terça-feira, 5 de outubro de 2010

Que prazer ler On the Road!

Eu continuo na minha missão de leitor e que impus a mim mesmo. Ler todos os romances mais importantes da literatura universal, enquanto eu for vivo. Acho que será tarefa para uma vida inteira mesmo, ainda mais que nunca sabemos quando essa vida de agora termina. Assim sendo, eu só sabia que eu também precisaria ler On the Road - Pé na estrada, de Jack Kerouac. Uma amiga emprestou-me o livro, uma primeira edição da tradução brasileira publicada pela antiga editora brasiliense. Tal tradução é de Eduardo Bueno e Antonio Bivar: dois beatniks brasileiros. Aliás, concordo com o Bivar, acho que deve ter acontecido exatamente o que ele diz, em uma nota final da tradução: "Santo Kerouac do céu nos sorria aprovando a dupla perfeita para a tarefa.[da tradução] Peninha e eu: On the Roadies forever."

Eu sempre soube que o Kerouac é um escritor incrível, da geração beat etc. e tal... Mas, como é diferente quando a gente lê uma obra por conta própria e sem se preocupar com as referências críticas ou com a história “por trás” do romance ou do autor...
Simplesmente, porque desse modo, fico eu, sozinho, na companhia desse autor e da personagem que narra sua história e, portanto, observando essa louca aventura sem rumo e sem objetivo definido, e que é a vida dessa personagem. Tal personagem é alguém que sofre a condição humana e é feliz. É alguém que se permite experimentar o amor. É também alguém que não tem preconceitos, que está perdido, mas que se encontra consigo mesmo, o tempo todo, graças ao fato de que sente uma profunda admiração e compaixão por todas as pessoas que cruzam seu caminho. É, sobretudo, alguém solidário e, como vive essa solidariedade em verdade, permite-se também ser um filósofo.
Acho que nós outros, que vivemos nos nossos dias, não podemos mais ter a experiência riquíssima que tal personagem vive no romance, ela e alguns de seus companheiros, simplesmente porque estamos muito distantes do desprendimento necessário para isso. Mas resta-nos a alegria de ler esse registro histórico de toda uma geração, e de admirar o fato de que eles viveram, mais intensamente, do que todas as gerações anteriores e que também as posteriores poderiam viver.Como podem ver, estou tomado pelo livro! rsrsrs

Vejam lá se eu não tenho motivos para tanto, tão somente conhecendo esses excertos que selecionei durante a leitura para compartilhar com todos vocês:

Mas nesta época eles dançavam pelas ruas como piões frenéticos e eu me arrastava na mesma direção como tenho feito toda minha vida, sempre rastejando atrás de pessoas que me interessam, porque, para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo, aqueles que nunca bocejam e jamais dizem coisas comuns mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício explodindo como constelações em cujo centro fervilhante - pop - pode-se ver um brilho azul e intenso até todos "aaaaaaah!"...

Garotas e rapazes da América têm curtido momentos realmente tristes quando estão juntos; a artificialidade os força a se submeterem imediatamente ao sexo, sem os devidos diálogos preliminares. Nada de galanteios - mas sim um profundo diálogo de almas, pela vida que é sagrada e cada momento precioso...


A única coisa pela qual ansiamos em nossos dias de vida, e que nos faz gemer e suspirar e nos submetermos a todos os tipos de dóceis náuseas, é a lembrança de uma alegria perdida que provavelmente fora experimentada no útero e que somente poderá ser reproduzida (apesar de odiarmos admitir isso) na morte...


No Carro, enquanto dirigíamos de volta à sua velha casa, ele falou: “Algum dia a humanidade compreenderá que, na verdade, estamos em contato constante com os mortos e com o outro mundo, seja ele qual for; nesse exato instante, se tivéssemos força de vontade suficiente, poderíamos prever o que vai acontecer nos próximos cem anos e seríamos capazes de agir para evitar todas as espécies de catástrofes. Quando um homem morre, seu cérebro passa por uma mutação sobre a qual não sabemos nada agora mas que será bastante clara algum dia, se os cientistas se ligarem nisso. Só que por enquanto esses filhos da puta só estão interessados em descobrir como explodir o planeta...

2 comentários:

  1. Graciela:
    Tenho lá em casa, mas não li On the Road ainda. Acho que vou gostar...rsss

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  2. Graci, querida,
    Você vai gostar muito, sim!
    Aliás, cada qual a seu modo, nós dois somos
    muito beat. ;-D

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