Quem acompanha esse blog sabe que no dia 18 de abril eu postei aqui, contando que estava lendo o livro da antropóloga francesa Michèle Petit, A arte de ler ou como resistir à adversidade. O livro tem cerca de 300 páginas, e eu ainda continuo lendo-o. Por que isso estaria se dando comigo? Nunca demorei tanto para ler um livro!
Vou confessar-lhes um possível motivo: é que esse livro está despertando em mim reminiscências de antigas experiências com a leitura. A verdade é que eu também utilizei a leitura, inconscientemente, ou seja, sem saber exatamente que o fazia, como esse bálsamo reparador, portanto, conheci esse mesmo poder reparador que a autora diz ser o da leitura de um livro, em determinadas circunstâncias. Ao menos é o que demonstram as experiências de leitura relatadas por ela, e que, por sua vez, as experimentam comunidades onde ocorre esse trabalho magnífico da difusão do hábito de leitura e que se dá por meio de tantos mediadores de leitura, mundo afora.
Eu não tive ajuda de intermediários, em meus momentos de crise, e, assim sendo, fui descobrindo sozinho... isso mesmo!
Provavelmente até hoje eu utilize, ao menos em parte, a leitura com essa finalidade: a de curar-me dos traumas que ocorrem sempre, em meio às dificuldades todas que a vida nos apresenta.
Por conta disso, desse efeito de provocar em mim tais reminiscências, ou seja, do presente livro despertar essa minha consciência, sou obrigado a parar, aqui e acolá, sua leitura. Assim, abandono o livro para retomá-lo dias depois e, desse modo, a coisa toda tem se arrastado...rsrsrs
Hoje, passei até vergonha no trem da CPTM. Eu lia da obra o trecho abaixo e comecei a chorar... de soluçar. Talvez você, particularmente, não chore, mas quem já experimentou isso mesmo, eu acho que pode chorar sim!
De maneira ampla, os dois pesquisadores [Annie Collowald e Erik Neveu] destacam a forte correlação entre acidentes biográficos e leitura de romances policiais, a “concomitância entre momentos de crise dos leitores e seu investimento na literatura policial”. “A literatura policial vem suprir suas expectativas de uma ordenação e de uma compreensão de sua história pessoal ancorada na história mais ampla do devir social”, eles escrevem. Em particular, a leitura dessas obras daria novamente coerência ao que viveram. “A esses leitores atormentados por uma insegurança social e cultural que eles conseguem superar mais ou menos bem, [o aspecto codificado e convencional dessas histórias policias] oferece a certeza da experiência de uma permanência: a permanência das histórias contadas e dos sentidos que suscitam e satisfazem.” Seu efeito seria “reconciliador e unificador”, e a apropriação de romances policiais poderia acabar por “recosturar vidas despedaçadas, produzir o sentimento ou a ilusão de uma continuidade existencial”. (reencontramos aqui a metáfora da costura, tantas vezes vista). Esse tipo de leitura permitiria também algum “jogo”, impediria a pessoa de se sentir pressionada pela vida tal como ela se impõe. Longe de ser uma simples distração, a leitura frenética de romances policiais envolveria, portanto, muito mais que apenas o prazer, entrando em ressonância com buscas profundas. Ao final do percurso Collovald e Neveu notam que “o acesso à realidade passa cada vez mais por uma representação ou narração.”
Assim sendo, só posso dizer: Muito obrigado Agatha Christie, Arthur Conan Doyle, Patricia Highsmith, P. D. James, Dashiell Hammet, Georges Simenon!
I love you!
José Oiticica Filho - Um que passa - 1953 |
Vou confessar-lhes um possível motivo: é que esse livro está despertando em mim reminiscências de antigas experiências com a leitura. A verdade é que eu também utilizei a leitura, inconscientemente, ou seja, sem saber exatamente que o fazia, como esse bálsamo reparador, portanto, conheci esse mesmo poder reparador que a autora diz ser o da leitura de um livro, em determinadas circunstâncias. Ao menos é o que demonstram as experiências de leitura relatadas por ela, e que, por sua vez, as experimentam comunidades onde ocorre esse trabalho magnífico da difusão do hábito de leitura e que se dá por meio de tantos mediadores de leitura, mundo afora.
Eu não tive ajuda de intermediários, em meus momentos de crise, e, assim sendo, fui descobrindo sozinho... isso mesmo!
Provavelmente até hoje eu utilize, ao menos em parte, a leitura com essa finalidade: a de curar-me dos traumas que ocorrem sempre, em meio às dificuldades todas que a vida nos apresenta.
Por conta disso, desse efeito de provocar em mim tais reminiscências, ou seja, do presente livro despertar essa minha consciência, sou obrigado a parar, aqui e acolá, sua leitura. Assim, abandono o livro para retomá-lo dias depois e, desse modo, a coisa toda tem se arrastado...rsrsrs
Hoje, passei até vergonha no trem da CPTM. Eu lia da obra o trecho abaixo e comecei a chorar... de soluçar. Talvez você, particularmente, não chore, mas quem já experimentou isso mesmo, eu acho que pode chorar sim!
De maneira ampla, os dois pesquisadores [Annie Collowald e Erik Neveu] destacam a forte correlação entre acidentes biográficos e leitura de romances policiais, a “concomitância entre momentos de crise dos leitores e seu investimento na literatura policial”. “A literatura policial vem suprir suas expectativas de uma ordenação e de uma compreensão de sua história pessoal ancorada na história mais ampla do devir social”, eles escrevem. Em particular, a leitura dessas obras daria novamente coerência ao que viveram. “A esses leitores atormentados por uma insegurança social e cultural que eles conseguem superar mais ou menos bem, [o aspecto codificado e convencional dessas histórias policias] oferece a certeza da experiência de uma permanência: a permanência das histórias contadas e dos sentidos que suscitam e satisfazem.” Seu efeito seria “reconciliador e unificador”, e a apropriação de romances policiais poderia acabar por “recosturar vidas despedaçadas, produzir o sentimento ou a ilusão de uma continuidade existencial”. (reencontramos aqui a metáfora da costura, tantas vezes vista). Esse tipo de leitura permitiria também algum “jogo”, impediria a pessoa de se sentir pressionada pela vida tal como ela se impõe. Longe de ser uma simples distração, a leitura frenética de romances policiais envolveria, portanto, muito mais que apenas o prazer, entrando em ressonância com buscas profundas. Ao final do percurso Collovald e Neveu notam que “o acesso à realidade passa cada vez mais por uma representação ou narração.”
Assim sendo, só posso dizer: Muito obrigado Agatha Christie, Arthur Conan Doyle, Patricia Highsmith, P. D. James, Dashiell Hammet, Georges Simenon!
I love you!
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