Ontem eu fique um tanto
melancólico, não comigo mesmo, afinal, eu não tinha motivo pessoal algum para
estar melancólico, graças a Deus! O motivo era tão somente saber que pessoas
amigas passavam por dificuldades contra as quais eu não poderia nada fazer.
Há,
de qualquer modo, um tênue liame entre você ser solidário com o outro em sua
dor e tomar para si as tais dores dos outros, uma vez que você mesmo não teria
motivo algum para alimentar tristeza, além dessa solidariedade natural.
Eu
penso que isso é até um risco. Afinal, toda dor resulta de alguma causa, mas, às
vezes, ela acontece por motivos desconhecidos imediatamente, no cenário
visível. Nesse caso, é preciso ser maduro e apenas ter uma disposição de
espírito favorável para que tudo se conforme da melhor maneira possível,
sabendo sempre que os atores envolvidos diretamente na dificuldade é que
poderão agir: somos expectadores atentos e solidários tão somente e
evidentemente!
Uma
melancolia alegre também existe. ;-)
Por
exemplo, uma amiga me contou que ao dispor as bonequinhas de pano de minha mãe
na vitrine de um bazar que promovia na páscoa passada, observou que senhoras
muito humildes, provavelmente nascidas nos sertões brasileiros, passavam, na calçada, rumo ao hospital próximo dali e estancavam diante das bonequinhas. Pois bem, tais senhoras viam
as bonequinhas e paravam diante delas estarrecidas, emocionadas, colocando a
mão no peito e diziam não acreditar que viam ali as mesmíssimas bonequinhas ou
que uma avó ou que uma mãe fizera na infância para as meninas que eram então naqueles tempos remotos,
uma até lembrava: “a minha o cachorro malvado destruiu com os dentes!” e voltava a ser a menina indignada com tal violência irracional.
Minha
amiga dizia que as cenas eram comoventes, de cortar o coração, e que até vendeu
alguns exemplares a preços simbólicos, porque o que ela viu diante dela foram imagens muito concretas de comoções d’alma , resultantes de reminiscências
femininas, ou seja, de um tipo de despertar próprio de uma memória afetiva sem igual. Experiência que só pode ser compreendida em seu âmago por quem é delicado nesse testemunhar, solidariamente, uma lembrança de
amor.
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