quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Happy New Year


- Ah, enfim, tudo poderá ser diferente!
- Deus te ouça! Eu é que não quero repetir, repetir, repetir...
- O que é preciso fazer para não correr esse risco?
- Reinventar-se, respeitar-se mais, provavelmente é isso o que deve ser feito.
- Já reparou como só repetimos o mal feito?
- É que o bem feito tem sempre um novo efeito, inusitado que ele é no mundo que compartilhamos.

- Como você avalia o ano que passou?
- Como aquele que me permitiu inovar!
- Mesmo? Em que você inovou?
- A começar por ter aceitado certos limites essenciais e que, ao que tudo indica, todos devemos aceitar.
- E que nem são limites, não é mesmo?
- Sim, eu diria que são efeitos de uma paixão absoluta e ainda possível.
- Amor verdadeiro.
- Sim, ou seja, aquele que pode vir a ser incondicional e mesmo ilimitado.
- Por que nele não cabem o medo e a culpa?
- Sim, bem como não caberia um desregramento descabido, uma vez que tal desregramento resvalaria no que poderíamos chamar de o inaudito aterrorizante.
- Entendo. Afinal, o dito do amor só pode ser bendito, graças a Deus!
- Que seu novo ano seja esse trilhar cauteloso e por um caminho cada vez menos pedregoso.
- Amém. Para nós todos!

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Ser Livre é da Natureza



People, é tão bom ter uma network bacana no facebook!
Eu estou muito feliz com isso mesmo. Sabem por quê? Por exemplo, ficamos sabendo na hora certa o que interessa saber. Vejam o meu caso. Recentemente, adicionei uma artista/ilustradora chamada Lucia Brandão e, então, passei a receber suas postagens no meu feed. Hoje, Lucia postou uma notícia divulgada pela ANDA - Agência de Notícias de Direitos Animais. Uma boa notícia.

Está acontecendo, desde o dia 6 de dezembro e ficará aberta até o dia 12 de fevereiro de 2012, a exposição Passarinho na gaiola não canta, lamenta. Importante: a curadoria da exposição é de Lucia Brandão, que além de ilustradora é uma ativista ambiental e idealizou tal projeto em parceria com a ANDA. Eles contaram com o apoio entusiasmado de mais de 64 artistas do Brasil e de outros países como Itália, Portugal e Holanda.


Eu faço questão de divulgar por aqui e de ir prestigiar esse trabalho, porque tenho horror a passarinho na gaiola. E isso desde muito cedo na minha vida. Eu era pequenino e quando eu via uma cena tristíssima como essa (gaiolas com passarinhos dentro), desde então, eu questionava: Por que esse passarinho está preso? Que crime ele cometeu!? 

Outro dia, aliás, fiz uma postagem aqui em que eu contava uma experiência, desta vez mais recente, quando encontrei um senhor carregando uma gaiola coberta por um tecido, dentro de um transporte coletivo. Naquele dia, cheguei a uma conclusão sobre essa atitude e que, penso, parece ser a mesmíssima dos idealizadores dessa exposição, ou seja, de que é preciso educar as pessoas. Na reportagem da ANDA é dito isso mesmo: "A proposta é despertar, por meio da arte, consciências para combater o confinamento e o comércio de pássaros e, também, educar as pessoas em relação ao triste e cruel hábito de aprisionar aves em gaiolas."

Sim, prender pássaros em gaiola é sintoma de profunda ignorância.

Eu também fiz questão de trazer algumas imagens para cá, porque são de total interesse estético e nosso blog merece tê-las e, claro, você deve se interessar em conhecer isso tudo ao vivo e em cores.
Mas, todas as imagens que fazem parte da exposição estão também nessa galeria do flickr.
Local da Exposição: Matilha Cultural
Endereço: Rua Rêgo Freitas, 542
Telefone: 11 3256-2636
Entrada franca.

by Mauricio Negro

by Cris Burger

by Ju Castelo

by Monica Fuchshuber

by Yara  Kono

by Cris Eich

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Ler Emily Dickinson é exercício de crescimento. É também como um transbordamento de primavera.

Ouvi alguém comentando que, em nossos dias, não há mais desculpa para não aprendermos o que quer que seja, e que isso se dá, sobretudo, devido à democratização da informação, via internet.
Acho mesmo que essa pessoa tem razão. A única coisa que nos impediria de aprender, nesse contexto, seria mesmo o não querer aprender.
Vamos combinar: inteligência todos nós temos. Por exemplo, nunca gostei de ouvir alguém chamando qualquer um de burro, ou seja, de ver alguém sendo considerado não inteligente por alguém que, embora inteligente, não se revelasse educado.
Todos somos inteligentes, contudo, é claro, podemos escolher não utilizar ou exercitar nossa inteligência.
O mais interessante da inteligência é que ela é algo que possuímos e que só tende a aumentar, quanto mais exercitamos o ser inteligente na tarefa de pesquisar, informar-se, aprender e elaborar o conhecimento adquirido em tais expedientes.
Afinal, só aprendo algo, tentando, naquela espécie de exercício comum nessas circunstâncias, o de tentativa e erro.
De repente, posso até surpreender-me acertando. E sentir-me mais feliz, por isso mesmo.
Pois, então, que o contentamento seja um transbordar desse sentimento de conquista e que se fez porque não houve espaço para a preguiça no desenvolvimento dessa tarefa.
Essa semana, por exemplo, é uma semana de poucas tarefas "oficiais" na minha vida. Assim, nessa que é última semana do ano, eu pude pesquisar na internet o tema "poesia inglesa para crianças" e encontrei esse poema de Emily Dickinson.
Não sei onde ele se encontra no contexto da sua obra, ou seja, em qual coletânea exatamente, em que período foi escrito, mas vou continuar pesquisando...
Assim sendo, publico, nesse blog querido, essa postagem que é um pouco uma brincadeira e um pouco uma coisa séria também.
É que se trata de um exercício de tradução desse poema.
Não sou tradutor, nunca estudei para valer esse ofício que é o do tradutor, então, relevem, please, qualquer gafe extrema. kkkk

