Hoje, eu estava ouvindo o Programa Manhã Cultura, na Rádio Cultura FM, quando em um
determinado momento o entrevistado do dia por Gioconda Bordon falou que Mozart, por exemplo, teria composto suas peças mais
luminosas quando em sua vida pessoal ele passava por experiências dolorosas.
Isso me fez pensar em quão interessantes são esses artistas
que, no momento mais tortuoso da vida pessoal, conseguem especialmente desenvolver
peças luminosas, transcendentes.
Provavelmente isso represente uma sabedoria que implica no
desenvolvimento da capacidade de elaboração dos diferentes veios emotivos da
subjetividade.
Afinal, a vida suscita a cada momento uma emoção particular
e que, evidentemente, vem acompanhada da expressão que lhe é peculiar. Mas escrever
ou compor qualquer coisa é também deixar um legado: qual será a expressividade
desse legado, que emoção essencial ele irá conter? Talvez o artista se faça
esse questionamento, mesmo que inconscientemente.
De qualquer modo, penso que não é preciso ser alguém do
perfil daquele que deixa um legado para a Humanidade (caso de um Mozart) para
também elaborar a expressividade da emoção que se queira passar na conjunção,
por exemplo, das relações cotidianas.
A escolha pela luminosidade – e, sim, não se espera que ela possa
ocorrer full time – talvez seja o
momento mais especial das experiências cotidianas. Porque tal escolha cria a
abertura, no centro da vida comum, de uma espécie de portal para uma dimensão
espiritual absolutamente desconhecida, sobretudo quando estamos mergulhados no afã
das fatigantes querelas do dia a dia.
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