segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Um feriado e a felicidade possível

Hoje, no Brasil, é dia de Nossa Senhora Aparecida e também é o Dia das Crianças. O feriado se deve ao fato de essa representação de Nossa Senhora ser considerada a Padroeira do Brasil. Sempre gostei dessa representação, de sua história, do modo como a imagem da santa foi encontrada no leito de um rio por pobres pescadores. Sua raíz de representação é interiorana, ela é uma santa ligada ao universo dos nossos caipiras, no melhor sentido da palavra e com isso quero dizer o sentido que nos dão aquela gente boníssima que frequenta os palcos e auditórios de programas televisivos como o Viola Minha Viola, de Inezita Barroso e Sr. Brasil, de Rolando Boldrin. É o cabloco brasileiro que reza e faz seus pedidos à nossa Senhora, como nos diz a canção de Renato Teixeira:

É de sonho e de pó o destino de um só, feito eu perdido em pensamentos sobre o meu cavalo.
É de laço e de nó de gibeira o jiló dessa vida, comprida, a só.
Sou caipira pira pora nossa Senhora de Aparecida ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida.
O meu pai foi peão, minha mãe solidão, meus irmãos perderam-se na vida a custa de aventuras.
Descasei e joguei, investi, desisti. Se há sorte, eu nao sei, nunca vi.
Sou caipira pira pora nossa Senhora de Aparecida ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida.
Me disseram, porém, que eu viesse aqui prá pedir de romaria e prece paz dos desaventos. Como eu nao sei rezar, só queria mostrar meu olhar, meu olhar, meu olhar.
Sou caipira pira pora nossa Senhora de Aparecida ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida.

Conheci, no domingo retrasado, uma senhora negra que estava muito emocionada, porque ela e um grupo de mulheres também negras iriam conduzir a imagem de nossa senhora, negra, durante a celebração do seu dia, no santuário de Aparecida, e iriam cantar à capela quando chegassem ao altar. Eu entendo essa senhora. E a entendi ainda mais no último sábado, quando escrevia esse apontamento:

Susto com a felicidade possível.

A felicidade possível também assusta. É essa uma experiência próxima dos sustos daquelas outras, as que são consideradas experiências trágicas. No entanto, ela é sui generis. Afinal, o que essa felicidade específica nos ensina? Que a vida é uma experiência incrível mesmo, e o será tanto quanto o seu quinhão de dor e alegria.
Em geral, quando o tema é felicidade, ela assusta quando é gratuita. E isso, porque há o elemento da dúvida: era mesmo gratuita uma felicidade assim como se apresentava? Não. Parece que você fez por onde. Ou seja, você desejou (mesmo sem saber ao certo o que seria) isso, assim mesmo, como agora se apresenta. E ela é para ser vivida por você. A sua felicidade, a própria.
É tão somente um momento, sem dúvida. Mas porque não seria substancial no tempo e no espaço? Isso dependerá tão somente de novos processos e da sua elaboração e que ocorrerá a partir da construção da sua própria experiência, naquilo em que ela pode ser considerada totalizante.

2 comentários:

  1. Derramei sobre nós, Mãe ditosa, essa negritude forte e potente, que aos brasileiros salva! Sempre é o que salva, não é? Amém.

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  2. Obrigado, Senhora, pela amiga romeira e companheira de caminhada! ♥

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