então, aquele que seria o título do capítulo, simplesmente, sem ser uma citação do corpo do texto, sendo também o que consta no Sumário. Isso resulta, já de antemão, em uma certa tônica do livro: o tempo todo permeado de diálogos profundos. Vejam que lindos exemplos:

O Silêncio da Neve
A viagem para Kars

Não estou tomando muito tempo do Senhor?
A primeira e última conversa entre o assassino e sua vítima

O que faz a beleza deste poema?
Neve e felicidade

Na Europa eles têm um Deus diferente?
Ka com o sheik efêndi

Como ainda leio o livro e estou apenas na página 132, não posso mais me estender, quero ainda apenas dizer que se trata de um livro muito sofisticado desde o princípio, uma vez que conta, por exemplo, com epígrafes que foram escolhidas com muita precisão e penso que para nos dar, também de antemão, aquilo que poderíamos chamar de o “tom” da história que vamos ouvir. É bem o caso dessa primeira, e citando-a paro de falar nessa experiência de leitura por demais densa e prazerosa!

Nosso interesse vai para a perigosa fímbria das coisas.
O ladrão honesto, o assassino delicado.
O ateu supersticioso.
                       Robert Browning, “Bishop Blougram’s Apology”

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Hereafter

Independente do que possa acontecer com o Cine Belas Artes, enquanto espaço físico, o que importa mesmo é o que irá acontecer com o "espírito" desse cinema: ou seja, sua continuidade, noutro espaço ou no mesmo, como essa força que ele representa de espaço do cinema de qualidade na cidade. Ontem (terça-feira), voltei lá para ver um filme. O cinema estava "bombando", ou seja, parece que o paulistano só acordou para o fato de que é preciso frequentá-lo para valer, no último momento...

O que importa dizer aqui é que fui conferir o magnífico Além da Vida (Hereafter) do grande ator e diretor Clint Eastwood (80 anos!).
Na saída, ouvi minhas amigas dizerem que souberam de quem não gostou do filme (e eu, que sou passional quando gosto de um filme, achei isso um absurdo! rsrsrs) Uma das minhas amigas, inclusive, também tinha seus senões, mas como ela me conhece, limitou-se a dizer que o filme tinha aqui e ali uns clichês (enquanto eu fazia umas caras: quem me conhece também conhece minhas "caras", ou seja, eu não preciso dizer nada quando elas entram em ação! rsrsrs)

Eu não sou crítico de cinema. Aliás, quem quiser ler uma crítica desse filme de fato absolutamente inteligente, leia no Cineweb (Neusa Barbosa sempre soube muito bem o que fala sobre cinema. Ela é a minha crítica de cinema preferida).

Já eu, pobre mortal, vou me limitar a dizer o que senti:

A cena inicial é absolutamente impactante: somos convidados a ver o horror do tsunami juntamente com a personagem que é atingida pelo mesmo, quando saiu do hotel em  que estava hospedada. Há todo o requinte do efeito especial e, no entanto, ao mesmo tempo em que o horror da morte em sua dor acontece, também acontece a experiência do além da morte, o que, então, irá revolucionar a vida da rica e famosa âncora do jornalismo televisivo da França.
E o que dizer do doce e frágil garoto gêmeo? Ele passa todo o filme inconformado e buscando o seu necessário contato do além, enquanto é socorrido pelo irmão, que já se foi, salvando-se assim do ataque terrorista no metrô londrino. Nesse filme, as crianças são o elo de ligação com o que precisa ser vivido porque assumido como a própria verdade de cada um.
Mesmo quando não se aguenta ser o que se é (caso do médium que mora em São Francisco) há que se buscar isso mesmo. Sempre haverá anjos, sejam do além ou encarnados, e esses não irão faltar para socorrer cada um em nome do amor e compaixão.
Uma última palavra: o filme é perfeito porque nos ensina, desde o seu começo impactante, que, sim, é compreensível que tenhamos medo da morte (morrer em um tsunami, por exemplo, é assustador) mas o mais incrível é que o que também parece, às vezes, impossível, ou seja, viver essa vida mesmo (e, plenamente, antes de morrer), é também possível quando nos ajudamos interna e mutuamente. Thank you so much Mr. Eastwood!


segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Knitta Please

Magda Sayeg é fundadora da Knitta Please, uma ação que começou tomando o mundo com a arte do tricô: fora de casa e nas ruas. A simples justaposição desse material, tecido e inserido dentro de um ambiente urbano, terminou por inspirar uma nova geração de tricoteiras, que trabalham tendo em vista não mais um único propósito para o tricô. Trata-se de uma nova abordagem para a confecção de malhas, para além dos pressupostos de uma tradição. Além disso, ela adiciona uma nova leitura para um material que não fora utilizado anteriormente no mundo da arte de rua.
No seu site ficamos sabendo que, quando Magda Sayeg começou a Knitta Please, em 2005, essa era o que seria sua resposta ao processo de desumanização do ambiente urbano. Ao inserir a arte feita à mão em uma paisagem de concreto e aço, por exemplo, ela adiciona uma qualidade humana que raramente existiria ali, de outro modo. Lá no seu site, ela nos sugere que Knitta Please representa uma energia presente, vinda do tricô e mais amplamente da tecelagem, e ainda dando um aceno para a poderosa história dessa arte. Seu trabalho tem sido reconhecido por ser influente tanto para a arte de rua, como para o artesanato de tricô.

Magda Sayeg vive em Austin, Texas.

Além do site oficial, o blog da garota é uma delícia de visitar. Eu trouxe para cá imagens de ambos. Mas não deixe de conhecê-los.
Eu penso que é uma contribuição ao mundo muito delicada, sobretudo por que envolve (literalmente) os objetos desse mundo não apenas com a lã e a linha mas também com carinho, tecendo, assim, aquilo que podemos chamar de talento, beleza, simplicidade, paciência e amor: todas as qualidades e sentimentos humanos de que carecemos. ;-)






sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Jaloux, moi?

Hoje, pela manhã, destemperei-me um tantinho com minha querida mãezinha. Tudo se passou, como sói acontecer em circunstâncias semelhantes, a partir de uma tolice cotidiana.
Resumindo o mote da situação: Há semanas há uma tomada quebrada, na pia da cozinha, e que utilizamos para acionar vários eletrodomésticos. Meu irmão caçula, que mora em outro estado e que é eletricista de profissão, passou a última semana conosco, em férias. Eu e minha mãe combináramos que iríamos pedir para ele efetuar o conserto da tomada. Eu quase não paro em casa durante a semana, trabalhando, e não me lembrei de comentar o fato com ele, nos poucos momentos em que estive em contato com o mesmo. Minha mãe (pareceu-me) não quis incomodá-lo com o expediente. Conclusão: ele já se foi e a tomada ficou ainda quebrada.
Hoje, fui utilizá-la e, impossibilitado, reclamei com a coitada da senhora de 74 anos. Fui um tantinho ríspido. Então, com razão, ela se aborreceu e disse-me: Não precisa ficar alteradinho com isso. Isso não é nada, há coisas muito piores nesse mundo... (ahahahaha) É claro que ela estava corretíssima. Eu, antes de sair, pedi-lhe desculpas pelo meu destempero e parti.
No caminho para o trabalho, procurei refletir about e pensei: o que terá feito eu ficar tão aborrecido com o fato de minha mãe não ter pedido para o meu irmão que consertasse a bendita tomada? Cogitei, no início da reflexão, que pudesse ter sido um aborrecimento por eu ser incapaz de fazer esse tipo de conserto: Je ne sui pas a bricoleur! Por fim, descobri que o que ocorreu fora um pequeno ataque de ciúmes... Sim, sendo muito muito sincero comigo mesmo, conclui que se tratara de ciúmes de filho mais velho, pelo fato de minha mãe ter poupado o caçula. Que coisa tremendamente feia! ;-p
Para corroborar a reflexão, li, logo a seguir e ao acaso, uma passagem de um livro que diz o seguinte:

