sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Marjorie Liucci

Desde pequeno eu sempre gostei do que as meninas inventam. Tanto era assim, que eu sempre curtia estar com as meninas. Havia, claro, quem visse nisso um mal. Oh! kkkk
No entanto, tanto aprendi com minhas amigas: um modo sempre novo de ver o mundo; uma sensibilidade que permite voos; uma beleza que se constrói o tempo todo em um universo particular mas que deságua no bem comum, necessariamente. Afinal, eu estou falando de meninas bacanas! ;-D
Como algumas das minhas amigas eu também desenhava, pintava, brincava e talvez apenas não tivesse como elas os cuidados especiais que tinham para com os animais. Além disso, eu notava, desde aquele tempo, que havia e, hoje também vejo que ainda há, um sentimento nostálgico em algumas mulheres.  Algo tão intenso, que parece ser mesmo saudades de uma vida anterior.

A nossa amiga Marjorie Liucci prova, pelo seu trabalho, ser alguém desse tipo. Afinal, suas meninas são figuras de um tempo perdido lá pelos idos da era vitoriana. Todas elas, como as minhas amigas, também se relacionam sempre muito bem, e desde então, com passarinhos, gatos, enfim, com toda uma fauna, que, desconfio, vive mais dentro delas do que no mundo. No entanto, vivem assim sem nunca deixar de participar do mundo natural que deixaram. A diferença é que experimentam, então, uma outra natureza.

A artista tem um blog cujo nome é uma homenagem ao seu gatinho Marmee Craft. Ela vende esses mimos no Etsy.












quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A palavra é prata, o silêncio é ouro


Cena de O Silêncio, 1963, by Ingmar Bergman
As relações humanas são sempre muito misteriosas, pois se nelas até podem ocorrer silêncios! Penso que o silêncio entre os humanos deve ser compreendido apenas como palavras não proferidas entre os envolvidos, mas, tais palavras, embora lhes falte o significante de signo linguístico, a expressão fonética desse significante, enfim, a oralidade reclamante, elas continuam ali como forma-pensamento.

Quando digo isso, estou sugerindo algo que pode ser desenvolvido até mesmo na direção da telepatia. Meu Deus!

Eu cheguei a conhecer pessoas que não se falavam, mesmo convivendo. Eu, há muito tempo, morei um ano inteiro em uma mesma casa e sem falar com minha amiga, isso aconteceu até eu perdoar ao que hoje chamo de “o nosso sofrimento juvenil”.
Nunca imaginei que o mesmo ocorreria comigo, ou seja, que alguém pudesse ser capaz de deixar de falar comigo!
O que opera, afinal, o silêncio em uma relação? Simplesmente, o fato de que alguém resolveu calar para si tudo o que diz respeito àquela relação.
Ao contrário dos piadistas de mau gosto, eu sempre achei que as mulheres estão corretíssimas quando desejam discutir a relação.
No entanto, quando re-al-men-te isso não é possível resta o tal silêncio.
Há casos em que ele ocorre de comum acordo, resultado de uma rusga qualquer entre os envolvidos, quando o silêncio é levantado como bandeira branca. Trata-se, nesse caso, tão somente de uma trégua. Mas, pode acontecer de a decisão pelo silêncio ser unilateral: alguém deixa de falar com alguém e esse último nem ao menos sabe o porquê. Sim, sempre haverá especulações, mas como são insuficientes, não cobrem o conjunto do que pensa, verdadeiramente, esse outro.
Um caso assim não me parece comum e será ainda mais incomum se isso ocorrer entre pessoas que não são propriamente um casal.
Em tal circunstância o que afinal poderia ser feito?
Para o momento, só consigo pensar em respeitar esse silêncio que se impõe e que pede uma resposta igualmente silenciosa. Mas, então, é o caso de chamar essa resposta de o silêncio dos inocentes.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Um chá com Amós Oz

É uma experiência de civilidade sem igual ler um romance de Amós Oz. Há sempre em seus livros um cuidado todo especial com a construção de personagens femininas, crianças e idosos. Um respeito por eles e que é quase transcendente em sua pureza. As questões políticas da sua obra, ao menos me parece, são sempre um pano de fundo para essa questão mais essencial do cuidado com o outro e que é o que assoma em primeiro plano.
E sempre há também poetas nos romances de Amós Oz.
Eu fico comovido até não mais poder: Qual seria a utilidade de se ler um romance se não fosse para alimentar em nós essa comoção d'Alma?
Não estudo mais literatura, há um bom tempo, e isso é uma desvantagem quando se trata de literatura. Seu estudo é tão rico! No entanto, essa mesma desvantagem possibilitou a mim uma espécie de compensação: posso apenas vivê-la como leitor e isso me traz um grande alívio, ou seja, o de quem está livre para amar desmesuradamente. Afinal, é possível que nos apaixonemos por um livro. Ora pois! Como não?
Por exemplo, compartilho com os leitores desse blog um trecho dessa minha atual leitura, a desse livro de Amós Oz e que tem estado em minha cabeceira.
Após a leitura do trecho quero que me responda: Isso não é apaixonante?

