Se vc ainda não foi, definitivamente, deve ir.
A exposição Michelangelo Merisi, dito Caravaggio –
Caravaggio e seus seguidores continua lá no Masp.
Ontem, quinta-feira, eu fui.
Por sinal, achei tranquilíssimo o movimento
dos visitantes: não peguei nenhuma fila.
Im-pres-si-o-nan-te as obras expostas.
Na verdade, eu vivia esta visita à exposição por antecipação.
Tratava-se de um Acontecimento, afinal, eu desejava desde há muito estar
diante de um original do pintor.
E quando finalmente fiquei em frente ao quadro
São Jerônimo que escreve ou diante do
São Francisco em meditação ou do São João Batista que alimenta o cordeiro,
a emoção tomou-me em ondas, embora muito brandas. O que percebi, então, é que
Caravaggio provoca uma compreensão muito profunda da condição mística da humanidade.
Ao mesmo tempo eu pensava: Como é simples! Apenas um gênio pode tocar tão
fundo e com tanta simplicidade: sombra e luz.
Os halos nas cabeças são uma
sugestão delicada da representação do elo de tais personagens santas com a
espiritualidade, seja na reflexão mística de um São Jerônimo diante da morte (sim, ali parece que morrer não é um problema), seja também na meditação de São Francisco diante da
mesma morte, aqui apontando o amor pela alta transcendência na proposição da personagem, ou mesmo na melancólica introspecção de
um São João Batista.
Nesse caso especificamente, a representação é ainda mais tocante pois enquanto a tradição
bíblica nos apresenta um santo
eloquente e bravio, Caravaggio o apresenta jovem e em isolamento, vivendo uma experiência íntima de
melancolia, de introspecção, o que é absolutamente comovedor em sua beleza.
Eu senti que provavelmente a personalidade de Caravaggio, o homem e não o
pintor, mesmo tendo um temperamento explosivo, sendo o encrenqueiro contumaz que era e tendo
se envolvido em uma série de brigas e processos jurídicos ao longo de toda sua
vida - sendo obrigado por isso mesmo a fugir de diversas cidades e, por fim, de
Roma, onde já fora condenado -, mesmo com tudo isso, ele talvez sofresse ainda de
uma radical inocência, pois apenas alguém que compreendesse os meandros da
inocência e/ou ingenuidade poderia representar tais estados de alma, tais como
se apresentam na angelical figura central do quadro Os Trapaceiros, cuja cópia
feita por um Anônimo também vemos no Masp, uma vez que um original da obra está
no Kimbell Art Museum, de Fort Worth, Texas, e outro original no Ashmolean Museum of
Oxford.
Talvez por isso tudo é que ele necessitava de um escudo/amuleto como a Medusa Murtola. ;-)
O que dizer dos tais caravaggescos? Bem, embora cada um deles utilize o chiaroscuro de uma maneira realmente singular, percebe-se que ficam tão
menores ali naquela circunstância em que é inevitável o cotejo com a obra de um
verdadeiro gênio... Ainda assim, agradou-me conhecê-los, evidentemente, sobretudo o espanhol Jusepe de
Ribera e o seu São Tiago Adulto, tal figura humana é de fato monumental, bem como
Bartolomeo Cavarozzi, natural de Viterbo, na Itália, e sua obra Virgem com
Menino, uma vez que há uma suavidade nessa madona muito bela de se apreciar.
Eu espero que você, se estiver em São Paulo, não deixa de apreciar a exposição e ver o que só você poderá ver em Caravaggio.
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