Estou lendo um livro bastante sofisticado.
Eu gosto da literatura de Henry James porque ela nos provoca na medida justíssima do que desejamos apreender ou compreender acerca daquelas sutilezas que há em toda relação humana.
No romance A Taça de Ouro, por exemplo, e que agora leio, é isso mesmo o que acontece...
Você é provocado a desejar compreender o que aquelas pessoas de uma classe social elevadíssima, naquele tempo e lugar determinados, ou seja, no final do XIX, começo do XX, na Inglaterra, estão vivenciando em termos de sentimentos e de interesses.
A focalização do narrador é a determinação de para onde podemos ir nessa compreensão, ou seja, no sentido de até onde...
Isso tudo por que podemos entender o que nos é dito como vontade de uma determinação da própria autoria, mas também de sua narratologia, portanto, como uma construção do desejo de conceder liberdade a cada personagem, naquilo que determinaria o fator da exposição de cada qual, e, ainda, como aquilo que pode ser vivenciado dentro de uma certa liberdade do leitor, que lhe é concedida, para que possa elaborar seus próprios julgamentos. Contudo, esses últimos só podem ocorrer no momento a posteriori, ainda que, inicialmente, isso pareça acontecer simultaneamente...
Pois bem, não acho que eu esteja me fazendo compreender, embora isso não seja um problema aqui, afinal essa postagem não é uma aula de literatura. É apenas um impressão de leitura. rsrsrs
Assim sendo, quero registrar, de todo modo, que ler um romance assim não é uma experiência fácil, porque todo esse exercício exige uma certa disponibilidade, e que, em nosso tempo, dependerá, sobretudo, de uma certa dose de generosidade. Afinal, nessa experiência será necessária a intenção subjacente de um aproveitamento absoluto do próprio tempo dedicado à leitura.
Vejam o trecho abaixo: ele não é um exemplo disso tudo que eu tentava dizer mais acima?
- Parece-me que tivemos dias tão lindos juntos que espero não ser um choque para ti quando perguntar se poderia me ver, com alguma satisfação, como esposo - Como se soubesse que ela não poderia, obviamente não poderia, nem um pouco graciosamente, e fosse ou não responder apressada, ele dissera um pouco mais; quase como se sentisse que deveria ir pensando antecipadamente. Colocara a questão da qual não havia como recuar e que portanto representava o sacrifício de suas embarcações, e o que mais disse significava o impulso redobrado da chama que tornaria certa a combustão. - Isto não é súbito de minha parte, e em alguns momentos eu me perguntei se tu não achavas que eu estava em vias de fazê-lo. Estou assim desde que saímos de Fawns, realmente comecei quando estávamos lá. - Ele falava devagar, dando-lhe, como desejava, tempo para pensar; ainda mais porque isso a estava fazendo olhá-lo atentamente, e fazendo-a também, num grau notável, parecer "bem" enquanto fazia isso; uma consequência grande e, até agora, feliz. De qualquer modo ela não estava chocada, coisa que ele vira apenas como uma humildade bonita, e Adam Verver lhe daria tantos minutos quantos ela quisesse. - Tu não deves pensar que estou esquecendo que não sou jovem.
- Ah, não é isso. Eu é que sou velha. O senhor é jovem. - Foi o que ela respondeu a princípio; e num tom que indicava ter aproveitado seus minutos. A resposta não fora exatamente ao ponto, mas foi gentil: o que ele mais desejava. E nas palavras seguintes ela manteve a gentileza, manteve a voz clara e baixa e o rosto sem franzir. - Também acho que estes dias foram lindos. Eu não deveria ser grata a eles se não pudesse, mais ou menos, imaginar que iriam nos trazer a isto. - Pareceu a Adam Verver que ela havia avançado um passo para encontrá-lo, e que ao mesmo tempo continuava imóvel. Mas sem dúvida isso apenas significava que Charlotte estava, séria e razoavelmente, pensando - exatamente o que ele desejara que ela pensasse. Se ela pensasse apenas o bastante, provavelmente pensaria em concordar com ele. - Parece-me - prosseguiu ela - que é o senhor que precisa ter certeza.
- Ah mas eu tenho certeza. Em questões importantes eu nunca falo quando não tenho. Então, se consegues encarar tal união, não precisas se preocupar nem um pouco.
