sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O que vejo em Caravaggio



Se vc ainda não foi, definitivamente, deve ir.
A exposição Michelangelo Merisi, dito Caravaggio Caravaggio e seus seguidores continua lá no Masp.
Ontem, quinta-feira, eu fui. 
Por sinal, achei tranquilíssimo o movimento dos visitantes: não peguei nenhuma fila.

Im-pres-si-o-nan-te as obras expostas.

Na verdade, eu vivia esta visita à exposição por antecipação.
Tratava-se de um Acontecimento, afinal, eu desejava desde há muito estar diante de um original do pintor. 
E quando finalmente fiquei em frente ao quadro São Jerônimo que escreve ou diante do São Francisco em meditação ou do São João Batista que alimenta o cordeiro, a emoção tomou-me em ondas, embora muito brandas. O que percebi, então, é que Caravaggio provoca uma compreensão muito profunda da condição mística da humanidade.
Ao mesmo tempo eu pensava: Como é simples! Apenas um gênio pode tocar tão fundo e com tanta simplicidade: sombra e luz. 
Os halos nas cabeças são uma sugestão delicada da representação do elo de tais personagens santas com a espiritualidade, seja na reflexão mística de um São Jerônimo diante da morte (sim, ali parece que morrer não é um problema), seja também na meditação de São Francisco diante da mesma morte, aqui apontando o amor pela alta transcendência  na proposição da personagem, ou mesmo na melancólica introspecção de um São João Batista.
Nesse caso especificamente, a representação é ainda mais tocante pois enquanto a tradição bíblica  nos apresenta um santo eloquente e bravio, Caravaggio o apresenta jovem e em isolamento, vivendo uma experiência íntima de melancolia, de introspecção, o que é absolutamente comovedor em sua beleza.

Eu senti que provavelmente a personalidade de Caravaggio, o homem e não o pintor, mesmo tendo um temperamento explosivo, sendo o encrenqueiro contumaz que era e tendo se envolvido em uma série de brigas e processos jurídicos ao longo de toda sua vida - sendo obrigado por isso mesmo a fugir de diversas cidades e, por fim, de Roma, onde já fora condenado -, mesmo com tudo isso, ele talvez sofresse ainda de uma radical inocência, pois apenas alguém que compreendesse os meandros da inocência e/ou ingenuidade poderia representar tais estados de alma, tais como se apresentam na angelical figura central do quadro Os Trapaceiros, cuja cópia feita por um Anônimo também vemos no Masp, uma vez que um original da obra está no Kimbell Art Museum, de Fort Worth, Texas, e outro original no Ashmolean Museum of Oxford

Talvez por isso tudo é que ele necessitava de um escudo/amuleto como a Medusa Murtola. ;-)

O que dizer dos tais caravaggescos? Bem, embora cada um deles utilize o chiaroscuro de uma maneira realmente singular, percebe-se que ficam tão menores ali naquela circunstância em que é inevitável o cotejo com a obra de um verdadeiro gênio... Ainda assim, agradou-me conhecê-los, evidentemente, sobretudo o espanhol Jusepe de Ribera e o seu São Tiago Adulto, tal figura humana é de fato monumental, bem como Bartolomeo Cavarozzi, natural de Viterbo, na Itália, e sua obra Virgem com Menino, uma vez que há uma suavidade nessa madona muito bela de se apreciar.

Eu espero que você, se estiver em São Paulo, não deixa de apreciar a exposição e ver o que só você poderá ver em Caravaggio.

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