segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

João Carlos Martins, o maestro educador

Sábado último, eu conversava com um amigo. Ambos lamentávamos não podermos assistir ao show de Maria Bethânia, naquele final de semana em São Paulo. O que nos impedia? Dispor, a essa altura do mês, dos 90 a 200 reais que teriam que ser pagos.
Eu argumentava que não via problema nesse valor de ingresso exorbitante. (Embora lamentasse não dispor de tal grana nessa exata ocasião... rsrsrs) Afinal,e esse era o meu argumento na defesa do que a artista está cobrando, essa quantia é, mais ou menos, o que temos pago para ver estrelas internacionais. Assim sendo, por que Bethânia não poderia cobrar o mesmo valor?
O meu amigo considera isso tudo muito elitista mesmo. As pessoas que não têm grana não podem ter acesso ao tipo de trabalho de arte e cultura que Maria Bethânia desenvolve ou qualquer outro artista que tenha os ingressos para o seu espetáculo cobrados desse modo. Seu argumento foi mais forte que o meu e também tinha um exemplo para contrapor: foi quando ele contou-me acerca desse famoso maestro brasileiro, João Carlos Martins, cuja história de vida (bastante conhecida no mundo inteiro) é um assombro, assim como o seu próprio talento.
Pois bem, esse artista apresentou-se no local de trabalho desse meu amigo. Onde ele trabalha? Na Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (CASA). Trata-se de uma autarquia do Governo do Estado de São Paulo vinculada à Secretaria de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania. Sua função é executar as medidas socioeducativas aplicadas pelo Poder Judiciário aos adolescentes autores de atos infracionais com idade de 12 a 21 anos incompletos, conforme determina o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A Fundação CASA foi criada em substituição à antiga Fundação Estadual do Bem Estar do Menor (FEBEM).
Aqui no Brasil, em São Paulo, todos sabemos o horror que foi a FEBEM! Maltratados, os jovens ali reclusos fizeram rebeliões históricas. Os jovens da FEBEM, agora Fundação CASA, ali vivem parte de suas vidas, reclusos, e são bastante marginalizados pela sociedade. Assim sendo, não teriam acesso, por exemplo, à música clássica (objeto de trabalho do referido maestro) e, para muitos preconceituosos de plantão, não saberiam ou poderiam apreciar a música de um Bach, por exemplo.
No entanto, não foi isso o que aconteceu, muitíssimo pelo contrário. Assim que o maestro terminou sua apresentação gratuita aos garotos da Fundação CASA, o público de jovens privados da liberdade aplaudia de pé por mais de dez minutos, contava o meu amigo, emocionado. Foi uma das coisas mais lindas a que ele já assistiu, dentro da Fundação, como educador. Parabéns ao maestro por tudo, mas sobretudo por João Carlos Martins fazer exatamente isso: viajar por todo o Brasil, apresentando-se para todos os públicos e descobrindo e apoiando jovens talentos por meio de sua Fundação Bachiana! \o/\o/\o/

4 comentários:

  1. Viva o maestro! E a música!
    Quanto à Bethânia querida, duvido que "ela" cobre isso: se vc vir o lugar onde foi o concerto, vai entender que a exorbitância desse valor tem mais a ver com o circuitão-elite-só, como bem sabe seu amigo... Mesmo que eu tivesse o dinheiro, não sei se quereria um programa desses: ir a um show é mais do que ouvir quem vc escolheu ouvir, tem o lugar a que se deve chegar, os olhares dos que frequentam, as cadeiras apertadas umas nas outras, as luzes avisando que se deve bater palmas, as coerções todas dessas supertécnicas das ditas "casas de show" - aglumas simplesmente ridículas. Perdi o show da Betha maravilhosa, mas acho que ela há de fazer uma outra aparição mais com a cara dela. E a nossa. Aguarde!

    ResponderExcluir
  2. É isso aí Lu.
    Deus te ouça que possamos todos aplaudí-la em melhor circustância, porque Maria Bethânia está numa fase de trabalho e de desenvolvimento pessoal cada vez mais elaborada e superior (no melhor sentido da palavra). Ela é ascenção, é pura altura, é vital!

    ResponderExcluir
  3. Alessandra Heguedusch Faour Auad16 de dezembro de 2009 às 15:54

    Josafá,

    Meus olhos se encheram de lágrimas ao ler mais um belíssimo post. Pude imaginar daqui do meu cantinho a cena emocionante, todos aqueles adolescentes, talvez apreciando pela primeira vez o mestre de todos os maestros. Quem sabe dentre um desses garotos não possamos ter um futuro João Carlos Martins!!!

    Beijos,

    ResponderExcluir
  4. Alessandra,

    Acho vc o máximo! Super sensível, gente boa demais!
    beijos. ;-D

    ResponderExcluir