Eu gosto da literatura de Henry James porque ela nos provoca na medida justíssima do que desejamos apreender ou compreender acerca daquelas sutilezas que há em toda relação humana.
No romance A Taça de Ouro, por exemplo, e que agora leio, é isso mesmo o que acontece...
Você é provocado a desejar compreender o que aquelas pessoas de uma classe social elevadíssima, naquele tempo e lugar determinados, ou seja, no final do XIX, começo do XX, na Inglaterra, estão vivenciando em termos de sentimentos e de interesses.
A focalização do narrador é a determinação de para onde podemos ir nessa compreensão, ou seja, no sentido de até onde...
Isso tudo por que podemos entender o que nos é dito como vontade de uma determinação da própria autoria, mas também de sua narratologia, portanto, como uma construção do desejo de conceder liberdade a cada personagem, naquilo que determinaria o fator da exposição de cada qual, e, ainda, como aquilo que pode ser vivenciado dentro de uma certa liberdade do leitor, que lhe é concedida, para que possa elaborar seus próprios julgamentos. Contudo, esses últimos só podem ocorrer no momento a posteriori, ainda que, inicialmente, isso pareça acontecer simultaneamente...
Pois bem, não acho que eu esteja me fazendo compreender, embora isso não seja um problema aqui, afinal essa postagem não é uma aula de literatura. É apenas um impressão de leitura. rsrsrs
Assim sendo, quero registrar, de todo modo, que ler um romance assim não é uma experiência fácil, porque todo esse exercício exige uma certa disponibilidade, e que, em nosso tempo, dependerá, sobretudo, de uma certa dose de generosidade. Afinal, nessa experiência será necessária a intenção subjacente de um aproveitamento absoluto do próprio tempo dedicado à leitura.
Vejam o trecho abaixo: ele não é um exemplo disso tudo que eu tentava dizer mais acima?
- Parece-me que tivemos dias tão lindos juntos que espero não ser um choque para ti quando perguntar se poderia me ver, com alguma satisfação, como esposo - Como se soubesse que ela não poderia, obviamente não poderia, nem um pouco graciosamente, e fosse ou não responder apressada, ele dissera um pouco mais; quase como se sentisse que deveria ir pensando antecipadamente. Colocara a questão da qual não havia como recuar e que portanto representava o sacrifício de suas embarcações, e o que mais disse significava o impulso redobrado da chama que tornaria certa a combustão. - Isto não é súbito de minha parte, e em alguns momentos eu me perguntei se tu não achavas que eu estava em vias de fazê-lo. Estou assim desde que saímos de Fawns, realmente comecei quando estávamos lá. - Ele falava devagar, dando-lhe, como desejava, tempo para pensar; ainda mais porque isso a estava fazendo olhá-lo atentamente, e fazendo-a também, num grau notável, parecer "bem" enquanto fazia isso; uma consequência grande e, até agora, feliz. De qualquer modo ela não estava chocada, coisa que ele vira apenas como uma humildade bonita, e Adam Verver lhe daria tantos minutos quantos ela quisesse. - Tu não deves pensar que estou esquecendo que não sou jovem.
- Ah, não é isso. Eu é que sou velha. O senhor é jovem. - Foi o que ela respondeu a princípio; e num tom que indicava ter aproveitado seus minutos. A resposta não fora exatamente ao ponto, mas foi gentil: o que ele mais desejava. E nas palavras seguintes ela manteve a gentileza, manteve a voz clara e baixa e o rosto sem franzir. - Também acho que estes dias foram lindos. Eu não deveria ser grata a eles se não pudesse, mais ou menos, imaginar que iriam nos trazer a isto. - Pareceu a Adam Verver que ela havia avançado um passo para encontrá-lo, e que ao mesmo tempo continuava imóvel. Mas sem dúvida isso apenas significava que Charlotte estava, séria e razoavelmente, pensando - exatamente o que ele desejara que ela pensasse. Se ela pensasse apenas o bastante, provavelmente pensaria em concordar com ele. - Parece-me - prosseguiu ela - que é o senhor que precisa ter certeza.
- Ah mas eu tenho certeza. Em questões importantes eu nunca falo quando não tenho. Então, se consegues encarar tal união, não precisas se preocupar nem um pouco.
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