segunda-feira, 30 de abril de 2012

Cotidiano possível das emoções



Hoje, eu estava ouvindo o Programa Manhã Cultura, na Rádio Cultura FM, quando em um determinado momento o entrevistado do dia por Gioconda Bordon falou que Mozart, por exemplo, teria composto suas peças mais luminosas quando em sua vida pessoal ele passava por experiências dolorosas.

Isso me fez pensar em quão interessantes são esses artistas que, no momento mais tortuoso da vida pessoal, conseguem especialmente desenvolver peças luminosas, transcendentes.

Provavelmente isso represente uma sabedoria que implica no desenvolvimento da capacidade de elaboração dos diferentes veios emotivos da subjetividade.

Afinal, a vida suscita a cada momento uma emoção particular e que, evidentemente, vem acompanhada da expressão que lhe é peculiar. Mas escrever ou compor qualquer coisa é também deixar um legado: qual será a expressividade desse legado, que emoção essencial ele irá conter? Talvez o artista se faça esse questionamento, mesmo que inconscientemente.

De qualquer modo, penso que não é preciso ser alguém do perfil daquele que deixa um legado para a Humanidade (caso de um Mozart) para também elaborar a expressividade da emoção que se queira passar na conjunção, por exemplo, das relações cotidianas.

A escolha pela luminosidade – e, sim, não se espera que ela possa ocorrer full time – talvez seja o momento mais especial das experiências cotidianas. Porque tal escolha cria a abertura, no centro da vida comum, de uma espécie de portal para uma dimensão espiritual absolutamente desconhecida, sobretudo quando estamos mergulhados no afã das fatigantes querelas do dia a dia.

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