E, claro, façam comentários, corrigindo-me, se possível.

Apenas um adendo, eu li o poema para uma amiga que me disse: Isso é para criança?
Eu respondi: Sim, ao menos para as crianças que liam ou ainda leem Emily Dickinson.


A Light Exists in Spring
   
Emily Dickinson

A Light exists in Spring
Not present on the Year
At any other period --
When March is scarcely here


A Color stands abroad
On Solitary Fields
That Science cannot overtake
But Human Nature feels.


It waits upon the Lawn,
It shows the furthest Tree
Upon the furthest Slope you know
It almost speaks to you.


Then as Horizons step
Or Noons report away
Without the Formula of sound
It passes and we stay --


A quality of loss
Affecting our Content
As Trade had suddenly encroached
Upon a Sacrament.



Existe na primavera uma luz

Existe na primavera uma luz
 Não presente no ano,
 Em nenhum outro período -
 Quando Março mal começou

Uma Cor detém-se no exterior,
Nos campos solitários.
 A ciência não pode alcançá-la,
Mas a natureza humana a sente.

Ela aguarda sob a relva,
Revela a árvore mais distante,
 Sob o mais distante declive conhecido
 E que por pouco fala contigo.

Então, como andam os Horizontes
Ou os meios-dias anunciam distantes,
Sem a Fórmula do som,
 Isso passa e nós permanecemos -

Uma virtude de desperdício,
 Afetando nosso contentamento.
 Como permuta que houvesse subitamente transbordado
Sob um Sacramento.
Emily Dickinsons' herbarium

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A vida também é um Etegami!

Querem saber o que eu conheci? O blog Dosankodebbie's Etegami Notebook! 
A proposta do blog é divulgar a beleza e a força dos etegamis.
Você não sabe o que é um etegami?
Etegami (E = "imagem"; Tegami = "carta /mensagem") são desenhos simples, acompanhados de poucas palavras. 
Eles são, geralmente, feitos em cartões postais, para que possam ser facilmente enviados aos amigos.
Um etegami prima pela precisão e objetividade da mensagem: rapidamente você entende o que se quer transmitir. Para confeccioná-lo há algumas ferramentas e materiais tradicionais que incluem: pincéis próprios para a escrita, a tinta sumi, que você encontra em blocos solúveis em água e que é de base mineral, seus pigmentos são chamados gansai, washi, além das bases, os papéis, e que apresentam diferentes graus para o que se chama "sangrar", que, aliás, é o que possibilita esse efeito muito bonito na pintura, de mancha. Um bom exemplo desse efeito, temos nesse coelhinho silencioso.
Os Etegamis frequentemente retratam elementos comuns da vida cotidiana, e, sobretudo, aqueles que fazem referência a uma determinada época.
Esse primeiro Etegami aí embaixo, por exemplo, foi feito ainda sob a influência daquele terremoto assustador que atingiu o Japão.
Eu trouxe esses lindos para cá, mas lá no blog tem muito mais! 

Por que o bambu se preocupa em brotar?
 Ele não sabe que esse mundo é
pleno de privação e desespero?
Como alguns de nós
Ele parece muito importante
Esse caracol


dilacerado
Até o silêncio fala

Brindando com maçãs
Quando viram a estrela, regozijaram-se com grande alegria. 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Internal dialogue

Estou bem.
Repita!
Estou bem!
Você não foi tomar café?
É engraçado ver alguém, mais jovem que a gente, tão educado.
Eu diria mais educado que a gente, isso sim!
É verdade, não é porque a pessoa é jovem que ela não teria condições de ser mais inteligente ou

educada que aqueles que estavam aqui antes.
Eu acho até bastante natural que os jovens e as crianças possam ser melhores do que nós fomos,

no tempo da nossa própria juventude, ou em relação ao que ainda somos, agora que não somos tão jovens.

De qualquer modo, é preciso ser compreensivo.
Ninguém tem culpa totalmente, ninguém é completamente inocente.
Você não é inocente, embora também não seja culpado.

Saber disso não lhe dá um pouco de desespero?
Você não se sente perturbado?
Não, apenas como quem está em contato com o invisível.

Enfim, não devemos nos desesperar.
Apenas saber que a espera será necessária
Mas ela não precisa ser estéril.
É. Procure o que fazer!
Pense sempre em vencer!

Então, estou em uma batalha?
Mais ou menos.
Como assim? Mais ou menos?
É que tudo que demanda vitória é batalha.

