Sábado passado, tive a alegria de encontrar em uma livraria essa edição da Zahar de As aventuras de Sherlock Homes, de Arthur Conan Doyle. Trata-se de uma tradução de The new annotated Sherlock Holmes, v.1: The adventures of Sherlock Holmes; The memoirs of Sherlock Holmes. A edição é bastante bem cuidada, como costumam ser a de qualquer livro publicado por essa editora, já a tradução ficou a cargo de Maria Luiza X. de A. Borges e há ainda uma riqueza complementar: suas páginas contém as ilustrações originais das histórias, ou seja, de quando elas foram publicadas pela primeira vez na The Strand Magazine.
Sim, trata-se das lindas ilustrações de Sidney Paget, afinal, o responsável, desde a era vitoriana, pela popularização da figura esguia e charmosa do detetive, essa mais popular, e que ficou. Dizem até que esse ilustrador influenciou o cinema noir, uma vez que algumas histórias do detetive eram sombrias e ele buscava recriar esse clima em suas ilustrações, o que mais tarde foi transposto para o cinema, ou seja, seu trabalho serviu praticamente de "storybord" para tal cinema, o que, aliás, faz todo o sentido.
Eu estou apreciando muito ler esses contos, porque eu só lera de Conan Doyle dois romances em que Sherlock Holmes também atua: O Signo dos Quatro e O Cão dos Baskervilles e isso, há muito tempo, quando eu era muito jovem. Agora, estou notando que minha percepção está mais atenta e, claro, não vejo ali apenas a diversão e distração que tantos sempre viram nas histórias do detetive. Noto as sutilezas e até mensagens cifradas! Veja você se não se trata disso mesmo nesses trechos do conto Um caso de identidade com o qual travei contato nessa manhã:
"Meu caro companheiro", disse Sherlock Holmes quando estávamos sentados, a lareira entre um e outro, em seus aposentos em Baker Street, "a vida é infinitamente mais estranha que tudo que a mente humana seria capaz de inventar. Não ousaríamos conceber coisas que, na realidade, não passam de lugares-comuns da existência. Se pudéssemos sair voando de mãos dadas por aquela janela, pairar sobre esta grande cidade, remover suavemente os telhados e espreitar as esquisitices que estão acontecendo, as estranhas coincidências, as maquinações, os quiproquós, os maravilhosos encadeamentos de fatos, que atravessam gerações e conduzem aos resultados mais estapafúrdios, toda a ficção, com suas convenções e conclusões previsíveis, pareceria extremamente batida e inútil." (...)
(...) "Para produzir um efeito realístico, é preciso exercer certa seleção e discernimento", observou Holmes. "Falta isso ao noticiário policial, em que se dá mais ênfase, talvez, às platitudes pronunciadas pelo juiz do que aos detalhes, que, para um observador, contém a essência vital de toda a questão. Acredite, não há nada tão aberrante quanto o lugar-comum."(...)
(...)Na verdade, descobri que em geral é em assuntos sem importância que há campo para a observação e a análise rápida de causa e efeito que faz o encanto de uma investigação. Os crimes maiores tendem a ser mais simples, pois quanto maior é o crime, mais óbvio, em regra, é o motivo.(...)
(...) ela lançava olhares furtivos, nervosos e hesitantes para nossas janelas, enquanto seu corpo balançava para frente e para trás e os dedos remexiam nos botões da luva. De repente, num mergulho, como o do nadador que salta da margem, atravessou a rua num átimo e ouvimos o som estridente da campainha.
"Já vi esses sintomas antes", disse Holmes, jogando o cigarro no fogo. "Hesitação na calçada significa um affaire de coeur. Ela deseja um conselho, mas teme que a questão seja delicada demais para ser revelada. Mas mesmo num caso desse tipo podemos fazer uma distinção. Quando uma mulher foi seriamente maltratada por um homem, ela já não hesita, e o sintoma usual é uma corda de campainha arrebentada. Podemos presumir que este é um caso de amor, mas que a donzela em questão está menos enraivecida que perplexa, ou magoada. Mas aí vem ela em pessoa para esclarecer nossas dúvidas." (...)