Haverá maiores tormentos que aqueles causados pela inveja e o ciúme? Para o invejoso e o ciumento não há repouso; estão perpetuamente em febre; o que eles não têm e o que os outros possuem lhes causam insônia; os sucessos dos seus rivais lhes dão vertigem; sua emulação não se exerce senão para eclipsar seus vizinhos, toda sua alegria está em excitar os insensatos como eles a cólera do ciúme de que estão possuídos. Pobres insensatos, com efeito, que não sonham que talvez amanhã lhes será preciso deixar todas essas futilidades cuja cobiça envenena sua vida! Não é a eles que se aplicam estas palavras: “Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados”, porque seus cuidados não são daqueles que têm compensação no céu. (do Evangelho segundo o Espiritismo, de Alan Kardec)

Evidentemente, Freud teria razão em trazer o Édipo em meu socorro, mas essa contribuição de Kardec, sem dúvida, não é menos importante, ao menos em minha modesta opinião. A verdade é que eu, que me considerava nada ciumento, descubro que tenho de fato muito a aprender! Oh, my Gosh!

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A Noite que Fica

Amanhã, teremos um acontecimento muito especial. O Belas Artes no seu endereço tradicional terá o seu último Noitão. Vamos todos celebrar o Cinema! Cinemão de Arte! Cinemão Independente! Cinemão Cult! Cinemão. ;-)

Vejam que programação bacana os meus amigos do Belas Artes prepararam. Vou reproduzir o release tal como eu o recebi da assessoria de imprensa da Pandora Filmes.

Eu estarei lá. Vamos todos? ;-)

BELAS ARTES
apresenta
Noitão
A Noite que Fica

Como já é de conhecimento público, o Belas Artes deixará o seu tradicional endereço, na famosa esquina da avenida Paulista com a rua da Consolação, mantendo a promessa de reabrir em outro lugar.

Com isso o Noitão, evento que teve a sua primeira edição em junho de 2004, chega à sua 80ª edição em tom de despedida temporária. Sim, pois tão logo o Belas Artes ganhe novas instalações, a maratona voltará para a alegria de milhares de cinéfilos e notívagos, que ao longo desse tempo assistiram a mais de 200 filmes na calada da noite.

E a programação preparada para fechar as cortinas tem gosto especial. Nesta sexta, 14 de janeiro, a partir das 23h50, serão exibidos cinco filmes que marcaram o Noitão ao longo desses anos de intensa atividade, incluindo um filme-surpresa. Seleção: Pepi, Luci, Bom y Otras Chicas Del Monton, de Pedro Almodóvar; Nikita, de Luc Besson; Cães de Aluguel, de Quentin Tarantino; A Festa Nunca Termina, de Michael Winterbottom. O filme-surpresa também é um cult.

Cada espectador poderá assistir a três filmes, é só escolher a sua seleção na hora de comprar o ingresso.

Entre as sessões do Noitão, todos os espectadores participam de sorteios de brindes e ao final da última sessão é oferecido um café da manhã para todos os "sobreviventes".

PEPI, LUCI, BOM Y OTRAS CHICAS DEL MONTON
Espanha, 1980, cor, 85 min., 14 anos.
Direção: Pedro Almodóvar
Elenco: Carmen Maura, Eva Siva e Julieta Serrano.

Uma jovem que vive sozinha em Madri dedica-se a uma pequena plantação de maconha na varanda de seu apartamento. Um dia um vizinho policial percebe algo errado e resolve ir até lá verificar a infração e acaba por violentar a moça que, inconformada, pede para que os seus amigos roqueiros preparem uma terrível vingança.

