terça-feira, 4 de outubro de 2011

Sonhando com o poeta

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Essa noite, sonhei com Carlos Drummond de Andrade. Não era sonho, era uma visita. O poeta chegava a minha humilde casa, de mala e cuia. Parecia que vinha para ficar, mas logo percebi que estava só de passagem...
Eu disse que ele viera de mala e cuia por que essa era a sensação, mas quando desfez a tal mala pude ver suas roupas dispostas na cama e eram poucas peças. Lembro que reparei primeiro na pouca quantidade, e também no fato de que eram roupas simples, mesmo que ele tivesse tido o bom gosto de escolher dentre elas dois suéteres e alguns pares de meia em cores pastéis e com as clássicas estampas de losango ou do xadrez.
Ele dispusera tudo muito bem dobrado sobre a cama e como o meu poeta do sonho fosse pessoa de poucas palavras, compreendi que esses seus gestos silenciosos eram sua poesia.  O modo de ir chegando, a sutileza no estar em domicílio alheio - como se não quisesse incomodar e não incomodasse - mesmo tendo vindo, como parecera inicialmente, para morar junto, tudo isso é que era o seu segredo de ser poeta.

De repente, no entanto, meu quarto passou a ser um escritório. Nesse escritório, funcionavam, conjuntamente, duas associações: uma era de professores universitários, a outra de funcionários sem titulação alguma e, coincidentemente, ambas utilizavam quase a mesma sigla na porta. Aliás, essa aparecia em um letreiro que podia servir para uma ou outra das associações, de acordo com um dispositivo que permitia o surgimento ou desaparecimento de um acento na mesmíssima palavra (que não me lembro qual era).

No sonho, aliás, foi uma criança pequenina quem revelou o mecanismo do engenho, que permitia o aparecimento ou desaparecimento do tal acento em uma das letras, acionando-o. Era assim que esse letreiro servia, ora para uma, ora para outra das duas associações, tão distintas!, e que ali ocupavam o mesmo espaço.

Acordei com a nítida impressão de que o sonho encerrava uma lição: a vida pode ser vivida com delicadeza quando chegamos junto às pessoas, ainda que trazendo muito, como se estivéssemos de mãos vazias (as pessoas se assustam se mostramos tudo o que somos ou temos para oferecer logo na chegada!) e, ainda, que toda transformação, por mais radical que seja, é sempre mais fácil do que supomos.

Deus nos ajude!

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