Vitória Prima!
Não se engane, muitas outras serão necessárias.
E ainda não temos condições de mensurar ou
de fazer uma estimativa, qualquer que seja.
Devido o tempo e o espaço parecerem sempre dilatados, mais além e além...
Ao menos do nosso ponto de vista: ainda tão estreito.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Happy Birthday! Alegria! \o/

De todos os presentes e mimos que hoje ganhei,
esse, especialmente, trouxe-me prazer e alegria!
Pão de mel do Mosteiro de São Bento:
recheado com geleia de damasco e amendôas
A alegria é sempre como uma resposta à vida, essa que sentimos como a que merecemos.

No entanto, nenhuma alegria vem, e-xa-ta-men-te, desacompanhada. Pois, ao que tudo indica, é essa vida de alegria e dor, aquela mesmo que merecemos!
It is endeed!
Desde criança, eu curto meus aniversários. E as pessoas sabem disso, pois cantam “Parabéns a você... e sempre me aplaudem nessa data, desde então.
Graças a Deus, em cada fase da jornada da vida, sempre tive inúmeros amigos, queridos, a dizerem: Parabéns! Felicidades!
Como precisamos ouvir isso! Todos precisamos!
Hoje, no facebook, ficou quase impossível responder, individualmente, às manifestações de apreço e afeto, e isso enche de contentamento um coração de mortal.
É porque nos sabemos mortais que amamos. E o amor que, no entanto, começa agora e urgentemente, ele é a verdadeira promessa da vida de além e além, graças!
Lembro-me que houve apenas um período de minha vida em que deixei de comemorar meu aniversário: quando eu estava em torno dos 30 anos (Sabem? Ali, quando nos aproximamos dos 28, 29, 30, 31 e 32 anos?)
Pois bem, nessa fase inicial do meio-dia da minha vida as coisas ficaram turvas. É que parecia que uma tempestade terrível se armava e que sugeria qualquer coisa como um Armagedon pessoal.
Tolice, tolice, tolice.
A verdade é que tudo passa e isso também passou.

Alegria! \o/

Bastou eu fazer as pazes com Deus e – mesmo que isso tenha se dado por caminhos muito misteriosos – o sol voltou a brilhar, logo depois que as nuvens se abriram. É claro que primeiro elas se deram as mãos e iniciaram um pranto, bastante unidas. Mas, ao invés de tempestade mortal, o que caia, então, era uma garoa fina e serena, como aquela que cobre os vivos, no final da tarde do feriado de finados.

Hoje, nesse dia de meu aniversário, ainda que ocorressem coisas terríveis: alguém querido morresse ou eu mesmo! Penso que, ainda assim, o meu aniversário seria sempre a alegria da natividade: é que não preciso mais arrumar desculpas para viver qualquer martírio sem alegria. Mesmo uma alegria pequenina...
Sim, assim mesmo! Sei que toda alegria aponta para aquele futuro feliz, em que viveremos em algum lugar de bem-aventurança, e mesmo que, agora, ainda a vejamos alhures, no tempo e no espaço! Tão somente uma promessa! Ainda assim, ela é a mesma Alegria da vida que merecemos!

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Entre Ritos e Amores

Para ter o livro
Nessa época do ano, particularmente nessas semanas que antecedem o meu aniversário, sempre observo um acúmulo de trabalho. Evidentemente, não posso e nem devo reclamar disso, pois precisamos mesmo trabalhar.
Assim sendo, para além do expediente no jornal, quando chego em casa, após comer algo, e dar um beijo em minha mãe, volto a sentar-me diante do computador, o que, aliás, eu já fizera o dia inteiro.
Quando digo que não posso reclamar é porque preciso dos frutos desse trabalho e também aprecio o tipo de elaboração que envolve a revisão de textos.
De que elaboração estou falando? Aquela da qual nos fala a Professora Doutora Luciana Salazar Salgado, atualmente professora dos laboratórios de linguística no Departamento de Letras da UFSCar:

(...) é importante notar que o profissional que trabalha sobre os textos autorais não opera como coautor; antes, produz um descentramento do texto-primeiro, que permite ao autor ser um outro desse outro de si que fez anotações pontuais como quem deixa rastros a serem seguidos. Nessas trilhas de leitura explicitadas, são feitas correções gramaticais, estabelecem-se padrões e seguem-se normas, mas esse trabalho vai muito além da ideia de corrigir, padronizar e normatizar.
Diante do material coletado, a questão que muitas vezes se põe é: o que se pretende, afinal, com esse trabalho sobre os textos? Provavelmente garantir que as versões que vão a público sejam consistentes, pois, mesmo que um texto destinado a publicação, como todo texto, por definição, não se feche nunca, sendo renovado a cada leitura, parece possível trabalhar para que certas leituras estejam mais autorizadas que outras, que certos caminhos textuais pareçam mais convidativos, que certas memórias tendam a se atualizar amarrando o texto a uma dada rede de dizeres, identificando-o.
(...)

Justamente hoje abri ao acaso esse livro da linguísta e analista do discurso, Ritos Genéticos Editoriais – Autoria e Textualização, e deparei-me com a passagem acima. Provavelmente, foi devido à experiência da noite passada que pude mais detidamente pensar no quanto essa autora está certa em afirmar que esses escribas (aos quais ela chama de enunciador e o seu coenunciador editorial) trabalham ambos com um ofício que nos confronta fortemente com a condição humana do viver.