NIKITA
(Nikita)
França, 1990, cor, 98 min.
Direção: Luc Besson
Elenco: Anne Parillaud, Jean Reno e Jeanne Moreau.

A jovem Nikita é presa por assassinato e uso de drogas, porém o Estado decide utilizá-la como assassina profissional, devido a sua grande coragem e habilidade em empunhar armas.

CÃES DE ALUGUEL

(Reservoir Dogs)
EUA, 1992, cor, 100 min., 14 anos.
Direção: Quentin Tarantino
Elenco: Harvey Keitel, Tim Roth e Chris Penn.

Um bando, formado por seis elementos, planeja um roubo de diamantes, cada um deles usando um pseudônimo associado a uma cor. Porém, na hora H algo sai errado e todos eles mais um policial passam horas de tensão e desespero em meio a sessões de tortura, num galpão abandonado.

A FESTA NUNCA TERMINA
(24 Hour Party People)
Inglaterra, 2002, cor, 115 min., 14 anos.
Direção: Michael Winterbottom
Elenco: Steve Coogan, Shirley Henderson e Paddy Considine.

Inspirado pelo sucesso dos Sex Pistols, um grupo de amigos montam um selo musical que acaba contando com alguns dos principais grupos musicais em surgimento do momento, entre eles Joy Division e Happy Mondays.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

James Roper

No site desse jovem artista, que nasceu em 1982, na Inglaterra, ficamos sabendo apenas que ele vive e trabalha em Manchester. Já acerca de seu trabalho é possível notar que ele se desdobra em muitas frentes: pintura, desenho, grafismo, escultura, trabalho conceitual, trabalho para a televisão... não lhe falta criatividade.
Também ali somos informados que seus trabalhos foram expostos em mostras e galerias da Inglaterra, dos EUA, Espanha e Itália.

Achei particularmente impressionante esses dois projetos de escultura, abaixo, a que ele chamou, respectivamente, Devotion e Construct.

Imaginem o que deva ser, por exemplo, alguém fazer mais de 1.000 flores, utilizando a técnica do origami. Isso exige, no mínimo muita paciência e, de fato, uma verdadeira devoção: ao menos à própria expressão. ;-)

Já eu, eu quero ser cada vez mais devoto da paciência!
Foi por essa razão que eu não poderia deixar de trazer para cá essas imagens que, ao menos ao que me pareceu, aludem a essa virtude, a da paciência, além de remeterem à virtude de sermos, simultaneamente, devotos e construtores. O que, definitivamente, faz todo o sentido: só construímos algo que faça verdadeiro sentido quando somos devotadamente pacientes. ;-)

Enjoy this beauty!

Conheça ainda o site do rapaz, além do seu blog. Ah, ele também tem uma store. Você vai curtir!








segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Baby meeting \o/

Hoje quando entrei no transporte público as pessoas me olharam.Ok. Não foi um olhar de repreensão, mas tampouco de aprovação. Era aquele olhar indiferente que os adultos têm uns para com os outros.
Então, entrou um jovem pai, pela porta traseira (era um amigo bonachão do motorista) e animado, carregava no colo uma bebê muito linda e meiga. A verdade é que todos os bebês são assim, não é mesmo? É absolutamente instintivo, graças a Deus, gostarmos de bebês, ainda mais se não estiverem aborrecidos ou chorando, mas apenas tranquilos.
O pai sentou-se ao meu lado e eu distraído olhava para a frente. Então, ouvi ele dizer para a bebê:

- Está rindo para o moço? Está?

