quarta-feira, 25 de maio de 2011

Morning & Autumn Sunlight

Morning, Autumn Sunlight, Eragny 1900
Camille Pissarro
via ArtSunLight
Hoje, enquanto o trem corria pelo seu trilho, eu, sentado à janela, sentia o sol da manhã, e pensava: a vida é descobrimento, ou melhor, é descoberta... de algo que vive muito escondido dentro dela mesma.
Quando muito se sofreu no passado (quem não sofreu no passado?), no momento presente, só se pode ter, a cada vez que se queira, ou não, um dentre esses dois sentimentos: o de ressentimento ou o de redenção.
Não há meio termo, me parece, pois sentindo que se possui, em um determinado momento, um deles, não se poderá vivenciar o outro.
Sim, o ressentimento e/ou a redenção são, cada qual, um sentimento que se vive i-so-la-da-men-te.
Vejamos uma maneira de dizer o mesmo de outro modo:
Quando a manhã de outono brilha, ensolarada, sua luz aquece nossa pele que, no entanto, na ausência dessa luz, poderia estar enregelada.
É quando, então, se sente a suavidade da luz e do calor de uma manhã outonal. Simples assim e, sim, esse é um dos modos em que se pode sentir a redenção!
Como eu dizia, a vida é descobrimento, ou melhor, é descoberta... de algo que vive muito escondido dentro dela mesma.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Sim, fica cada vez melhor!


Hoje, uma amiga minha do facebook, Nilza Bellini, compartilhou uma matéria excelente que ela leu no New York Times, e que foi publicada naquele jornal na última sexta-feira.
O mote da matéria é a morte de Tyler Clementi, um calouro da Universidade de Rutgers, que pulou da ponte George Washington no ano passado, quando descobriu que seu companheiro secretamente transmitira seu interlúdio romântico com outro homem, na internet, enfim, o fato de que seu suicídio captou a atenção mundial.
Pois bem, segundo a matéria, na esteira de sua morte, as histórias de jovens gays sendo intimidados a tirar suas próprias vidas proliferaram.
E, então, a matéria ressalta iniciativas excelentes de adultos para apoiarem a esses jovens cuja orientação sexual é motivo de muito sofrimento durante sua adolescência, ou seja, devido a não aceitação de sua condição por parte da sociedade em que vivem.
O NYT nos conta que a efusão da preocupação dos pais, educadores e daqueles que tinham sobrevivido ao bullying inspirou It Gets Better (“Fica cada vez melhor”), uma campanha liderada pelo colunista e escritor Dan Savage pela qual milhares de gays e lésbicas adultos compartilham suas histórias para assegurar a todos os adolescentes que a sociedade tem sim um lugar para eles.
A matéria chama a atenção para o fato de que a cultura popular, nos EUA, tem reforçado essa mensagem de aceitação. E nos dá, como exemplos, o famoso seriado Glee, que teve três histórias envolvendo adolescentes gays na última temporada, além do namoro, com cenas de beijo entre pessoas do mesmo sexo - sempre, aliás, raras na tela de televisão - dos personagens interpretados por Chris Colfer e Criss Darren. Lady Gaga também tem combatido a retórica antigay, a mesma que muitos jovens ouvem em suas igrejas e comunidades. É o caso da canção "Born This Way", da cantora, que tem aumentado sua base de fãs, já grande entre os adolescentes gays e lésbicas.
Também o NYT iniciou o Projeto Coming Out (expressão que corresponderia a nossa "Saindo do Armário") como um esforço para melhor compreender as realidades desta geração e de suas expectativas, e para dar aos adolescentes o direito a sua própria voz no debate instaurado.
Já o The Times falou com cerca de 100 adolescentes gays, lésbicas, bissexuais ou transgêneros de todas as partes do país - de áreas rurais para centros urbanos, a partir de ambientes propícios às hostilidades a esses jovens. O jornal contactou-os através de vários grupos de defesa, bem como através de sites de redes sociais como YouTube, Twitter e Facebook.
O Projeto Trevor, que oferece aconselhamento a jovens lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros em crise, entre outros serviços, postou um apelo para adolescentes, a fim de que eles contassem suas histórias para o The Times, resultando em cerca de 250 respostas.
Os jovens que participaram desse projeto estavam em diferentes fases de assumirem sua orientação sexual: alguns tinham saído do armário apenas para si mesmos ou apenas para pessoas em certas esferas de suas vidas, outros contaram somente para um amigo de confiança ou um familiar, mas havia também aqueles que tinham se assumido para a sua família ou comunidade e, em seguida, percebendo que não tinham o apoio de que precisavam, voltaram atrás na declaração – saindo do armário, novamente, somente alguns anos mais tarde. Alguns falaram em terem se odiado nesse processo de autoaceitação.

