sábado, 11 de abril de 2009

Sexta-feira da Paixão

Tenho procurado tornar-me uma pessoa melhor. As dificuldades para alcançar esse intento são inúmeras a começar por, ainda e por vezes, manifestar minhas necessidades de um modo hostil: não quero estar com determinadas pessoas, quando elas são aborrecidas.
Mas o que fazer quando não é possível escolher tais companhias? As vezes, trata-se de um parente ou de uma pessoa cuja relação é de ordem profissional. Nesses casos, o melhor seria elaborar para si o aborrecimento que vem desse outro, e a partir da própria recepção: afinal, tudo tem um fim. Eu não preciso ser hostil só porque esse momento do contato humano está sendo desagradável.
Um episódio, a título de ilustração: Nesse feriado, decidi que me dedicaria aos estudos, em casa. Não moro só. Minha irmã resolveu visitar-nos, a mim e à minha mãe. Vinha com o marido e a filha pequenina. Eu os recebi, mas retirei-me para continuar minha tarefa. A certa altura, a criança, que é robusta, hiperativa e extremamente falante e simpática, entrou no meu quarto perguntando pela mãe. Ela tem apenas 3 anos, mas se comporta como e parece ter 6 anos. Eu converso com ela, normalmente, e tudo indica sou compreendido: Não sei de sua mãe, ela não está aqui e eu não posso saber onde se encontra...
Ah tá, eu vou procurar
- Saiu saltintante, linda e feliz.
Minutos após, ouço gritos horrendos, acompanhados de um choro dilacerante. Extremamente incomodado, saio e, em alto brado, começo um discurso para a menina: Não faz sentido esse seu escândalo. Você não está só, mas na companhia do seu tio, do seu pai e da sua avó. [Então, lembrei-me que ela tinha 3 anos e que devo ter lido que crianças pequenas acham que vão perder a mãe para sempre se ela não está no seu campo de visão. É estranhíssimo pensar o que é certo e continuar agindo, exteriormente, de um modo equivocado] A sua mãe vai voltar! [Agora dirigindo-me ao pai e à avó] Eu não suporto isso. Não posso trabalhar nesse tipo de ambiente. Eu não tenho filhos!
Voltei para o quarto, mas o circo já fora armado. Segundo após, minha mãe veio protestar: Você não pode agir dessa maneira. As pessoas não vão querer voltar aqui. O seu cunhado pegou a menina e saiu protestando. Isso não são modos!
Minha mãe tem sempre razão, como todas as mães do mundo.
shit, shit, shit.
Bem, o resultado é que a casa voltou à paz e eu produzi imensamente durante todo o dia. No fim desse expediente, lembrei-me do episódio e liguei para o meu cunhado pedindo mil perdões, justificando-me e lamentando o ocorrido.
Parece que ele concedeu-me o perdão. Definitivamente, a criança não deve se lembrar do episódio. E com ela eu acabo por me entender, nem que seja com o auxílio dos ovos de Páscoa. Sei que ela tem um bom coração. E eu, eu quero tanto ser uma pessoa melhor!

6 comentários:

  1. "Isso não são modos"... sua mãe é maravilhosa... mande-lhe meus cumprimentos!
    Beijos,
    Lilian

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  2. Lilian,
    Ela é, não é?
    Darei o seu recado.
    outros tantos beijos.

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  3. Episódio engraçado este, embora deve ter sido desagradável no momento. Acho interessante o seu "quero ser uma pessoa melhor" pois sempre acreditei que o primeiro passo para isto é ter consciência que precisamos ser pessoas melhores. As piores pessoas são as que acham que são perfeitas e que não precisam mudar, os outros que as aceitem como são. Infelizmente a mudança é feita assim, passando por episódios como este, é assim que somos "lapidados", reconhecendo que precisamos melhorar e nos esforçando para tal. Boa sorte a todos nós nesta empreitada...

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  4. Você realmente foi extramamente grosseiro,não precisava ter agido dessa maneira. Realmente precisamos nos observar e procurarmos modos de sermos mais humanos, do imaginamos que realmente somos... Abraços,tem uma nova postagem lá no meu... Comente viu?

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  5. Olyvia,
    Exagerada! Fui talvez rude, hostil como eu chamei. Mas não precisamos chamar de "extremamente" grosseiro... Até porque dentro do coração a intenção não era essa. Fui egoísta, estava preocupado com o meu espaço para trabalhar, enfim. É claro que as outras pessoas sempre terão uma recepção dentro da sua própria subjetividade em relação às atitudes que tenhamos. Penso que o que vale é nosso desejo de sim, melhorar, a começar por evitar agir desse modo, é verdade, grosseiro, seja ele extremado ou não. Eu tenho esperanças nesse intento. A ver.

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