"Você quer me ajudar, Uri?"
Eu largava no mesmo instante as rolhas e os papéis dourados e prateados, suspendia o fogo em todas as frentes e acompanhava a Mãe até a cozinha. Eu gostava de ajudá-la a servir o chá. Gostava de arrumar tudo com cuidado no carrinho preto de vidro e de levar o carrinho para a sala: cinco xícaras com seus pires de vidro. Cinco pratos rasos para o bolo. Cinco garfos com um dente mais grosso e outros dois mais finos. Cinco colherinhas. Açúcar. Leite. Limão. Reforço de nozes e biscoitos. Logo a chaleira ia ferver a a Mãe serviria o chá. Enquanto isso minha tarefa era descer as escadas, atravessar a ruela, acordar o velho poeta de sua sesta vespertina de verão numa espreguiçadeira a um canto do maltratado jardim, entre os oleandros secos e os canteiros de espinhos, e, propor-lhe educadamente:
"Senhor Nechamkin! Desculpe! Senhor Nechamkin! Lá em casa vamos tomar chá, e estão perguntando se o senhor também virá tomar conosco, por favor?"
A princípio o velho não se mexia.Só abria os olhos azuis e olhava para mim espantado. Depois, em seu rosto de cágado se desenhava um sorriso cansado, como um sorriso que vem depois do desalento, e sua mão apontava com ternura para o pimenteiro, de entre cujos galhos se ouvia o alarido de passarinhos invisíveis que pareciam tomados de êxtase:
"O que é que há, garoto, o que está havendo lá, algum incêndio, Deus nos livre?"
E logo acrescentou:
"Menino Uriel. Sim. Abra a boca e me ilumine com suas palavras."
"Estão tomando chá, senhor Nechamkin, e conversando, e pediram muito que o senhor venha também."
"Nu. O quê. Sim. Até parece que tem um incêndio, Deus nos livre, mas felizmente não há fogo nenhum. E eu haverei de ir. Claro que irei. Melhor ainda, vamos os dois juntos, como um só homem: o poeta e o menino. Vamos indo, com muita alegria, e não ficaremos sem recompensa."
(...)
...Não minhas senhoras e meus senhores, não, não vou tomar um segundo copo. Não tem dinheiro no mundo que me faça beber mais, para que vocês não pensem que sou um glutão ou um beberrão. Eu me basto com um copo só. Fico satisfeito. Mas, por outro lado, minha senhora, por outro lado como posso recusar-lhe? Ao contrário, é uma satisfação beber com vocês mais uma vez. Contanto que não tenham muito trabalho. Depois vou ler para vocês alguns versos modestos, com sua licença, é claro, despedir-me e seguir em paz meu árduo caminho. Recebam meus agradecimentos e minhas bençãos, vocês foram muito amáveis comigo".

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Ser Sherlock Holmes

Sherlock Holmes
Ilustração by  Sidney Paget


Quanta coisa pode acontecer em um curto intervalo de tempo!
Acordou, tomou banho e o café da manhã. Pegou seus pertences, guardou-os em uma bolsa e saiu para a rua.
Porque fazia sol usava óculos escuros.
Como sempre, ouvia música clássica pelos fones de ouvido.
No caminho, parecia chamar a atenção posto que um carro passara muito lenta e proximamente e, quando o motorista olhou em sua direção com atenção exagerada, achou isso mesmo extremamente vulgar.
Do episódio surtiu um efeito: o de pensar que não se controla a ação dos outros; apenas é possível, quando muito, evitar ou abrandar suas consequências, sejam elas nefastas ou benfazejas.
Tudo o que queria era a sorte de um amor tranquilo como na canção, mas só encontrava tranquilidade em um certo exercício da solidão.
Uma solidão sempre essencial: concentrada, disciplinada, posto que muito a quem do egoísmo. Na verdade, dele cada vez mais se apartando, além e além.
Isso era um pouco como nos filmes em que se é um agente secreto, mas não se é James Bond. 
É por isso que desconfiava que o importante na vida é a missão, assim sendo mesmo que dela só se tenha uma pista.
Por essa razão desejava muito mais desenvolver seus talentos na direção dos de um Sherlock Holmes.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Joe Bagleu