Olhei na direção dos dois e a bebê sorria para mim! E ainda sorriu mais, quando eu fiz cara de simpático: aquela cara que se mostra para os bebês.
Lembrei-me, então, que sempre foi assim: os bebês me adoram. Todo bebê quando me vê fica feliz e isso deixa-me siderado, ou seja, também feliz e quase que com a indelével impressão de que sou bom, de verdade! ;-)
A verdade é que eu acho que nascemos todos mais ou menos defeituosos, mas logo que nascemos isso não parece evidente, graças a Deus! E as crianças, na fragilidade característica dos infans, são essas criaturinhas que todos temos que cuidar e amar: aliás não podemos compreender quem faça mal a uma criança, ainda mais assim na tenra idade, como também praticamente ninguém consegue perdoar quem assim procede.
Do mesmo modo, há uma compreensão de que quando os bebês olham e sorriem para um adulto é porque vêem nele essa própria vocação para a bondade.
Eu quero assim acreditar: é tão intenso e tão comum esse meu contato feliz com os bebês!
É verdade que eu também fico um pouco constrangido: Por que o baby pode ver o que eu ainda não transpareço para qualquer um?
Quem dera eu pudesse ter a coragem de ser bondoso para com todos, de ver em todos a mesma carência de cuidados e de amor que tiveram quando bebês.

Afinal, de verdade, acredito que somos todos apenas crianças crescidas.

A imagem lá em cima é de um blog de uma ilustradora que faz mil enfeitinhos para quartos de bebês! Eu não resisti e trouxe esse para cá. Vale uma visita no Allsorts! de Jenny B. Harris.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

The Good Hearth

Ontem, boa parte das pessoas que moram nessa cidade de São Paulo iniciou um processo de luto. Foi anunciada a morte do cinema de rua mais importante da cidade: o Cine Belas Artes. Eu fui até o cinema manifestar minha solidariedade aos funcionários que, aliás, ficarão desempregados. Uma moça linda da bilheteria abraçou-me chorando. O público manifestou-se na rede durante todo o dia. Um abaixo-assinado corre pelo Facebook. E nada disso irá reverter o processo do poder do Capital que, como sói acontecer em Sampa, destrói coisas belas e constrói tão poucas, eu diria.
Na minha ida ao cinema moribundo, aproveitei para assistir um filme em cartaz. Como sempre, como sói ser a programação da casa, o filme era uma pérola do bom gosto e da sensibilidade que ainda habitam nos espíritos que fazem bom cinema mundo afora.
Tratava-se de um filme do chamado cinema independente (leia-se “nada a ver com Hollywood!”), O Bom Coração, do diretor Dagur Kári, que nasceu em Paris, de pais islandeses, e que vive na Dinamarca.
A primeira sensação agradável do filme, pelo menos para mim, se deu pelo impacto que nos causa sua excelente fotografia, cuja direção resultou em uma luz fria o tempo todo. Isso faz com que a locação do filme, que se passa em Nova York, não seja imediatamente reconhecida. Ou seja, que apenas se crie uma atmosfera, aquela tão somente que o roteiro precisa para situar seus personagens na grande metrópole. O que temos de início é um encontro que se dá em um momento de crise das figuras centrais da narrativa: um morador de rua, que tentara o suicídio, encontra-se em um hospital, na companhia de um rude Jacques, dono de um bar decadente e que teve um infarto. O excelente ator Paul Dano (o mesmo de A Pequena Miss Sunshine), no papel de Lucas, cria o sem-teto mais doce que podemos conceber: é a personagem-título do filme, afinal, ele, sim, é todo bom coração.
O filme nos revela, muito tranquila e singelamente, o que é isso afinal de se ser uma pessoa de bom coração: é aprender que mesmo não tendo o pulso firme que a vida o tempo todo exige e que, ainda que sintamos vontade de jogar a toalha, no ring da vida, podemos, ainda assim, com nossas atitudes de bondade e mesmo que elas beirem a insensatez (a bondade parece coisa insensata num mundo rude!), ainda assim, podemos salvar qualquer situação, até quando não sabemos que assim mesmo é que será!
O final, aliás, é surpreendente, inesperado, verdadeiro, transcendente!