Essa noite, por exemplo, avancei trabalhando madrugada adentro e isso devido, evidentemente, ao prazo apertado para a entrega do material. É preciso que também se diga: as pessoas só procuram o profissional de revisão na véspera da “linha morta”, que é como uma outra amiga minha se refere ao que os americanos chamam de dead line, ou seja, o fim do prazo.

De minha parte, busquei esboçar nessa postagem essa minha cenografia discursiva apenas para poder dizer, por fim, que trabalhei nessa ocasião com tanto prazer que, mesmo depois de dormir poucas horas, acordei ainda tão bem disposto que acho que isso só pode ser amor. Amor pelas pessoas, pelo que fazemos por elas e pelo que elas fazem por nós, pelo sentimento legítimo do dever cumprido, e, sim, sobretudo, pelo que há de espiritual em tudo isso: amor pelo amor de Deus!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Owls

Quando eu fui morar em Brasília, em meados de 1996, foi quando pela primeira vez eu vi uma coruja ao vivo e em cores.
Eu estava andando no Parque da Cidade (sim, é aquele mesmo da música Eduardo e Mônica, da Legião Urbana) e, de repente, deparei-me com uma coruja bem na minha frente: empoleirada em um galho seco de uma árvore baixa. Portanto, ela estava na altura da minha cabeça e, caladíssima, olhava-me.
Eu quase gritei, inicialmente, é que me assustei, mas, mais do que tudo, fiquei imensamente emocionado. Senti-me como se eu estivesse diante de um ser realmente sagrado, bastante misterioso e absolutamente lindo!
É mesmo curioso: quantas criaturas na terra podem ter o privilégio de reunírem tantas qualidades?
Poucas, ou melhor, todas as criaturas criadas por Deus.
A questão é que, diante de um coruja, você se rende à força dessa verdade!

Minha mãe querida, a Dona Durvalina, resolveu fazer pequenas corujas de pano, com olhos de lantejoulas. Essa aí ao lado é uma delas. Eu tenho oferecido aos amigos aqui da redação e é a maior diversão ficar escolhendo entre as inúmeras divertidas corujas! rsrsrs

Por conta disso, a semana foi toda ela uma revoada de corujas.
Inspirado no tema encontrei essas bonitas ilustrações de... corujas e que fiz questão de trazer para cá!
Enjoy it!

by Thalitha Shipman
by Jillian Phillips via Lilla Rogers

by Matte Stephens via Lilla Rogers

by Carolyn Gavin via ffffound!

by Jillian Phillips

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Camisa nova

Hoje vesti uma camisa nova. Ela é de uma cor que eu poderia chamar  lilás ou púrpura. O tecido possui listas muito finas estampadas e que são da mesma cor do fundo da camisa, apenas um tom mais claro.

Pois bem, saí de casa distraído e não notei que estava bonito.
No entanto, bastou eu sair na rua para que os transeuntes notassem isso mesmo.
Ao chegar no trabalho, todo mundo também se manifestou. Nesse momento, pareceu-me que ocorreu um certo embaraço no ambiente, é que as pessoas mais exageradas... exageraram. E eu que não sou de ficar embaraçado, fui, então, obrigado a ficar. Paciência.

Depois, chegou a hora do almoço e notei algo ainda mais doido: enquanto eu caminhava pelas ruas, pessoas que nunca me olhariam, olhavam-me, e alguns dos transeuntes até se insunuavam por meio desse olhar, ainda que discretamente.
Eu achei isso tudo um tanto patético, pois se eu era o mesmo que ando por ali todos os dias! kkkkk

Mas aceitei tudo. Afinal, não há motivo para desgosto quando o que se revela é apenas um bem querer acentuado pela gente, ainda que esse aí que todo mundo olhava não fosse lá eu mesmo, mas um modelo convencional de homem: de meia idade, um tanto elegante e talvez com um certo charme. E isso tudo apenas porque usava uma camisa nova, do tipo "social".

Querem saber um segredo? O que eu esperaria com mais alegria, no lugar de tudo isso que ocorreu, é que a maioria das pessoas estivesse sentindo apenas minha aura e, mais, que ela pudesse estar sugerindo para cada uma dessas pessoas: Por aqui está tudo bem, fique bem também!

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Poems for Life

Tenho aprendido algo precioso: o melhor descanso para um trabalho é tão somente mudar de atividade. Eu sou revisor, blogueiro e tenho escrito crítica de cinema. Nesse fim de semestre, a atividade de revisor fica mais acentuada em minha vida: é que as pessoas precisam entregar seus trabalhos de conclusão de curso. Bem, ficar muitas horas revisando um texto pode ser uma atividade cansativa, confesso, então, eu dou uma paradinha e resolvo fazer tortinhas de damasco ou ler poesia inglesa.

Recentemente, comprei uma coletânea de poemas organizada por Laura Barber e editada pela Penguin Books. A organizadora diz, no prefácio, que "Eu preciso de um poema" não é uma frase muito comum de se ouvir, mas bastou ela começar a organizar esses Poems for Life que  passou a ouvi-la constantemente. Isso mesmo, ela organizou um livro que reúne poemas que servirão para todas as ocasiões da vida: do nascimento, passando pelo casamento até os funerais de um pessoa.