Fiquei super feliz com essa minha recente descoberta: esse artista do Papercutting. Ainda bem que sempre me deparo com esse tipo de trabalho e, então, acontece de eu falar dessa arte por aqui e mostrar os resultados do trabalho de algum artista da tesoura e do estilete e que encontro pelas minhas andanças pela web.
Sim, penso que minha admiração por essa arte milenar vem de longa data. Afinal, quanta paciência e delicadeza são necessárias para recortar essas peças únicas!
Joe Bagleu apresenta seu blog como um lugar onde ele converge seus esforços por implementar sua carreira, colocá-la em movimento. No que ele está coberto de razão, talentoso como é.
Ele nos explica que cada uma das peças originais do seu trabalho são recortadas a partir de um único pedaço de papel preto. Acho isso particularmente interessante, porque cria essa ilusão de uma imagem em PB, em contraste com o fundo ou mesmo de um negativo fotográfico.
Ele sabe que o Papercutting tem sido utilizado há milhares de anos e que é uma arte conhecida em muitas culturas e diz que tem feito seu trabalho no sentido de modernizá-la e também com a intenção de atrair uma nova audiência para essa forma de arte.
Eu acho que ele pode conseguir isso mesmo! O resultado do seu trabalho é belíssimo. Tem todo o meu apoio. ;-)
Enjoy it!













quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Eu quero ver a beleza

Eu acho muito curioso o que acontece no  feed de notícias  lá do meu perfil no facebook. Refiro-me a um certo comportamento de determinadas pessoas e que fazem parte do meu rol de amigos por lá. Eu não quero, de modo algum, parecer judicioso, of course. Não se trata disso. Apenas noto que há pessoas que de vez em quando anunciam que estão fazendo uma 'limpeza" no seu próprio rol de amigos e estão eliminando pessoas com quem passaram a não concordar por qualquer motivo, afinal, o tipo de postagem que a tal pessoa, e que será enfim eliminada, faz pode não agradar quem a recebe no feed.
Isso de eliminar a pessoa desse rol de fato é um direito.
No entanto, eu não me vejo motivado a eliminar ninguém. Caso as postagens de alguém comecem a me incomodar, sobretudo a minha visão, ou seja, quando vejo imagens feias, de mau gosto, eu apenas utilizo a ferramenta "ocultar postagens de fulano". Assim sendo, ainda não me vi motivado a eliminar ninguém, afinal, não é assim que a coisa funciona na vida: isso só é possível no facebook...rsrsrs
De qualquer modo, também fico contente, quando, depois da tal limpeza, noto ao menos que eu permaneci no rol de amigos da pessoa que resolveu fazer a tal faxina. rsrsrs
Eu devo confessar que também tenho uma outra artimanha que sempre funciona para tolerar qualquer tipo de pessoa passando pelo meu feed. Quando noto que nele estão sendo postadas apenas coisas tristes ou que há preponderância de um certo mau humor generalizado, ou mesmo alguns compartilhamentos de gosto duvidoso, eu vou correndo pela web em busca de imagens belas e começo a postar. rsrsrs
Tenho para mim que na vida precisamos ver coisas belas para que também possamos agir de modo mais agradável e, assim, não precisemos eliminar ninguém, mas (quem sabe?) apenas educar o maior número possível, mesmo que seja por meio de um certo testemunho: o de amante da beleza.

Ontem isso estava acontecendo por lá. Ou seja, um momento bad trip geral...rsrsrs E uma das imagens que eu levei para a minha linha do tempo foi essa que eu encontrei no site street art utopia (dica, aliás, de um amigo meu e que conheço pelo facebook)
Não é maravilhoso ver essa árvore carregada de guarda-chuvas amarelos?
Continuando minha pesquisa em busca de imagens que agradassem ao olhar, encontrei também o trabalho dessa ilustradora que vive em Amsterdam: Nathalie Otter. Mas essa artista vou compartilhar por aqui, pois esse blog ama ser alimentado por imagens de ilustradores talentosos.
Ela é também designer de multimídias, mas diz que é uma verdadeira faz tudo quando o negócio é trabalho. Embora Otter tenha mesmo se dedicado mais à ilustração e trabalha como freelancer para revistas, jornais e o mercado de moda. Seu trabalho se desenvolve cada vez mais acentuadamente na direção de um senso de humor muito afiado.
Atualmente, ela também desenvolve uma linha própria de T-shirts a que chamou Beastees. Sua coleção mais recente faz aparecer animais e além dos desenhos com esse traço nítido que caracteriza o seu trabalho, há frases espirituosas que acompanham as estampas. No site Nathalie made this, você vai conhecer tudo isso! Enjoy it!




quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A juventude sorri

A juventude sorri. E a luz do sol, invadindo o interior do vagão, banha a juventude. O trem, de repente, dispara como se houvesse urgência que toda essa gente jovem chegasse ao seu destino. Os jovens, no entanto, parecem não saber para onde vão.
Seu destino é o inesperado de cada dia, para o qual não há comboio que os leve.
Os arranha-céus, também banhados pelo sol generoso, despontam em toda parte na paisagem ao redor da ferrovia. As árvores lá embaixo, cada vez mais exíguas. A natureza está dentro, é carregada pelo trem. Ela ainda amadurece no coração dessa juventude sem destino, cheia de esperança e que sorri.