Penso que é importante divulgar também por aqui essas iniciativas, embora aconteçam na américa do norte, porque também no Brasil, graças a Deus, as questões ligadas ao movimento de aceitação da comunidade LGBT, estão cada vez mais na ordem do dia. E, of course, aqui os jovens também merecem o mesmo respeito que tais jovens mereceriam em qualquer lugar e, sim, acredito que o que na adolescência parece ser um pesadelo absoluto, na idade adulta pode se transformar nesse mote lindo da campanha liderada por Dan Savage, ou seja, a vida do homossexual não precisa ser esse pesadelo para sempre, a vida pode, aliás, ficar cada vez melhor para todos. A verdade é que isso depende muito de cada um de nós. Ela fica melhor, realmente, quando alimentamos esse desejo de irmos melhorando como gente e, portanto, não dependemos tanto assim, como parecia na adolescência, da aceitação absoluta dos outros!

Não podemos nos esquecer que os que não aceitam as diferenças entre as pessoas só comprovam que suas vidas não devem estar melhor do que a daqueles que julgam errados, pois eles também não se aceitam, uma vez que não entendem que vivemos todos no mesmíssimo planeta cuja lei principal é a da pluralidade!

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A banda mais bonita da cidade

Ontem, aconteceu uma coisa muito linda. Eu conheci o trabalho de uma banda de Curitiba. Eu acho que faz tempo que não vemos no Brasil, uma banda delicada e interessada em ser original sendo exatamente o que cada um dos seus integrantes pode ser, ou seja, sendo mesmo o que se é, simplesmente assim.

No caso, sendo gente boa, muito boa!

A banda surgiu em 2009, quando a vocalista, Uyara Torrente, já estava trabalhando como atriz, na capital paranaense. Ela foi de Paranavaí para Curitiba, em 2005, para fazer Faculdade de Artes Cênicas. Além da vocalista, temos Diego Plaça no baixo e, na guitarra, Rodrigo Lemos, as baquetas estão no comando de Luis Boursheidt e Vinícius Nisi é quem dedilha os teclados. Desde a formação, eles têm participado da cena curitibana com intensidade, já fizeram abertura de um Festival de Teatro na PUC local, por exemplo. Achei que é uma gente que canta, mas que tem cara de gente de teatro. Possível influência da atriz/vocalista. Bem, todo mundo sabe a força que possui a cena teatral curitibana! Esse tipo de vib pode contaminar, no bom sentido, outras cenas, como a da música. Desconfio que é o que está acontecendo aqui! ;-)

O nome da banda é o máximo: A banda mais bonita da cidade. Eles contam que não sabiam que nome dar ao grupo e, então, um dos integrantes, mandou um e-mail dizendo: que tal A banda mais bonita da cidade? Isso ocorreu, nos contam, porque ele estava lendo, de Charles Bukowski, o conto A mulher mais linda da cidade e a ideia veio daí.

Eles cantam as composições de compositores curitibanos, umas pessoas incríveis das quais, nos dizem, vivem cercados. São, entre outros: Luiz Felipe Leprevost, Thiago Chaves, Rodrigo Lemos (namorado da cantora e também o baterista), Léo Fressato. Esse último é o compositor da linda canção intitulada Oração, e que foi a coqueluche de ontem no meu mural do facebook  e também a primeira canção que eu ouvi da banda. Ouvi dezenas de vezes, sem me cansar.

