terça-feira, 26 de junho de 2012

Ao som da Valsa


O Teatro Municipal de São Paulo recebeu no seu palco, ontem, e receberá, também hoje, a Orquestra Nacional de Washington, sob a regência do maestro Christoph Eschenbach.  Em cada programa, a orquestra apresenta 3 peças. A peça intermediária em ambas as apresentações é o Concerto para violoncelo e orquestra em ré menor, de Edouard Lalo, com solo de violoncelo, tocado por Cláudio Bohórquez, um rapaz que tem ascendência peruana e uruguaia e que é considerado um dos violoncelistas de maior prestígio na atualidade.

O Concerto de Lalo é delicioso, porque o violoncelo reina sobre o conjunto da orquestra, que, no entanto, é também muito presente com seus acordes marcantes ou mesmo durante o dueto em que as flautas fazem uma bonita parceria com o instrumento do solista. Essa particularidade empresta um certo lirismo e até uma dimensão onírica à peça que, de qualquer modo, tem como sentimento predominante o de melancolia.

Bem, vamos combinar, que tal sentimento é muito respeitável e até majestoso se quem o promove, comandando-o em direção a nossa sensibilidade é um violoncelo.

Ontem, antes da apresentação desse Concerto, tivemos a Abertura, Carnaval Romano (op. 9), de Hector Berlioz, e, após o peça de Lalo, a Sinfonia nº 5, em mi menor (op. 64), de Piotr Ilyich Tchaikovsky. Hoje, antes e depois do Concerto de Lalo, o público ouvirá, respectivamente, a peça Blue Blazes, de Sean Shepherd, e a Sinfonia nº 7, em lá maior (op. 92), de Ludwig van Beethoven.

Eu só posso agradecer aos céus por ter ouvido a Sinfonia de Tchaikovsky. Ela remete o ouvinte aos sentimentos que influenciavam o compositor na época e que tinham a ver com a ruptura que acontecera entre ele e a Condessa Nadejda von Meck, alguém que ele não conhecera pessoalmente, mas que era uma confidente e patrocinadora. Um rompimento, naturalmente, impregnaria de sentimentos intensos essa sinfonia!

Trata-se de uma composição em que o tema principal passeia pelos naipes, mas os instrumentos de sopro, tanto metais quanto madeiras, são os que mais traduzem as sensações sobre as quais ele pretende discorrer musicalmente. Por exemplo, o oboé tem uma participação importante quando, aqui e ali, impõe um sentimento de lugubridade. Sem dúvida, o solo da trompa é o que mais nos arrebata. E, ouvindo esse solo, fiquei pensando se Philip Glass  não foi também um ouvinte dedicado dessa sinfonia já que em suas peças  tanto a trompa quanto a tuba são tão recorrentes e, de qualquer modo, apontando para o tema do destino... Mas isso é uma divagação, ou seja, uma abstração que me permiti, carecendo de uma pesquisa acerca de!

Contudo, o que mais provocou minha completa comoção foi o fato de me sentir como quando dancei pela primeira vez uma valsa: estilo musical que impera nessa sinfonia. Pareceu-me como quando em um conto de fadas o par amoroso tem um clímax de intimidade e de celebração do seu amor, valsando em um grande baile. Em tais circunstâncias, mesmo a condição de evento social não oblitera a comovente intimidade desses corações e que podem sentir o que representa uma união, quiçá,  para a eternidade.

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