Estou lendo um romance de Henry James: Lady Barberina. Minto. Esse é o segundo livro do mesmo autor que
leio na mesma semana. Terminei, anteontem, de ler A Outra volta do Parafuso ou apenas A Volta do Parafuso [The Turn
of Screw]. Falarei aqui dessa obra, depois que eu assistir à ópera de
Benjamin Britten, The Turn of Screw, no
próximo dia 22, no Theatro São Pedro, evento que me motivou a reler esse
romance de James.
Mas, como hoje é dia dos namorados, eu quero apenas registrar esta linda passagem do romance Lady
Barberina. A cena se passa durante uma recepção em uma mansão inglesa entre o final do XIX e início do XX, quando acontece um diálogo em que um jovem
americano se declara a uma moça inglesa.
Dedico esta passagem aos que são sensíveis a declarações de amor sinceras.
Dedico esta passagem aos que são sensíveis a declarações de amor sinceras.
Vamos combinar que a expressão do amor que envolve duas pessoas é mesmo uma coisa muito boa de se sentir e de se viver, mesmo que sua lembrança só possa por ora nos vir assim, por meio de personagens fictícias.
De qualquer maneira, eu sou uma
pessoa que acredito demais no amor!
Sua
voz passara a sair quase num murmúrio, e, embora tremesse, a emoção dava-lhe
uma intensidade peculiar; mantinha entretanto a mesma atitude, os polegares nos
bolsos das calças, a cabeça levantada e o sorriso que lhe transparecia muito
natural nos lábios; ninguém teria imaginado o que estava dizendo. Ela
escutara-o sem se mover, e, quando ele terminou, ergueu os olhos. Pousou-os nos
dele um momento. Ele lembrou-se, muito tempo depois, da expressão que passara
aquele olhar.
(JAMES, Henry. Lady Barberina; A outra volta do parafuso. Traduções de Leônidas Gontijo de Carvalho e Brenno Silveira. São Paulo: Abril Cultural, 1983)
– Não creio que eu devesse permanecer aqui – observou Lady
Barberina, olhando em volta.
– Não se retire até eu lhe dizer que a amo – murmurou o
jovem.
A moça
não soltou exclamação alguma, nem sequer estremeceu; ele nem mesmo pôde
perceber qualquer alteração em sua fisionomia. Lady Barberina acolheu essa
confissão com nobre simplicidade, a cabeça ereta e os olhos baixos.
– Não creio que tenha o direito de dizer-me isso.
– Por que não? – perguntou Jackson Lemon. – Desejo ter esse
direito. Desejo que você mo dê.
– Não posso... Não o conheço. Você mesmo disse.
– Não pode confiar um pouco? Isso ajudará a nos conhecermos
melhor. É horrível essa falta de oportunidade; mesmo em Pasterns quase não
podia passear com você. Mas tenho a maior confiança em você. Sei que a amo e
que não poderei deixar de amá-la depois desses seis meses. Amo sua beleza,
amo-a da cabeça aos pés. Não se mova; por favor, não se mova.
Ele
baixara o tom da voz; tudo ia diretamente ao ouvido dela, e é de crer que havia
naquele tom certa eloquência. Quanto a ele, depois de ouvir a si próprio pronunciar aquelas palavras, sentiu uma vibração que lhe percorria o ser. Era
um prazer falar-lhe da própria beleza; isso o levava para mais perto dela, como
nunca estivera. Mas o rosto dela se ruborizara, e isso pareceu lembrar-lhe que
a beleza não era tudo.
– Tudo em você é doce e nobre – continuou . – Tudo em você
me é precioso. Sei que você é bondosa. Não sei o que pensa de mim. Pedi a Lady
Beauchemin que me dissesse, e ela mandou que eu mesmo julgasse. Pois bem, julgo
você igual a mim. Não terei o direito de admitir isso até que se prove o
contrário? Posso falar com seu pai? É o que desejo saber. Venho esperando isso;
mas, agora, por que deveria esperar mais tempo? Desejo poder dizer-lhe que você me deu alguma esperança. Suponho que
você deva falar com ele primeiro. Queria falar amanhã; mas, hoje à noite, pensei
em conversar antes com você. Em meu país, isso não importaria muito. Lá, você
própria teria de considerar tudo. Se me disser que não fale com seu pai, não
falarei. Esperarei. Mas prefiro pedir-lhe licença para falar com ele dói que
pedir a ele licença para falar com você.
– Pode dizer tudo o que queira a meu pai, mas não quero
ouvir mais coisa alguma. Você falou muito, considerando-se o muito pouco que me
deu a entender, antes.
– É que estive observando-a – confessou Jackson Lemon.
Lady
Barberina ergueu mais ainda a cabeça e fitou-o nos olhos. Disse, depois, com
seriedade:
– Não gosto de ser observada.
– Não devia, então, ser tão bonita. Não vai me dar uma
palavra de esperança? – acrescentou ele.
(JAMES, Henry. Lady Barberina; A outra volta do parafuso. Traduções de Leônidas Gontijo de Carvalho e Brenno Silveira. São Paulo: Abril Cultural, 1983)
Que coincidência feliz! Estou também relendo James, o volume que tem "A outra volta do parafuso" e "Lady Barberina". Linda observação sobre este trecho! Gracias!
ResponderExcluirbeijos,
Solange
Eu leio no mesmo volume Solange! Eu comprei, aliás, por conta do A volta do Parafuso porque eu fui ao Theatro São Pedro ver a ópera de Britten que é baseada neste romance de James. Estamos em sincronicidade! Aeee! <3
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