quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Vamos ao cinema?

A primeira vez que eu vi um filme considerado cult ou de arte ou alternativo ou independente (são tantos os nomes que usávamos, então, para diferenciar esse cinema de autoria daquele do cinema a que chamávamos "enlatados americanos" ou aos moldes de Hollywood, da indústria norte-americana).
Pois bem, nessa tal primeira vez, lembro-me que eu tinha apenas 16 anos e não entendi nada. rsrsrs
Na verdade, eu formei minha sensibilidade para o universo cinematográfico, esse que afinal tinha algo a dizer acerca do humano e para o humano mais sensível em cada um de nós, no Cineclube Oscarito, no Cineclube do Bexiga, no Cine Bijou. Alíás, cheguei a trabalhar no Cineclube Oscarito, depois no Elétrico Cineclube e depois no Veneza Cineclube (antigo Cineclube do Bexiga). Todos eles, assim como o Cine Belas Artes, não existem mais! Tudo isso foi muito importante, assim como a experiência na Assessoria de Imprensa da Pandora Filmes (já nos anos 2000). E, isso tudo foi importante, sobretudo, porque a experiência de fruição do universo cinematográfico, na década de 80 e depois ainda nos anos 90,  passava por esse ritual de ir a uma sala de cinema. Sim, naquele tempo, os filmes não eram baixados dos computadores. rsrsrs

Estou falando disso porque queria divulgar junto aos cinéfilos de plantão, um livro que comecei a ler por motivos muito particulares: eu precisava conhecer algo que nesse período de que tratei aí em cima eu não vivenciara. E explico-me: nós jovens daquele tempo costumávamos discutir cinema, preferências e gostos e estéticas desse ou daquele diretor e/ou escola(s), nos halls desses cineclubes. Isso incluia também a experiência de frequentar a excelente programação do Cineclube da FGV, que já ia me esquecendo de citar. Isso tudo para dizer que, enfim, não éramos leitores ávidos dos críticos de jornal. Contudo, foi nesse período que atuou na área da crítica de cinema, Edmar Pereira, e que trabalhou cerca de 20 anos no Jornal da Tarde. Luiz Carlos Merten lançou, em 2006, um livro pela Coleção Aplauso-Cinema-Brasil, da Imprensa Oficial, no qual ele organizou e apresentou uma série de críticas desse jornalista e que são uma delícia de ler, sobretudo para quem conhece os filmes a que ele se refere em cada uma, ou mesmo para quem deseja conhecer o suprasumo do cinema naquele período e que, portanto, poderá ler as críticas e depois ir atrás dos DVDs desses filmes todos de que ali ele trata.

Quando eu comecei a escrever minhas críticas na página DCinema do Diário do Comércio, recentemente, alguém muito generosamente comparou meu estilo ao desse crítico e foi por isso que eu precisei preencher essa lacuna, evidentemente. É claro que o seu trabalho não tem comparação e eu, graças a Deus, ainda tenho muito a aprender para chegar a seus pés. Estamos vivos para isso, certamente, não é mesmo?

Para suscitar em você o desejo de ler esse livro, reproduzo um trecho exemplar da verve desse autor. Em tempo: o livro chama-se Críticas de Edmar Pereira - Razão e sensibilidade. Trouxe para cá esse trecho, porque resume primorosamente o tom de seu trabalho. Trata-se de um excerto de um texto chamado Autobiografia:

(...) Crítico para que serve? Passa-se pela magia e fascínio de Hollywwod. Descobre-se que isso não tem nada a ver, em cine-clubes, cursos de cinema, conferências, seminários. E, as vezes devagar, as vezes derepentemente, descobre-se que mito e desmistificação podem ser cara e coroa. A gente é as duas coisas, Cantando na Chuva e Acossado. Ou Casablanca e Hiroshima, meu Amor. Ou O Encouraçado Potenkim ou O Iluminado, Cidadão Kane, A Terra, Francisco, o Arauto de Deus, Rastros de Ódio, Rocco e Seus Irmãos, Deus e o Diabo na Terra do Sol, Vidas Secas, A Noite de São Lourenço, A Rosa Púrpura do Cairo. Ou Monsieur Verdeoux ou Jules et Jim. Ou etc, etc, etc...
Natural também é descobrir a correlação existente entre a fantasia dos filmes e a realidade do mundo. De posse desta descoberta, o crítico faz projetos do alto de seu orgulho que ele acredita iluminado: dialogar com as pessoas usando o cinema como álibi. Para valorizar os filmes, as ideias, a estética quando coincidem com sua sensibilidade, com o seu projeto de estar no mundo.
Crítico é por [natureza] pretencioso? Sim - ou do contrário ficaria satisfeito em ser só espectador bem informado, sem a preocupação de informar a ninguém sobre o que acha e pensa. Ou sobre o que acha e pensa que os outros podem achar ou pensar.
(...)
É preciso estar atento, e se possível, forte. Para ver de olhos e coração bem abertos, porque assim as possibilidades de prazer serão sempre mais amplas.

Não vou reproduzir mais nada aqui, porque quero que você compre e leia o livro. Quero também pedir, por gentileza, que você visite a página do DCinema e leia minha mais recente crítica ali, a do filme Borboletas Negras, que estreia nessa sexta-feira nos cinemas de São Paulo.

O trailer do filme é esse aqui:

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