Ontem, estive no Belas Artes, que promove toda segunda sexta-feira do mês o melhor evento de cinema na cidade. O Noitão Belas Artes. O público paga um ingresso e vê da meia-noite em diante, até três filmes. Dois deles são declarados na programação do Noitão e um é sempre um filme surpresa. O tema do Noitão de ontem foi "Revelações da Mostra". Quando cheguei ao cinema, meu amigo que é o programador do Noitão disse-me: Você já assistiu ao filme A Alegria de Emma? É de um diretor alemão chamado Sven Taddicken. Veja. Você vai gostar é um filme em que, no começo, as pessoas são feias e que no final se tornam lindas.
Eu interessei-me, de imediato, pareceu-me que, então, seria um filme que tratava de transformação.
E, sim, é disso mesmo que se trata.
O filme nos convida a refletir acerca das infinitas possibilidades que a vida apresenta quando estamos encurralados, postos diante de uma situação extrema.
Por exemplo, quando sabemos que é certo que vamos morrer. Na verdade, todos já sabemos disso, mas acontece que Max (Jürgen Vogel), o personagem principal do filme, fica sabendo que tem uma doença e, então, a morte está próxima.
Algo assim assusta, uma vez que nos faz entrar em desespero.
Nas circunstâncias do filme sua inconsequência faz com que ele entre na vida de Emma, uma moça que vive sozinha em uma fazenda, com seus animais.
Ela tem um vizinho citadino que é policial e apaixonado por ela e que representa a voz que também traz uma circunstância de situação limite: ela terá que perder a fazenda pois está assoberbada de dívidas.
Quando o personagem principal, literalmente, despenca no seu quintal com todo o dinheiro que roubou de um amigo. Inicialmente, Emma (Jördis Triebel) parece ser estrategista: salva o rapaz do acidente, acha o dinheiro e o esconde, põe fogo no carro...
Mas a vida é o tempo todo uma surpresa e somos nós que nos conduzimos por meio de nossas ações em meio a essas surpresas.
Não haverá dinheiro no mundo que devolva a vida! Nós somos feitos para amar! Então, um casal se faz, e a mulher pode ser forte porque ama, o homem pode ser frágil porque mortal. O amigo pode perdoar. O policial pode esperar.
O mais importante de tudo: morrer não é o fim, é uma continuidade que se entrelaça pelo lugar cativo no coração de quem cuidou e amou até o fim para sempre.
Quando o filme acabou, eu e todos na sala de cinema estávamos enlevados de emoção.
Desconfio que esse público era o público-alvo do filme: inteligente e sensível.
Eu, particularmente, senti que tinha entendido tudo e para para além da minha própria compreensão. Quando sai no saguão do cinema, falei para o meu amigo: Cinema de verdade é isso, e não podemos contar com o que não é um cinema assim: o de Alegria de Emma. Eu lamento tanto que mais pessoas não tenham visto!
Meu amigo disse que aquela era uma oportunidade rara para conhecer tal obra.
A primeira vez que ele foi apresentado no Brasil foi na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo , depois foi lançado nos cinemas, com apenas uma única cópia e que percorreu algumas poucas capitais brasileiras. Ele não foi lançado em DVD. Ou seja, é uma obra-prima e que quase não foi vista. ;-(
Eu desconfio que eu precisava ter visto, e isso se deu ontem como que por acaso, portanto, eu agradeço ao Belas Artes pela oportunidade. Eu agradeço aos meus amigos todos. Eu desejo que um dia vocês todos que lêem esse post possam saber do que eu estou falando. ;-)
Nenhum comentário:
Postar um comentário