Preferem dar vazão a essa produção local, uma vez que cada um desses compositores tem características próprias e, além disso, eles acham muito melhor aproveitar o que está acontecendo ali, pertinho deles. Nós, do resto do Brasil, aqui de Sampa, por exemplo, agradecemos. Afinal, chega dessa mesmice do cenário musical do eixo Rio-São Paulo, please!

Eu fiquei sabendo de boa parte do que aqui divulgo ao ouvir uma entrevista que eles deram para o blogueiro do blog defenestrando. Ouça, tanto o blogueiro quanto os artistas são muito simpáticos conversando: o clima do programa está uma delícia!

Ontem, quando eu compartilhei a música no facebook, ninguém se manifestou, inicialmente, ou seja, o horário talvez não fosse o mais adequado e a galera nem ouviu. Foi bom, por que então eu pude chamar a atenção de todas essas pessoas, "recompartilhando"... rsrsrs Eu disse assim mesmo por lá: Atenção pessoas! Eu compartilhei esse vídeo algumas horas atrás e, atenção!, era para muita gente curtir e elogiar, por que essa não é apenas a banda mais bonita da cidade e a banda mais bonita do mundo! ok? rsrsrsrs

Veja lá você também, que me acompanha nesse blog, o porquê dessa minha empolgação.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Weekend on facebook

Esse fim de semana, percebi por uma série de circunstâncias fortuitas, algo que eu já vinha intuindo.
As redes sociais, um fenômeno relativamente recente e que tem comungado vários de nós em um mesmo espaço virtual, são, dentre tantas outras coisas, uma experiência muito rica de filtragem para chegar até nós aquilo que, de certo modo, já estávamos propensos a receber.
Afinal, como tal rede em torno de você se forma? Por aqueles inúmeros amigos, alguns que você já conhecia no trabalho, na escola ou do seu passado (quantos reencontros essas redes sociais propiciam!), e ainda há outros, aqueles que você foi conhecendo por ali mesmo, provenientes das outras redes de amigos e conhecidos e que vão chegando, em geral, também por pura afinidade: um vídeo que você e a tal pessoa curtiram juntos acolá, um comentário feliz e que também foi curtido, por aqui, por ambos etc.
Pois bem, todos esses amigos vão formando uma rede, por vezes, de muita simbiose, é verdade, por outras, no entanto, de muita coisa positiva é que também é trocada. É isso tudo o que vai garantindo aquele conjunto de aprendizado pelo exercício de fruição da convivência possível, portanto, mesmo entre aqueles que elaboram ideias muito distintas das suas e, claro, também entre aqueles com os quais as afinidades são eletivas e, então, ah, nos sentimos, ali, simplesmente acolhidos!

Vou apenas lhes propor dois exemplos de coisas bacanas e que foram partilhadas na minha página inicial do facebook nesse último fim de semana. Fiquei tão siderado com isso que quero aqui, nesse blog querido, registrá-las, partilhar uma vez mais!

Uma amiga postou uma imagem do casal Barbapapa, no sábado. O Barbapapa é todo cor de rosa e a Barbamama é negra com uma coroa de flores na cabeça. Isso foi o suficiente para me remeter à década de 70, quando ainda criança eu assistia a essa animação francesa, na versão da televisão brasileira. Essa família de personagens foi criada em Paris pela arquiteta francesa Annete Tison e pelo professor americano Talus Taylor, no início dos anos 1970.

Foi um momento sumamente idílico recordar essa experiência da infância. As crianças da Família Barbapapa, cada qual tem características e interesses próprios: Barbalala gosta de música, Barbacuca de livros, e assim por diante. Embora sejam todos muito diferentes todos estão na mesma família e se moldam, literalmente, com o interesse de ajudar em cada situação de trabalho comum, em cada circunstância vivida nos diferentes episódios da série.

Já no domingo, tarde da noite, eu estava aborrecido por que tinha perdido um arquivo, que não fora gravado, de um trabalho que eu fazia no word e, assim sendo, teria que recomeçar a escrever, uma vez que perdera pelo menos duas páginas... de um trabalho seríssimo! rsrsrs
Então, um outro amigo do blog nada pessoal compartilhou lá pelo facebook um link que nos levava ao site soundcloud, onde encontramos todas as músicas que uma banda novíssima, chamada Me and the Plant, ali disponibilizou. O vocalista é um brasileiro que canta, em inglês, composições bastantes serenas, agradáveis mesmo de se ouvir. Ele, aliás, possui uma voz que me lembrou a de Jens Lekman. E graças a esse som pude ficar trabalhando até 1 hora da manhã, sem stress!