Eu não tinha toda razão, quando dizia outro dia aqui que mais vale a pena ser um Sherlock Holmes que um agente 007?
Sim, trata-se das lindas ilustrações de Sidney Paget, afinal, o responsável, desde a era vitoriana, pela popularização da figura esguia e charmosa do detetive, essa mais popular, e que ficou. Dizem até que esse ilustrador influenciou o cinema noir, uma vez que algumas histórias do detetive eram sombrias e ele buscava recriar esse clima em suas ilustrações, o que mais tarde foi transposto para o cinema, ou seja, seu trabalho serviu praticamente de "storybord" para tal cinema, o que, aliás, faz todo o sentido.
Eu estou apreciando muito ler esses contos, porque eu só lera de Conan Doyle dois romances em que Sherlock Holmes também atua: O Signo dos Quatro e O Cão dos Baskervilles e isso, há muito tempo, quando eu era muito jovem. Agora, estou notando que minha percepção está mais atenta e, claro, não vejo ali apenas a diversão e distração que tantos sempre viram nas histórias do detetive. Noto as sutilezas e até mensagens cifradas! Veja você se não se trata disso mesmo nesses trechos do conto Um caso de identidade com o qual travei contato nessa manhã:
"Meu caro companheiro", disse Sherlock Holmes quando estávamos sentados, a lareira entre um e outro, em seus aposentos em Baker Street, "a vida é infinitamente mais estranha que tudo que a mente humana seria capaz de inventar. Não ousaríamos conceber coisas que, na realidade, não passam de lugares-comuns da existência. Se pudéssemos sair voando de mãos dadas por aquela janela, pairar sobre esta grande cidade, remover suavemente os telhados e espreitar as esquisitices que estão acontecendo, as estranhas coincidências, as maquinações, os quiproquós, os maravilhosos encadeamentos de fatos, que atravessam gerações e conduzem aos resultados mais estapafúrdios, toda a ficção, com suas convenções e conclusões previsíveis, pareceria extremamente batida e inútil." (...)
(...) "Para produzir um efeito realístico, é preciso exercer certa seleção e discernimento", observou Holmes. "Falta isso ao noticiário policial, em que se dá mais ênfase, talvez, às platitudes pronunciadas pelo juiz do que aos detalhes, que, para um observador, contém a essência vital de toda a questão. Acredite, não há nada tão aberrante quanto o lugar-comum."(...)
(...)Na verdade, descobri que em geral é em assuntos sem importância que há campo para a observação e a análise rápida de causa e efeito que faz o encanto de uma investigação. Os crimes maiores tendem a ser mais simples, pois quanto maior é o crime, mais óbvio, em regra, é o motivo.(...)
(...) ela lançava olhares furtivos, nervosos e hesitantes para nossas janelas, enquanto seu corpo balançava para frente e para trás e os dedos remexiam nos botões da luva. De repente, num mergulho, como o do nadador que salta da margem, atravessou a rua num átimo e ouvimos o som estridente da campainha.
"Já vi esses sintomas antes", disse Holmes, jogando o cigarro no fogo. "Hesitação na calçada significa um affaire de coeur. Ela deseja um conselho, mas teme que a questão seja delicada demais para ser revelada. Mas mesmo num caso desse tipo podemos fazer uma distinção. Quando uma mulher foi seriamente maltratada por um homem, ela já não hesita, e o sintoma usual é uma corda de campainha arrebentada. Podemos presumir que este é um caso de amor, mas que a donzela em questão está menos enraivecida que perplexa, ou magoada. Mas aí vem ela em pessoa para esclarecer nossas dúvidas." (...)
Eu não tinha toda razão, quando dizia outro dia aqui que mais vale a pena ser um Sherlock Holmes que um agente 007?