quarta-feira, 16 de maio de 2012

Para onde um concerto me leva


Orchestre National du Capitole de Toulouse


Ver e ouvir um concerto na Sala São Paulo é sempre um momento especial da minha vida. É como eu sinto tal experiência, portanto, sempre que acontece de eu estar sentado naquela sala para experimentar esse tipo de deleite. Para além de sentir uma certa atmosfera do lugar, eu, talvez por ser muito idealista, fico ali imaginando todo o tempo que foi necessário para a humanidade chegar a esse tipo de excelência na experiência artística. 

E, então, já estou tomado de emoção antes mesmo das luzes da plateia se apagarem. Trata-se de uma emoção pura e que se deve ao que há de sublime em um aspecto essencial da condição humana, ou seja, sua capacidade de criação no universo da arte: não tenho dúvida alguma a esse respeito.

Ontem, apresentava-se na sala de concertos a Orchestre National du Capitole de Toulouse, sob a regência de Tugan Sokhiev, e que, segundo o amigo que me cedeu o ingresso, é muito reconhecida, sobretudo, na execução das peças de Berlioz, aliás, foi com uma sinfonia desse compositor que encerraram a apresentação.

Nijinski by Léon Bakst 
O programa iniciou-se com Claude Debussy e o seu Prélude à l’après midi d’un faune. Uma peça que, sempre que ouço, como aliás é o que deve acontecer com muita gente, sou remetido ao balé L'après-midi d'un faune, coreografado por Vaslav Nijinski para os Ballets Russes e que tinha por fundo exatamente essa delicada composição de Debussy. O mais interessante é que são, tanto a peça de Debussy quanto o balé de Nijinski, releituras do poema A Tarde de um Fauno, de Mallarmé.

As três peças do programa tinham em comum a presença da flauta e das arpas, instrumentos que não são comumente explorados em concertos e que fazem tanta falta na nossa vida! Talvez porque sempre nos relembram dessa atmosfera que nos dão os elementos  do vento e da água na natureza: tão reconfortantes, vivificantes!

Bertrand Chamayou
A segunda peça, o Concerto para piano e orquestra em sol maior, de Maurice Ravel, teve a graça, beleza e precisão do piano e que só foi possível que se desse desse modo por ser tocado pelo solista convidado: o pianista Bertrand Chamayou, natural de Toulouse, e já prestigiadíssimo, mesmo sendo ainda muito jovem. O movimento que mais me emocionou foi o segundo movimento do Concerto, o Adágio Assai, no qual o piano tocou sozinho em 33 compassos tudo o que é  doçura e passividade até que surgiu um oboé e que, embora em outra tonalidade,  nos soou absolutamente natural. Vejam só!


E o que dizer da Symphonie Fantastique, opus 14, de Hector Berlioz? Seu movimento final, Songe d’une nuit du Sabbat. Larghetto – Allegro assai, é simplesmente um espanto! Não há como não compreender, ouvindo-a, que os gênios são absolutamente contumazes em seus devaneios e paixões, e se sempre nos surpreendem é por nos remeter àquilo que nós também teríamos de potencial expressivo e de majestosa sublimação. Contudo, se não estivéssemos tão ocupados em atender as pequenas paixões cotidianas e que não podem ainda transcender nada. Tal circunstância acontece por nos faltar também  o mero reconhecimento de que poderemos criá-las, as paixões... recriando-as.  Isso poderá se dar quando assumirmos todo o nosso potencial de entrega ao que é em essência do universo espiritual. Até lá só nos resta aplaudir o exemplo do gênio, bem como o talento de seus intérpretes.

Um concerto na Sala São Paulo representa para mim, além da fruição do espetáculo, motivos e razões para  ser levado a pensar em tudo isso e um pouco mais. ;-) 

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