quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O romântico Álvares de Azevedo e l'argent



Hoje, ganhei uma edição das Obras Completas de Álvares de Azevedo. Trata-se daquela edição chiquíssima da Nova Aguilar, em capa dura e papel bíblia, e, ainda assim, são mais de 800 páginas: que incrível uma obra tão abundante e de tão grande valor, toda ela escrita por um jovem que morreu aos 21 anos!
Quando um livro é de poemas não resisto e faço a brincadeira de abrir em um ponto qualquer para ver qual poema é ofertado à minha sorte!
Achei curioso, abri de chofre na página 245 e o primeiro poema que avisto na tal página é intitulado DINHEIRO e traz uma epígrafe de Chateaubriand:
Oh! argent! Avec toi on est beau, jeune, adoré; on a considération, honneurs, qualités, vertus. Quand on n’a pint d’argent, on est dans la dépendance de toutes choses et de tout le monde.
Em seguida o poema:

Sem ele não há cova - quem enterra
Assim grátis, a Deo? O batizado
Também custa dinheiro. Quem namora
Sem pagar as pratinhas ao Mercúrio?
Demais, as Danaes também o adoram,
Quem imprime seus versos, quem passeia,
Quem sobe a Deputado, até Ministro,
Quem é mesmo Eleitor, embora sábio,
Embora gênio, talentosa fronte,
Alma Romana, se não tem dinheiro?
Fora a canalha de vazios bolsos!
O mundo é para todos... Certamente
Assim o disse Deus - mas esse texto
Explica-se melhor e doutro modo.
Houve um erro de imprensa no Evangelho:
O mundo é um festim, concordo nisso,
Mas não entra ninguém sem ter as louras.

Adorei o "Houve um erro de imprensa no Evangelho" !
Logo abaixo, está aquele outro de mesmo tema e bem mais conhecido dos compêndios escolares. Quem não se lembra?

MINHA DESGRAÇA
Minha desgraça, não, não é ser poeta,
Nem na terra de amor não ter um eco,
E meu anjo de Deus, o meu planeta
Tratar-me como trata-se um boneco...

Não é andar de cotovelos rotos,
Ter duro como pedra o travesseiro...
Eu sei... O mundo é um lodaçal perdido
Cujo sol (quem mo dera!) é o dinheiro...

Minha desgraça, ó candida donzela,
O que faz que o meu peito assim blasfema,
É ter para escrever todo um poema
E não ter um vintém para uma vela.

Essa continua sendo a desgraça [ou seria a salvação?] dos poetas e artistas verdadeiros e que mesmo sem l’argent têm para escrever todo um poema.
Salve Álvares de Azevedo! \o/

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