Eu atrevi-me a "traduzir" dois deles que eu achei tão lindos e que, no livro, comparecem na seção que está aí nomeada antes de seus títulos. Claro que foram os mais fáceis eu não sou tão atrevido assim...rsrsrs Enjoy it!

Getting Older, Looking back (Ficando mais velho, Olhando para trás)

Vitae summa brevis spem nos vetat incohare longam

They are not long, the weeping and the laughter
Love and desire and hate:
I think they have no portion in us after
We pass the gate.

They are not long, the days of wine and roses:
Out of a misty dream.
Our path emerges for a while, then closes
within a dream.
 
(Ernest Dowson)

A brevidade da vida nos impede de começar um longa esperança

Eles não são permanentes, o choro e o riso
Amor e desejo e ódio:
Eu penso que eles não têm parte em nós logo que
Passamos o portão.

Eles não são permanentes, os dias de vinho e rosas:
para além de um sonho nebuloso.
O nosso caminho emerge por algum tempo, então, se fecha
dentro de um sonho.

Intimations of Mortality (Intimações da Mortalidade)

Late Fragment

And did you get what you wanted from this life, even so?
I did.
And what did you want?
To call myself beloved, to feel myself beloved on the earth .


(Raymond Carver)

Fragmento tardio

E você conseguiu o que queria da vida, ainda assim?
Consegui.
E o que você queria?
Chamar a mim mesmo amado, sentir-me amado na terra.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Livro, um romance de José Luís Peixoto


Achei essa capa muito boa,
esse carrinho de bebê
abandonado no meio do nada!
 Livro é o nome do livro que ora leio e ele é uma grata surpresa em muitos sentidos.
Primeiramente, é um presente e que recebi de uma pessoa que não conheço pessoalmente, mas por quem nutro muito, muito carinho. Trata-se da minha amiga Renata Viana, brasileira, radicada em Portugal. Ela é alguém com quem venho, talvez a mais de um ano, tendo contado pelo facebook. Ela e seu marido, Antonio Castro, são pessoas gentis, inteligentes, sensíveis e com as quais aprendi a compartilhar muita coisa boa: além das postagens desse blog, dicas de cinema e também reflexões e relatos dos acontecimentos de um cotidiano que aos poucos vai sendo registrado por lá, no facebook.
Pois bem, Renata Viana chegou a ver uma postagem no Blog Lado B, da jornalista Rita Alves, na qual minha mãe fala de suas bonequinhas de pano e, como Renata Viana se interessou pelo trabalho, eu enviei-lhe uma linda bonequinha, via Correios.
Viana, muito educadamente, retribuiu o presente enviando-me, por sua vez, esse romance de José Luís Peixoto e que se chama Livro. Ela contou-me que o comprou motivada pelo fato de conhecer seu autor e porque achava que tinha que ser o livro e, quando encontrou esse recém-lançamento do autor, e ainda mais por chamar-se Livro, achou que tudo estava a contento.
Pois, então, eu a agradeço imensamente, aqui, em público, pois pude travar contato com um autor português contemporâneo, que eu não conhecia e que comecei a ler imediatamente. Apesar disso, a leitura está sendo lenta, porque há qualquer coisa, na escrita de Peixoto, que tem me surpreendido: a sua Língua Portuguesa não é como a dos demais autores, seus conterrâneos, aqueles que eu já travei contato. Penso que ele não se assemelha nem mesmo ao José Saramago (de quem, aliás, o aproximam, normalmente). Peixoto também não tem aquela poética comum, por exemplo, em um Mia Couto (o qual, aliás, também conheci muito recentemente). Achei-o mais contido e simples (no bom sentido do ser simples!) do que todos esses.
A língua portuguesa que encontro em Peixoto é muito próxima da que estou acostumado a ter contato no meu cotidiano (brasileiro!), as palavras mais comuns na língua são as que servem perfeitamente para demonstrar a realidade das pessoas que ele está a retratar e toda a subjetividade que cada uma concentra e, sim, também para nos emocionar.
No primeiro capítulo, temos uma mãe a abandonar seu filhinho de seis anos, no centro da praça do povoado, ao lado de uma fonte. Achei ab-so-lu-ta-men-te comovente esse início do romance, onde ele resgata o sublime que pode haver no sentimento de abandono. Nesse capítulo, o narrador descreve tudo o que acontece a partir do exato momento em que a mãe deixa o menino sozinho com sua malinha na praça, o que, inicialmente, foi descrito simplesmente assim:

Os olhos da mãe ficaram parados nos do filho até ao instante em que o seu corpo se virou e se afastou, regressando por onde tinha acabado de chegar. O Ilídio estava a pensar em qualquer coisa, talvez nos pássaros que vinham enfiar-se nas folhas de hera que cobriam o topo do muro da Dona Milú, à sua frente, pássaros da primavera. Asas ou folhas. E não se esforçou por ouvir os passos da mãe a afastarem-se até serem apenas um resto de som. Só o instinto. Quando lhe pareceu que já tinha passado muito tempo, sem mexer os pés, com as mãos atrás das costas, inclinou o tronco para a frente para ver a mãe lá ao fundo, lá ao fundo, a afastar-se, era a sua mãe e, depois, ui, a desaparecer, a dobrar a esquina. O Ilídio voltou com o corpo à sua posição. Longe, no adro, os sinos da igreja deram as sete da tarde. Essa hora espalhou-se por toda a vila. Com seis anos, o Ilídio sabia bem que, no adro, o toque dos sinos interrompia as conversas e os pensamentos.