Me and the Plant na verdade é um projeto muito especial de Vitor Palatano. Para vocês terem uma ideia, ainda há pouquíssima informação na net about him. Eu encontrei, por exemplo, essa postagem, na qual achei bárbara a descrição de uma das soirées promovidas pelo rapaz!

Então, não seja tolo(a) e ouça AQUI esse som de bom tom.

Alguém aí ainda duvida de que vivemos as experiências nessa vida, também de acordo com a sintonia que nos proporcionam as companhias, essas mesmas com as quais estamos misteriosa e profundamente interligados, conectados, em rede?

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Descoberta: Romance Policial pode ser cura para o mal interior


José Oiticica Filho - Um que passa - 1953
 Quem acompanha esse blog sabe que no dia 18 de abril eu postei aqui, contando que estava lendo o livro da antropóloga francesa Michèle Petit, A arte de ler ou como resistir à adversidade. O livro tem cerca de 300 páginas, e eu ainda continuo lendo-o. Por que isso estaria se dando comigo? Nunca demorei tanto para ler um livro!
Vou confessar-lhes um possível motivo: é que esse livro está despertando em mim reminiscências de antigas experiências com a leitura.  A verdade é que eu também utilizei a leitura, inconscientemente, ou seja, sem saber exatamente que o fazia, como esse bálsamo reparador, portanto, conheci esse mesmo poder reparador que a autora diz ser o da leitura de um livro, em determinadas circunstâncias. Ao menos é o que demonstram as experiências de leitura relatadas por ela, e que, por sua vez, as experimentam comunidades onde ocorre esse trabalho magnífico da difusão do hábito de leitura e que se dá por meio de tantos mediadores de leitura, mundo afora.
Eu não tive ajuda de intermediários, em meus momentos de crise, e, assim sendo, fui descobrindo sozinho... isso mesmo!
Provavelmente até hoje eu utilize, ao menos em parte, a leitura com essa finalidade: a de curar-me dos traumas que ocorrem sempre, em meio às dificuldades todas que a vida nos apresenta.
Por conta disso, desse efeito de provocar em mim tais reminiscências, ou seja, do presente livro despertar essa minha consciência, sou obrigado a parar, aqui e acolá, sua leitura. Assim, abandono o livro para retomá-lo dias depois e, desse modo, a coisa toda tem se arrastado...rsrsrs
Hoje, passei até vergonha no trem da CPTM. Eu lia da obra o trecho abaixo e comecei a chorar... de soluçar. Talvez você, particularmente, não chore, mas quem já experimentou isso mesmo, eu acho que pode chorar sim!
De maneira ampla, os dois pesquisadores [Annie Collowald e Erik Neveu] destacam a forte correlação entre acidentes biográficos e leitura de romances policiais, a “concomitância entre momentos de crise dos leitores e seu investimento na literatura policial”. “A literatura policial vem suprir suas expectativas de uma ordenação e de uma compreensão de sua história pessoal ancorada na história mais ampla do devir social”, eles escrevem. Em particular, a leitura dessas obras daria novamente coerência ao que viveram. “A esses leitores atormentados por uma insegurança social e cultural que eles conseguem superar mais ou menos bem, [o aspecto codificado e convencional dessas histórias policias] oferece a certeza da experiência de uma permanência: a permanência das histórias contadas e dos sentidos que suscitam e satisfazem.” Seu efeito seria “reconciliador e unificador”, e a apropriação de romances policiais poderia acabar por “recosturar vidas despedaçadas, produzir o sentimento ou a ilusão de uma continuidade existencial”. (reencontramos aqui a metáfora da costura, tantas vezes vista). Esse tipo de leitura permitiria também algum “jogo”, impediria a pessoa de se sentir pressionada pela vida tal como ela se impõe. Longe de ser uma simples distração, a leitura frenética de romances policiais envolveria, portanto, muito mais que apenas o prazer, entrando em ressonância com buscas profundas. Ao final do percurso Collovald e Neveu notam que “o acesso à realidade passa cada vez mais por uma representação ou narração.”

