segunda-feira, 4 de abril de 2011

About Silence and Angels

Anjo Esquecido - Paul Klee (1939)
Hoje, quando acordei, achei que eu estava novamente com os olhos afetados pelo surto de conjuntivite que acometeu a cidade de São Paulo já faz uns dois meses.

Corri para o mesmo hospital especializado no qual fora atendido anteriormente.

Lá chegando, vi uma multidão na sala de espera. Isso mesmo: inúmeras pessoas. Peguei a senha para o atendimento e abri meu Bliss, de Katherine Mansfield. As atendentes a toda hora chamavam grupos de pacientes que levavam para outras alas do hospital, a fim de, com isso, agilizarem um pouco mais o atendimento, necessariamente moroso com tanta gente!

Fui conduzido com um desses grupos para outro andar, e, depois de passar pela triagem, retornei ao primeiro andar, aguardei um tanto mais e, depois, uma senhora apareceu dizendo que iria chamar umas trinta pessoas, as quais seriam conduzidas novamente para um outro andar para serem, finalmente, chamadas, cada qual, por um dos médicos.

Ao chamar o nome de uma senhora, o qual verdadeiramente era “Salvadora”, ela chamou-lhe Salvador. A senhora a corrigiu e, imediatamente, ela se desculpou. Depois, ao chamar meu próprio nome, ela não o pronunciou da forma devida (as pessoas sempre se confundem em relação à pronúncia do meu nome, elas não o pronunciam como uma palavra oxítona, que é o usual e também correto, ao menos em português, mas o fazem como se fosse palavra paroxítona e fica estranho. rsrsrs).

Eu também a corrigi, mas apenas para me certificar de que era meu mesmo o nome chamado.

Ao nos conduzir para o andar, ela pediu-nos desculpas mais uma vez:

- Vocês me desculpem não falar o nome com correção, mas como podem ver o hospital está superlotado e estamos procurando providenciar o melhor atendimento... O problema é que nosso pronto-socorro atende em média 350 pacientes por dia, e, devido ao surto de conjuntivite na cidade, estamos atendendo mais de 1.500 pacientes por dia. Nossa sorte é que todos os médicos estão colaborando muito.

Essa fala me desabou. Fiquei a ponto de chorar.
Em primeiro lugar, por que ser bem tratado me emociona! Ser mal tratado não me leva às lágrimas não! No passado, inclusive, eu também tratava mal aquela pessoa que me tratasse com desconsideração. rsrsrs Hoje, não faço mais isso: parei de utilizar a ultrapassada lei do “olho por olho, dente por dente”. No máximo, procuro olhar para a tal pessoa como o olhar de quem está vendo alguém que precisa de ajuda e até me proponho a ajudá-la e desde que ela aceite, of course.

Agora, quando me tratam tão bem, fico emocionado! Por que a fala corretíssima dessa senhora nos leva a pensar em tanta coisa! Por exemplo, se apenas um surto de conjuntivite já mobilizava ali tanta gente, e exigia tanto, em um hospital bacana como aquele, o que não será a realidade de um surto de doença mais grave e em condições bem menos favoráveis!

Sim, como pode ser emocionante o trabalho dos profissionais de saúde!
Afinal, somos todos tão frágeis!
Eu tenho para mim, que um hospital é um lugar privilegiado para se contar o número de anjos que temos no presente e também onde é possível já imaginar o número daqueles anjos que ainda teremos no futuro! Penso que um hospital é um lugar de silêncio, também, por que é no silêncio que nascem os anjos.

6 comentários:

  1. Oi Josafá!
    Que lindo isso! E falou pela boca de um anjo! Que bonita essa sua maneira de ser se esforçando para ter um coração puro. As coisas elas e boas também me emocionam muito, mas as desagradáveis me tiram do chão e eu estou sempre querendo utilizar a lei de Talião, horrível! Na saúde vemos ainda muitos anjos, pessoas que têm amor a sua profissão e ao ser humano.
    Hoje postei aquele texto que havia lhe falado!

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  2. Josafá, que bonito!
    Gosto de tudo que você escreve, do mais simples ao mais complexo, pois percebo a sensibilidade que, ao escrever, você imprime nas suas palavras e também nas entrelinhas.

    Beijo grande!

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  3. Josafá, você usa de muita sensibilidade para escrever os seus pensamentos. Me encanto com tudo que você escreve. É de uma notória emoção.!Acho-o um grande escritor. Que grande sorte teve aquela de ter sido agraciada com o dom de ser sua mãe!!! Parabéns...!!!!:.

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  4. josafá, suas palavras não estão só nas entrelinhas, mas, nas " e s t r e l i n h a s "!!!. Amo muito seus escritos.!...

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  5. Gente linda, Valéria, Rita e Anônimo...
    Fiquei três dias sem ter tempo de vir ao meu blog e, claro, triste porque gosto de aqui estar. rsrsrs Que surpresa agradável e que prazer receber tantos comentários generosos. Muito obrigado! Mesmo! Fico comovido e todo feliz por tanto carinho.

    abs

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  6. Bom dia, Josafá. Lendo seu texto 10 anos depois, a tal doença mais grave infelizmente chegou e já levou 600 mil brasileiros. Triste realidade. O respeito e a cordialidade tão bem mencionados no seu texto ficaram por vezes de lado, dando lugar ao descaso e até desespero. Masos profissionais de saúde, ah, esses continuam firmes e fortes!

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