José Luís Peixoto
 Os capítulos não são numerados, apenas o que acontece, na presente edição, é o aparecimento da ilustração de uma malinha encimando cada novo capítulo, isso é um signo que dá conta do contexto da história narrada e que diz respeito à saga da emigração portuguesa para França. Portanto, a história se passa entre uma vila do interior de Portugal e Paris, a capital francesa. Haverá, então, encontros e despedidas e como sói acontecer em histórias de deslocamentos, também um elemento comum: a reunião das dimensões pertinentes ao enlevo do sonho e à crueza da realidade.

Também achei poeticamente singela essa descrição dessa atitude de uma personagem importante do povoado, a matriarca e idosa Dona Milú:

Adormecia cedo, em lençóis frescos, mas havia dores que lhe cresciam dentro do corpo. A Dona Milú duvidava que as parreiras sentissem dores nas articulações, mas resignava-se. Nas passeatas pelo jardim, avançava devagar, com a bengala firmada à frente. De manhã, quando ninguém estava a olhar, descalçava-se e ficava parada sobre a terra, como um arbusto. Essa era uma imagem inusitada, que ninguém via.

Meu Deus! Como é bela a imagem dessa idosa descalça na terra, como um arbusto, em intimidade indevassável!
Muito obrigado Renata. Como é bom ter amigos que nos proporcionam oportunidade de vivenciar emoções dessa natureza. Fica aqui minha sugestão a todos aqueles que pertencem à categoria "homens [mulheres] de boa vontade": façam amizade com desconhecidos, utilizem o facebook para isso mesmo, dêem livros de presente para esses novos amigos. E leiam tais livros! Simples assim! Enjoy it!

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Somos como as flores de Fong Qi Wei

Eu ainda espero poder cuidar de um jardim! Espero ter um jardim para eu cuidar. Quando eu era adolescente eu o fazia, cuidava de um jardim mas ele pertencia a um amigo e patrão e, às vezes, eu desempenhava minha tarefa com má vontade. Nesse tempo a coisa toda era também uma obrigação.

Agora, que não a tenho mais, sinto tanta falta! Claro, tenho lá em casa uns vasinhos com plantas, que minha mamãe cuida com todo o amor. É por isso que as plantinhas lá de casa são lindas, embora eu também acredite que minha mãe deve ter ajuda de uns anjinhos. Só pode ser isso! As plantas da minha mãe nesses vasos são lindas demais. Eu também tenho ao pé da minha janela um vaso enorme, em que plantei a Dama da Noite e agora tenho ainda outro vaso, que, todo feliz, tem nos presenteado, insistentemente, com seus Copos de Leite. Nem preciso dizer que ambos os vasos são absolutamente meus xodós.

Já, hoje, navegando na web, encontrei esse trabalho muito simples, singelo mesmo, quase uma brincadeira de criança e que, no entanto, tem esse resultado de encher os olhos! São as imagens da série Flores, suas formas, por seus componentes individuais, do fotógrafo de Singapura: Fong Qi Wei.  O interessante nesse trabalho é isso mesmo: a possibilidade de recriar a forma de cada flor, mas pela dispersão dos componentes individuais da mesma e que, portanto, se expandem no espaço da folha em branco.

Estou falando em flores e lembro-me que estamos na véspera do Dia de Finados. Assim sendo, amanhã, muitos levarão flores aos cemitérios para homenagear seus entes queridos desencarnados. Tais visitantes as depositarão nos túmulos em que jazem apenas os restos da matéria que revestia aqueles espíritos amigos.

Que seja mesmo assim, uma vez que sabemos que tal data, e que acontece todos os anos, encerra uma importante lição: a de que, sim, importa lembrar uma vez mais que nosso espírito permanece perene!
Então, que seja essa lembrança somada com uma outra: a da beleza espiritual.
Que conosco ocorra o mesmo que ocorre com essas flores de Fong Qi Wei. Nelas, a beleza de cada um dos seus componentes individuais, e que compõem o quadro maior de uma expansão, está a nos lembrar de algo que seria uma tradução do espírito da flor, ou seja, sua essência e que reside nessa forma recomposta.


