Outro dia, Laurie Anderson se perguntava de onde veio a ideia de que você é um homem de bem se você trabalha. E também comentou que São Paulo e New York são muito semelhantes por propagarem essa mesma ideia... Eu lembro-me que compreendi e também admirei seu questionamento. Evidentemente, ser um “homem de bem”, nesse sentido clichê da expressão, é até mesmo lamentável. Faz pensar, por exemplo, que poderíamos estabelecer que um desempregado não seja, então, um homem de bem se ele não pode trabalhar? Ou que as pessoas de bem só o possam ser assim se forem esse horror que a palavra inglesa tão bem define: workaholics?
Por outro lado, a mesma Laurie disse que chegou a trabalhar em uma lanchonete do Mc Donald’s: porque queria experimentar ser alguém diferente. Todos nós podemos imaginar o que seja a experiência de alguém que trabalhe no Mc Donald’s, não é mesmo? Não podemos dizer que essa seria uma experiência fácil e, sim, eu conheci pessoas de bem e do bem que viveram essa mesma experiência, inclusive Laurie Anderson! ;-)
O trabalho pode não fazer homens de bem, mas as pessoas do bem, em geral, trabalham. E muito. O melhor que podemos fazer para o nosso bem e para o bem geral é justamente... trabalhar.
Trabalhar estando e sentindo-se bem, trabalhar com o bem, para o bem.
Hoje eu tive um dia de muito trabalho e como eu desejei que tudo se resolvesse bem, e, quando a tarefa foi considerada cumprida, eu me senti tão bem!
A verdade é que pode ser muito prazeroso você trabalhar e entregar-se à tarefa do trabalho de uma maneira que a representação total do que seja esse trabalho transcenda a própria tarefa.
Então, eu diria, que não precisamos ser artistas para nos realizarmos no trabalho, precisamos encontrar nesse trabalho, qualquer que seja ele, o sentido de uma existência que transcenda o próprio trabalho, esse pelo qual em seu feliz resultado é já parte dessa transcendência, e que, embora poucos possam supor, é a que permite que o nosso trabalho resulte como parte de uma felicidade que já poderia estar lá sempre e para o próprio bem, que é o bem de todos. Isso, aliás, é arte pura! ;-D
E, por falar nisso, a ilustração desse post faz parte de uma exposição que será aberta no próximo dia 23 de outubro, na Caixa Cultural da Praça da Sé, em São Paulo. Trata-se de um trabalho de xilogravura do artista Rubem Grilo (1985-2010). Quando eu visitar a exposição falarei dela por aqui. Eu adoro esse trabalho e esse artista!
Paula,
ResponderExcluirMuito obrigado! Volte sempre! ;-)