O Belas Artes mesmo nos estertores de sua agonia é ele também um cinema bom coração (deixando essas lições de bom cinema em suas telas até o fim) e é por isso que seu público promete promover uma

Manifestação Pública Contra o Fechamento do Belas Artes
na esquina da Av. Consolação com a Av. Paulista,
no sábado: dia 15 de janeiro, às 20 horas.

Eu acho isso muito bom, que ao menos o capitalismo selvagem do proprietário do imóvel tenha que ouvir um barulhinho bom das pessoas dessa cidade quando também elas são pessoas de bom coração! ;-D

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Expectation

Olafur Eliasson é um dos maiores artistas contemporâneos. A primeira vez que eu vi um trabalho dele foi aqui na web e eu fiquei siderado! Só em imaginar como era possível aquele reflexo em espelhos superpostos...
No final do último ano, recebi uma mensagem, by e-mail, comunicando que esse ano teremos oportunidade de entrar em contato com suas instalações em duas grandes exposições que estão sendo preparadas no Sesc Pompeia e na Pinacoteca de São Paulo. Quase tive uma síncope. My Gosh! Eu posso ficar tranquilo, pois verei, na minha frente!, suas propostas mais do que inovadoras.
Ontem, o ano acabara de começar e eu só pensava em tais exposições! Não foi ainda anunciado quando e-xa-ta-men-te isso vai se dar: parece que há um certo suspense em jogo.
Procurando por essa informação preciosa, encontrei ontem um artigo de Ravi Somaya no The Telegraph que disse sobre o artista dinamarquês-islandês algo que é exatamente o que eu sinto em relação a esse artista, desde a primeira vez que vi essa imagem do seu trabalho:

Olafur Eliasson doesn't see things like you or I see things. He can tell you the precise distance at which two people on a street will recognise each other, or how our bodies are composed differently when we walk down a hill as opposed to along a pavement. His art - mainly installations featuring lights, smoke, mirrors and water - takes such insights, mixes them with elements of architecture, theatre and conjuring, and uses them against us.


[Olafur Eliasson não vê as coisas como você ou eu as vemos. Ele pode lhe dizer com precisão a distância na qual duas pessoas em uma rua irão reconhecer uma a outra, ou como nossos corpos se revelam, diferentemente, caso estejamos descendo um morro ou estejamos andando ao longo de uma calçada. Sua arte - principalmente instalações com luzes, fumaça, espelhos e água - tem tais percepções, ele as mistura com elementos da arquitetura, teatro e magia, e as usa diretamente em nossa direção.]

Por ora, desejei trazer para esse blog as imagens de vários dos seus trabalhos e que estão disponíveis lá no seu site, além do registro da monumental instalação do autor em Nova York e que ocorreu há cerca de 2 anos: The New York City Waterfalls.
Que sirvam de aperitivo para o que iremos ver por aqui, em Sampa. ;-)





segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Sobre a brevidade da vida

Quem frequentou esse blog no período das festas de fim de ano notou minha ausência, é que precisei dedicar-me ao ócio: um ócio construtivo, diga-se de passagem, em contato com a família, com os livros, dvds, músicas e amigos.
Hoje, primeiro dia de trabalho do novo ano, senti-me estranho. Trabalhei direitinho, of course. Mas havia no ar uma nota de estranhamento e que todos, bem ou mal, comungavam. Difícil até de explicar. Porém, um acontecimento feliz ocorreu, quando um colega de trabalho disse-me: Josafá, vale a pena ler os pockets da L&PM. E eu disse: Sim, eu já li vários. Ele, então, partilhou comigo a notícia do prazer que sentiu lendo, dessa coleção, a tradução de um tratado de Sêneca: Sobre a brevidade da vida. Ao sair do trabalho, passei em uma banca de jornais e comprei o livrinho.
O li enquanto voltava do trabalho, na viagem de trem, da qual, aliás, acabo de chegar.
E que primor de leitura!
Logo na capa há uma citação de Denis Diderot que dele dizia: "Este tratado é lindo: recomendo sua leitura a todos os homens." Achei isso tão peculiar. Por que Diderot podia dizer isso sobre uma obra clássica, e nós, muitas vezes, ficamos com pecha em dizer que determinado livro é lindo e que recomendamos a todos, assim simplesmente?
Diderot tem toda razão. O obra é daquelas que, após lermos, temos mesmo o desejo de que todos saibam o que vai naquelas linhas, por que são lições necessárias, e com palavras tão equilibradas, que é impossível um ser humano, alguém que assim possa ser chamado, não compreender a intensidade e profundidade do que encerram.
Algumas passagens são lapidares:

(...) A vida se divide em três períodos: aquilo que foi, o que é e o que será. O que fazemos é breve, o que faremos, dúbio, o que fizemos, certo. Na verdade, o destino perdeu o controle sobre o passado, ninguém pode querer recuperá-lo (...)
(...) Ninguém retoma de bom grado o que passou, exceto aquele cujas ações estão submetidas à sua própria consciência. O que cobiçou ambiciosamente, enganou perfidamente, venceu violentamente,  furtou desonestamente e prodigamente gastou deve temer a sua própria recordação. Esta é a parte sagrada da nossa vida, que ultrapassa todos os reveses humanos, que não pertence ao destino e que não pode ser atingida pela miséria, pelo medo, nem pelo ataque das doenças. Não se pode incomodá-la, nem tirá-la de quem a possui: a sua posse é perpétua e intrépida.. Cada dia só está presente por alguns momentos, mas todos os dias do passado a ti se apresentam quando assim ordenas; consentem que sejam detidos e inspecionados pelo teu juízo, algo que aos homens ocupados falta tempo para fazer.(...)
(...) 1. Dentre todos, somente são ociosos os que estão livres para a sabedoria, apenas estes vivem, pois não só controlam bem sua vida, como também lhe acrescentam a eternidade. Todos os anos que se passaram antes deles são somados aos seus. A não ser que sejamos muito ingratos, aqueles sábios fundadores das idéias consagradas nasceram para nós e nos prepararam para a vida. Pelos seus esforços, somos conduzidos das trevas para a luz, para as coisas mais belas. Não nos é proibido o acesso a nenhum século, somos recebidos em todos;. e se desejarmos, pela grandeza da alma, ultrapassar os pequenos limites da fraqueza humana, há um enorme espaço de tempo a ser percorrido. 2. Poderemos disputar com Sócrates, duvidar com Carnéades, encontrar a tranqüilidade com Epicuro, vencer a natureza do homem com os estóicos, ultrapassá-la com os cínicos. Uma vez que a natureza nos permite comungar com toda a eternidade, por que não nos afastarmos da estreita e pequena passagem do tempo e nos entregarmos com todo o nosso espírito ao que é ilimitado, eterno e dividido com os melhores? (...)
(...) 5. É lícito afirmar que se dedicam aos verdadeiros ofícios os que querem desfrutar, todos os dias, da intimidade de Zenão, Pitágoras, Demócrito, Aristóteles, Teofrasto e de outros mestres das boas artes. Nenhum deles faltará, nenhum mandará embora aquele que o procurar sem deixá-lo mais feliz e mais dedicado a ele; nenhum permitirá, a quem quer que seja, sair de mãos vazias, eles podem ser encontrados por qualquer mortal, seja durante o dia, seja à noite. (...)

E assim, aprendi, no primeiro dia útil do ano, o que sempre soubera: é melhor sempre estar em boa companhia e utilizar o tempo  dessa vida, tão breve!, sempre com o cuidado de conceber minha ação como um bem, a começar pelo bem que me permito fazer a mim mesmo. Portanto, não há motivos para desprezar a oportunidade de elevar o espírito: por exemplo, lendo Sêneca.