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Nullus dies sine linea

Acaba de passar por aqui, na redação, um jornalista querido, amigo, e que é um erudito. Ele provavelmente iria rir de mim, caso eu lhe dissesse isso, que eu o considero um erudito. No entanto, é como de fato eu o considero, uma vez que do meu círculo de relações, trata-se da única pessoa que conheço pessoalmente e que pode traduzir, por exemplo, São João Crisóstomo, diretamente do Latim.
Assim sendo, acho que posso chamá-lo de erudito. :-)
Pois bem, ele me contou, en passant, que Beauchêne, fundador de uma importante editora francesa dizia: Nullus dies sine linea (Nenhum dia sem uma linha). “Linha” aqui está para texto, uma página de texto escrito ao menos, e, portanto, trata-se de um eufemismo. :-)
Que maravilha seria se levássemos o conselho do editor em conta, pois assim, estaríamos em exercício constante da escrita e se escrevêssemos, todos os dias, uma página, no final do ano teríamos um livro de 300 páginas!
A questão é que é preciso ter o que dizer, ou ao menos saber o que se pretende escrevendo. Não acho necessário que se tenha, necessariamente, um projeto consistente como foram os projetos todos dos grandes escritores e aos quais seremos, por isso mesmo, gratos leitores por toda a eternidade.
Penso que é muito importante ao menos escrever para si mesmo, em um primeiro momento, uma vez que há um Outro em nós que precisa ser conhecido. Afinal, não escrevemos uma linha sequer que não resulte em uma oportunidade de autoconhecimento.
Por exemplo, sempre que vivi crises sérias no meu relacionamento comigo mesmo, ou com amigos, ou com amantes (eu já tive amantes, que estranho! rsrsrs) ou apenas com pessoas da minha convivência, foi escrevendo a respeito que eu resolvi verdadeiros dilemas presentes nessas relações.
O que é a vida senão a busca de solução para algum dilema (algo constante em qualquer relação)?
O que chamo aqui de dilema é algo ainda desconhecido até que o vivenciemos na tal relação, ele se dá tão somente enquanto ainda não podemos aprender a amar como se deve, ou seja, do único modo possível: querendo bem e intensamente, a cada dia, quando, então, a solidariedade na convivência suplanta a desigualdade da disputa.
Estou apostando que isso só se dá pela convivência pacífica, ou seja, depois que todas as diferenças foram compreendidas como constituintes inevitáveis daquilo de que fazemos parte desde a Cosmogonia.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Era uma casa cheia de sons


Josafá Crisóstomo ouve no Banheiro
 Eu queria tanto ter escrito aqui antes about essa experiência. Mas só deu para escrever agora!
Há duas semanas fui visitar a instalação da artista Renata Roman, Memória da Casa – Instalação Sonora.

Trata-se de uma casa vazia. No entanto, ocupada por paisagens sonoras.

Ao chegarmos, a artista nos recebe como em sua casa, ela apenas nos faz este pedido: Enquanto estiverem em um dos cômodos mantenham as portas fechadas e apenas ouçam.

Trata-se de um exercício de educação do ouvido de fato. Quando entramos, por exemplo, na sala vazia, vindo de uma pequena caixa de som, instalada em uma simples tomada na parede, ouvimos o ecoar de sons característicos de uma sala habitada. Por exemplo, o som de um piano que toca ou um telefone...

Há uma sequência que podemos ouvir até ela se reiniciar, quando passamos para outro cômodo -  como em uma narrativa - e vamos percebendo tal sequência de sons como se ela ocorrera em uma casa habitada, cujo memorial, então, se descortina.

Aliás, esse foi o conceito de que partiu a artista: Em cada cômodo, narrativas sonoras específicas indicam a vida transcorrendo como outrora. Algo que um dia ali esteve, ali retorna. A realidade tenta se reconstruir através de seus cotidianos que remetem ao tempo em que o espaço foi ocupado.

Quando falei sobre essa experiência para uma amiga ela me perguntou: Mas a “memória” é a dessa casa, a qual a instalação ocupa? São os sons que ocorriam ali mesmo, quando ela era habitada?

Eu respondi que não é o caso, pois trata-se, na verdade, de uma memória arquetípica. A casa física apenas empresta o espaço, o abrigo, bem como essa sugestão dos nomes/espaços das partes de uma casa: sala, cozinha, quarto e banheiro... Afinal, toda casa possui essa toponímia.

O que o trabalho de Renata faz é preencher a casa com os possíveis sons comuns de serem encontrados em cada um desses espaços que a constituem, portanto, sons possíveis ali, o que estou chamando de sons arquetípicos, ou seja, para que se construa em nós a memória afetiva que temos de todos eles, afinal, eles ocorrem nos espaços que de um modo ou de outro já ocupamos em uma casa, seja na nossa própria vida, seja naquela que sonhamos.É essa paisagem sonora também onírica que se funde, portanto, com as sequências de narrativas sonoras dessa memória da casa de Renata Roman.

Por exemplo, quando entrei no quarto ouvi sons de uma intimidade muito reveladora da natureza humana, ouvi até uma canção de ninar... E, afinal, quem não tem essa memória afetiva de sons tão característicos do abrigo humano e, portanto, prenhes de significação?


Paula Cunha ouvindo
a memória da cozinha
 Assim, todos nós somos solicitados a recordar, nessa casa, que o abrigo humano abriga tesouros incalculáveis, os quais na fluidez dos dias se perdem... nas ondas do ar.

Obrigado Renata Roman por conter essa riqueza nessa casa, e que tão gentilmente você nos convidou a adentrar para nela nos reconhecer!

Quer experimentar essa sensação sem igual? Visite a instalação sonora Memória da Casa, nessa última semana do evento:
Sexta-feira (28/10), sábado (29/10) e domingo(30/10)
das 14h às 18h
Rua Imbó, 293 – Água Rasa – São Paulo- SP
Mais informações: http://www.amemoriadacasa.blogspot.com/


terça-feira, 18 de outubro de 2011

Ói, ói o trem.

Não sei se isso tem se dado porque os trens da cptm (companhia paulista de trens metropolitanos) de fato melhoraram, são novos e confortáveis e, portanto, viajar neles, ainda mais no horário em que eu os utilizo – em que há poucos passageiros e todos viajam sentados –, tem se revelado uma experiência propícia à divagação.