Assim sendo, só posso dizer: Muito obrigado Agatha Christie, Arthur Conan Doyle, Patricia Highsmith, P. D. James, Dashiell Hammet, Georges Simenon!

I love you!

terça-feira, 10 de maio de 2011

Katherine Mansfield e o bullying

Eu estou fazendo a revisão de um TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) na área de Pedagogia cujo tema é o bullying. Estou aprendendo muitas coisas interessantes, dentre elas a compreensão do que caracteriza o bullying, ou seja: atitudes agressivas de todas as formas, praticadas intencional e repetidamente, que ocorrem sem motivação evidente, que são adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e são executadas dentro de uma relação desigual de poder. Assim sendo, os atos repetidos entre iguais (estudantes) e o desequilíbrio de poder são as características essenciais do bullying e que tornam possível a intimidação da vítima.

Penso que é muito bom que no início do século XXI tal preocupação venha mesmo cada vez mais à tona, e que as pessoas em geral se importem com isso, nomeando, debatendo, conversando, fazendo trabalhos, pesquisas, numa palavra, combatendo o que, sem dúvida, não deveria acontecer. Que não aconteça mais, então, e de preferência a partir de agora e sobretudo para o futuro, o qual será melhor e já nos aguarda, com certeza.

Há pessoas que acham que isso é bobagem, que se trata de mera “moda” ficar falando do “tal” bullying... Aliás, é desse modo que elas falam e pensam, e isso simplesmente porque, dizem, sempre foi assim, ou seja, quando eram crianças também sofreram bullying e nem por isso deixaram de ser adultos “normais”.

A essas pessoas (quando volta e meia as encontro) eu sempre digo: você já leu o conto The Doll’s House de Katherine Mansfield?

O conto é um primor e entre outras nuances apresenta-nos um caso de bullying sofrido por duas garotas, que são irmãs e filhas de uma serviçal de famílias abastadas, de uma determinada região (provavelmente na Nova Zelândia, onde a autora nasceu e passou sua infância), em que, na única escola local, estudam as crianças dessas mesmas famílias para as quais a mãe das garotinhas trabalha e também crianças de condição social inferior, como essas garotinhas protagonistas, as filhas da empregada.

Além de serem objeto de chacota das demais crianças ricas, que chegam a lhes perguntar se elas também serão “empregadas domésticas” quando crescerem – em uma manifestação evidente do preconceito de classe – ocorre ainda uma outra intimidação. Quando as crianças de uma daquelas famílias ganham uma Casa de Bonecas e comentam na escola, convidando seus iguais a irem visitá-las para brincarem com a novidade, deixam, é claro, as duas irmãs de fora.

Mais para perto do desfecho o pior acontece: quando, por um acaso, as duas garotinhas estão passando em frente à casa da dona da Doll’s House são chamadas pela garotinha rica para verem, finalmente, o brinquedo. O recreio dura pouquíssimo, a mãe das crianças ao chegar expulsa, com uma grosseria inominável, as pobres garotas.

Via Little Fish Toys
Nesse ponto, a arte da descrição do ocorrido, e que Mansfield nos apresenta, torna a coisa toda tão punjente que você, leitor, sente verdadeiramente qual é o verdadeiro horror do bullying e como é triste, tristíssimo, que crianças sejam suas vítimas, que qualquer um venha a ser vítima dessa agressão e que, principalmente, tal atitude agressiva possa começar em casa, sendo assim ensinada por adultos, pelos familiares, aqueles que deveriam educar para o bem comum!

Fico imaginando (e torcendo) para que abolindo o bullying da escola, isso mude também o interior das casas, e que elas possam ser como as “casas de bonecas”, no melhor sentido da palavra, ou seja, o da alegria que um brinquedo como esse representa ou ao menos representou a essas crianças todas do conto de Mansfield, que tanta alegria sentiram ao entrar em contato com essa casa.

