quarta-feira, 12 de junho de 2013

Declaração de Amor em 12 de junho

Estou lendo um romance de Henry James: Lady Barberina. Minto. Esse é o segundo livro do mesmo autor que leio na mesma semana. Terminei, anteontem, de ler A Outra volta do Parafuso ou apenas A Volta do Parafuso [The Turn of Screw]. Falarei aqui dessa obra, depois que eu assistir à ópera de Benjamin Britten, The Turn of Screw, no próximo dia 22, no Theatro São Pedro, evento que me motivou a reler esse romance de James.
Mas, como hoje é dia dos namorados, eu quero apenas registrar esta linda passagem do romance Lady Barberina. A cena se passa durante uma recepção em uma mansão inglesa entre o final do XIX e início do XX, quando acontece um diálogo em que um jovem americano se declara a uma moça inglesa.

Dedico esta passagem aos que são sensíveis a declarações de amor sinceras.


Vamos combinar que a expressão do amor que envolve duas pessoas é mesmo uma coisa muito boa de se sentir e de se viver, mesmo que sua lembrança só possa por ora nos vir assim, por meio de personagens fictícias.

                De qualquer maneira, eu sou uma pessoa que acredito demais no amor!

– Não creio que eu devesse permanecer aqui – observou Lady Barberina, olhando em volta.
– Não se retire até eu lhe dizer que a amo – murmurou o jovem.
                A moça não soltou exclamação alguma, nem sequer estremeceu; ele nem mesmo pôde perceber qualquer alteração em sua fisionomia. Lady Barberina acolheu essa confissão com nobre simplicidade, a cabeça ereta e os olhos baixos.
– Não creio que tenha o direito de dizer-me isso.
– Por que não? – perguntou Jackson Lemon. – Desejo ter esse direito. Desejo que você mo dê.
– Não posso... Não o conheço. Você mesmo disse.
– Não pode confiar um pouco? Isso ajudará a nos conhecermos melhor. É horrível essa falta de oportunidade; mesmo em Pasterns quase não podia passear com você. Mas tenho a maior confiança em você. Sei que a amo e que não poderei deixar de amá-la depois desses seis meses. Amo sua beleza, amo-a da cabeça aos pés. Não se mova; por favor, não se mova.
                Ele baixara o tom da voz; tudo ia diretamente ao ouvido dela, e é de crer que havia naquele tom certa eloquência. Quanto a ele, depois de ouvir a si próprio pronunciar aquelas palavras, sentiu uma vibração que lhe percorria o ser. Era um prazer falar-lhe da própria beleza; isso o levava para mais perto dela, como nunca estivera. Mas o rosto dela se ruborizara, e isso pareceu lembrar-lhe que a beleza não era tudo.
– Tudo em você é doce e nobre – continuou . – Tudo em você me é precioso. Sei que você é bondosa. Não sei o que pensa de mim. Pedi a Lady Beauchemin que me dissesse, e ela mandou que eu mesmo julgasse. Pois bem, julgo você igual a mim. Não terei o direito de admitir isso até que se prove o contrário? Posso falar com seu pai? É o que desejo saber. Venho esperando isso; mas, agora, por que deveria esperar mais tempo? Desejo poder dizer-lhe que você me deu alguma esperança. Suponho que você deva falar com ele primeiro. Queria falar amanhã; mas, hoje à noite, pensei em conversar antes com você. Em meu país, isso não importaria muito. Lá, você própria teria de considerar tudo. Se me disser que não fale com seu pai, não falarei. Esperarei. Mas prefiro pedir-lhe licença para falar com ele dói que pedir a ele licença para falar com você.
  
              Sua voz passara a sair quase num murmúrio, e, embora tremesse, a emoção dava-lhe uma intensidade peculiar; mantinha entretanto a mesma atitude, os polegares nos bolsos das calças, a cabeça levantada e o sorriso que lhe transparecia muito natural nos lábios; ninguém teria imaginado o que estava dizendo. Ela escutara-o sem se mover, e, quando ele terminou, ergueu os olhos. Pousou-os nos dele um momento. Ele lembrou-se, muito tempo depois, da expressão que passara aquele olhar.
– Pode dizer tudo o que queira a meu pai, mas não quero ouvir mais coisa alguma. Você falou muito, considerando-se o muito pouco que me deu a entender, antes.
– É que estive observando-a – confessou Jackson Lemon.
                Lady Barberina ergueu mais ainda a cabeça e fitou-o nos olhos. Disse, depois, com seriedade:
– Não gosto de ser observada.
– Não devia, então, ser tão bonita. Não vai me dar uma palavra de esperança? – acrescentou ele.

(JAMES, Henry. Lady Barberina; A outra volta do parafuso. Traduções de Leônidas Gontijo de Carvalho e Brenno Silveira. São Paulo: Abril Cultural, 1983)

2 comentários:

  1. Que coincidência feliz! Estou também relendo James, o volume que tem "A outra volta do parafuso" e "Lady Barberina". Linda observação sobre este trecho! Gracias!
    beijos,
    Solange

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  2. Eu leio no mesmo volume Solange! Eu comprei, aliás, por conta do A volta do Parafuso porque eu fui ao Theatro São Pedro ver a ópera de Britten que é baseada neste romance de James. Estamos em sincronicidade! Aeee! <3

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