Hoje, enquanto viajava em um deles, eu olhava para a paisagem lá fora, os arrabaldes dessa cidade de São Paulo, querida, e pensava que a vida é esse constante deslocamento, sempre em frente, adiante no tempo e até mesmo no espaço: sempre!
Pois se nunca estamos parados e pa-re-ce-mos continuamente avançar!
É que, no meu caso, tenho compreendido a vida como um constante aprendizado. E, nesse sentido, sempre me pergunto: Como pude ter sido tão tolo quando, naquele passado ainda recente, acreditei-me ser presa de uma ansiedade que parecia perpétua?
Não, definitivamente, não há espaço para ansiedade para quem já compreendeu que o futuro é belo e bom!
Penso que quando desejamos estacionar, na falsa tranquilidade de uma inação preguiçosa, é quando então a coisa toda desanda, porque não é esse o objetivo da vida.

Aliás, a vida é loquacíssima quando solicita nossa ação!

Assim sendo, é preferível que, na medida do possível, nossa ação não considere o medo. Afinal, parafraseando Henry James, não podemos ser julgados, a não ser por nós mesmos; o que desgraçadamente é um problema nosso.
Ah! O trem. Ele é uma excelente metáfora da vida, da circunstância em que nos encontramos: mesmo que viajemos sozinhos, ela é o lugar de um coletivo; ao fim dessa viagem todos desembarcaremos em algum terminal, o qual é apenas um posto de passagem, ou seja, o lugar da convergência entre o excesso da partida e a suficiência da chegada.


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Mari Katogi

Esse trabalho pertence àquela categoria de trabalhos que sempre são divulgados nesse blog. Trata-se da categoria Ilustrações feitas por artista de sensibilidade absolutamente feminina.
Em tais casos, eu faço sempre com muito prazer tal divulgação devido a essa beleza intrínseca em seus resultados. Isso, como é possível perceber, se desdobra na técnica empregada, no colorido generoso, bem como na temática da infância, que eu sempre acho um privilégio de inspiração sem igual. Sobretudo, devido a essa aura em geral não nomeada, mas que se chama inocência e que aqui também é redescoberta.
E isso tudo acontece mesmo que aqui ou ali a malícia também desponte.
Devo ressaltar que é muito bacana esse olhar oriental (ela nasceu e vive em Tokyo) e que revisita temas de origem ocidental, como o de Alice no país das maravilhas
Pois bem, também há um motivo a mais para eu divulgar com prazer o trabalho de Mari Katogi.
É que foi um amigo querido quem me apresentou esse trabalho e ele o fez dizendo: I think you will enjoy this work.

- Yes, dear! I have seen it and I have enjoyed myself enormously!










terça-feira, 11 de outubro de 2011

Quando todo dia éramos crianças

Boy in tree by Gary Undercuffler
O que é de certo modo inesquecível e que pertence ao tempo da minha infância é o fato de que, então, eu me sentia muito bem sendo criança, e, ao mesmo tempo, essa mesma criança se sentia um pouco desconfortável, talvez por que éramos ainda crianças.


É que por um lado o mundo nos parecia excessivamente misterioso e, por outro, bastante hostil. Enfim, fosse para o bem ou para o mal, não sabíamos o que podíamos esperar dele.

Pois se até havia meninas mal educadas!

Dos meninos, era sabido, eles eram mesmo criaturas naturalmente exasperantes, uma vez que mesmo o mais verdadeiramente galantuomo dentre eles se tornava um selvagem, quando na companhia dos demais.

As meninas todas eram doces, mas havia aquelas que pareciam já ter sofrido e, por isso mesmo, tinham também cada qual endurecido a sua cota, deixando de lado a ternura que talvez ainda esperávamos delas. Além disso, parecia-nos que, por sua vez, elas achavam um tanto estranho que alguém como eu estivesse ainda por ali: intocado e intocável.

Pois era assim mesmo que eu me sentia nesse tempo, posto que passei minha infância toda precisando muito da proteção dos adultos de carne e osso, além da dos anjos invisíveis.

E, assim, só podia me espantar quando, no contato com as outras crianças, eu via o que havia de errado no mundo!

Lembro-me, quando já na pré-adolescência, uma prima me perguntou, entre meio que chocada, mas também um tanto quanto perversamente... Ela perguntou-me se eu já sabia como nasciam os bebês.

Embora eu fosse criança mesmo e nem soubesse tanto assim, fiquei a mirá-la, pois seu estado era de quem estava honestamente dividida entre o espanto e a tristeza, e, assim sendo, concluí que ela apenas descobrira que o mundo era algo feito de suor e lágrimas.

Eu, por meu lado, procurei sugerir que tudo aquilo era normal desde que possível!


"Flooded Out" collect potatoes
by Gary Undercuffler
 Hoje, apenas hoje, vejo o que a minha criança tinha de mais elegante na sua inocência: ela aceitava tudo como possibilidade, como parte do mundo, mas também o fato de que tudo o que acontece nele é apenas possível quando não irrompemos somando a essas mesmas coisas, enfim possíveis, o insuportável da tristeza ou do temor!

Isso não era um risco para mim, porque eu sempre fui uma criança que reservava um profundo amor a Deus que, no entanto, eu ainda não podia compreender de modo algum, a não ser por intermédio mesmo desse amor inocente.