Não vou contar o final da história, mas posso dizer que se trata de uma história de esperança, apesar de tudo! ;-D

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Art of Jéréme Crow


Self Portrait
Jéréme Crow nasceu em Cumbria, na Inglaterra, em 1974, mas nunca foi preso a um lugar. Viveu por um tempo na Europa e na Ásia. Atualmente, o condado de Kent, no sudeste da Inglaterra, é sua casa.
Ele nos diz que fez uma variedade de coisas para ganhar a vida e subsidiar sua atividade como artista. Entrou para o exército aos dezesseis anos, e, quando saiu de lá, foi para a escola de arte. Nesse meio tempo, passou cinco anos trabalhando como construtor de barcos. Mais recentemente, tem se dedicado à prática do desenho e tem feito um trabalho que ele chama de Talking Therapy, com crianças que apresentam dificuldades emocionais e comportamentais.
Lá no seu site, ele nos cita essa declaração de Fernando Botero: Um artista é atraído por certos tipos de forma, sem saber o porquê. Você adota uma posição de forma intuitiva, só mais tarde você tenta racionalizar ou mesmo justificá-la.
Nessa mesma direção, Jéréme Crow entende seu trabalho como uma celebração e exploração da beleza da cor e da forma humanas. Ele diz também se sentir atraído pela dança, por ela ser uma fonte de inspiração e, ainda, devido às infinitas composições criadas pela própria forma humana. Há beleza, energia e emoção aí e que são capturadas através do movimento. Para o artista a Arte é beleza. A Captura de um sentimento ou uma ideia, através da utilização de um tema, nessa tentativa de criar algo belo.
Eu gostei muito desse slide show, que ele postou no Youtube e que você também encontra no seu site, mostrando seu trabalho. Então, resolvi trazê-lo para cá. Nele, notamos mesmo a influência de Botero e esse desejo de capturar a beleza do movimento dessa série de casais que dançam. Enjoy it!





domingo, 8 de maio de 2011

Mother's Day


Esse dia tornou-se uma data da qual o comércio se apropriou, todos sabemos, e mesmo desde muito cedo. Embora tenha nascido de um desejo verdadeiro daquela americana que queria homenagear sua própria mãe falecida e, junto com ela, a todas as mães. Ela mesma, ainda em vida, chegou a assistir esse declínio do verdadeiro sentido da data e, dizem, muito se entristeceu, ou seja,  quando notou que a maioria das pessoas tinham perdido o verdadeiro sentido  da homenagem e da comemoração e que girava em torno do amor às mães, simplesmente.
Quantos, então, estão no dia de hoje levando as suas mães presentes apenas materiais, comprados em qualquer loja! Desde os mais pobres até os mais ricos, pois igualmente todos têm mães, graças a Deus! Mas o que estaremos oferecendo em termos de prova de amor e gratidão as nossas mães? Essa é a pergunta que, de verdade, cada um deveria se fazer.
Eu tenho uma mãe que é muito bondosa. E ela não é bondosa apenas para com os filhos, ela é bondosa para com todos, a ponto, por exemplo, de aceitar calada uma ofensa para não ofender, por sua vez, o seu interlocutor. Ou seja, ela jamais paga na mesma moeda.
Outra característica graciosa de minha mãe (apenas para ficar com duas, afinal filhos que amam suas mães poderiam falar bem delas um dia inteiro...rsrsrs) é que ela ama plantas, a natureza, flores. 
Minha mãe, nesse sentido, é meio riponga. rsrsrs
Eu espero poder dar a ela o mesmo que diz uma canção que eu conheço e que foi feita por Ery Lopes e João Lúcius para um amigo espiritual de uma casa de oração e socorro espiritual, para a qual eu e eles trabalhamos:

As flores que você plantou, dentro do meu coração
Eu as dupliquei e agora entrego em suas mãos.
Flores, mas flores em vida.
Enquanto eu estiver na terra as flores serão bem-vindas.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

As flores de metal não morrem

Em 2010, o artista Michael Kalish  apresentou uma exposição muito bem sucedida, na Califórnia, cujo tema era a Rosa.
A Rosa aparecia retratada de um modo totalmente inusitado, fosse uma rosa isolada no centro de um quadro ou mesmo um conjunto, em buquês, todas elas foram feitas com o metal das carrocerias de automóveis resgatados de ferros-velhos.
Eu achei um trabalho sui generis, porque ele desconstrói a utilidade do carro. Os carros que, em geral, são como cápsulas protetoras, mas também uma extensão de seus motoristas/proprietários, de repente, tornam-se matéria-prima para retratar um objeto singelo e delicado como a flor!
Esse trabalho entra na categoria Power Flower, que eu tanto curto!
Além disso, há um olhar para o cotidiano das pessoas e que, ao ver esse mesmo cotidiano, o transcende.
Tive a oportunidade de ler uma entrevista [infelizmente, não me lembro onde] em que Kalish conta que desde cedo conviveu com artistas, sua mãe entre eles. Ele também nos diz que sempre se interessou por arte. No entanto, como é daltônico, não podia ser pintor, daí sua pesquisa por novas matérias-primas com as quais trabalhar e, assim, revelar sua expressão, o que faz com que ele se concentre, sobretudo, no campo da escultura.
Lá no seu site, você irá encontrar outros trabalhos e que se comunicam diretamente com a Pop Art de um Warhol. Ele vem expondo em vários galerias dos EUA, mas também na Inglaterra, Suécia e, atualmente, está acontecendo uma exposição sua em Genebra, Suíça.

Além disso, um trabalho em que ele colaborou com a Oyler Wu Collaborative foi apresentado, recentemente, e se concentra em torno do personalidade de Muhammad Ali, ou seja, uma homenagem ao pugilista. Sem dúvida, uma instalação impactante por conta dos 1.300 sacos de boxe que, somente quando vistos de um ponto de vista único, formam uma imagem pixelizada do rosto de Muhammad Ali. Essa instalação você pode conferir no vídeo abaixo e sobre ela você obterá mais informações no site ReALIze.















terça-feira, 3 de maio de 2011

Humanity's Childhood

Alguém divulgou, lá no facebook, uma postagem sugerindo que os últimos acontecimentos, e que tiveram repercussão mundial, eram puro anacronismo, ou seja, coisas que pareciam acontecimentos de há 900 anos: o casamento de um Príncipe, a beatificação de um Papa e o assassinato de um "Mouro" (Osama Bin Laden). Eu comentei por lá, em tom de pilhéria, que, não, eles eram exatamente o contrário: absolutamente contemporâneos!
Não sei se conseguirei, com precisão, explicar-lhes por que assim me parece, afinal, sem dúvida, são todos acontecimentos que revelam mesmo seus aspectos "espantosos", os quais poderíamos destacar formulando as seguintes questões em relação a cada um deles:
  • A humanidade, ou ao menos o grupo de 2 bilhões de telespectadores, precisa, para alimentar o sonho do amor possível entre um casal, de toda a pompa e circunstância que somente uma coroa como a da Inglaterra pode propiciar ao ritual de um casamento?
  • Outros tantos seres humanos precisam, para justificar e explicar os milagres (e que de fato acontecem) responsabilizar por tais feitos milagrosos um agente determinado, personificando-os, assim, como ações de uma única entidade e atribuindo-os somente a essa entidade, ou seja,  alguém a quem chamam de Santo como, no caso, o Papa João Paulo II?
  • A humanidade, ao menos uma boa parcela dela, como a daqueles norte-americanos que foram comemorar a morte de Bin Laden nas ruas de New York, não consegue, ainda, perdoar a assassinos como, por exemplo, os terroristas?
Para todas essas perguntas, a resposta é SIM, como provou-nos o desenrolar das circunstâncias. Portanto, isso ainda é contemporâneo!

Nosso momento histórico, ao que tudo indica, sugere que cada um de nós precisa perscrutar o próprio coração para saber se ele é amoroso a ponto de perdoar, incondicionalmente [como sói ser o verdadeiro perdão], a ponto também de aceitar milagres como parte do Mistério Divino e tão somente, e, sobretudo, a ponto de viver o amor como a expressão da nobreza de sentimentos, e isso mesmo que um casal tenha de viver em um choupana e não em um castelo.

Portanto, as nossas necessidades são todas mesmo muito antigas e contemporaneamente urgentes!