domingo, 12 de abril de 2009

O Cinema de Maya Deren


Hoje, Domingo de Páscoa, tive o imenso prazer de conhecer o cinema de Maya Deren. Essa moça fez seis curta-metragens entre os anos 40 e 50. E todos estavam lá, na mostra que a Caixa Cultural São Paulo, na Praça da Sé, promoveu de 5a passada até esse domingo. Eram pouquíssimos os presentes e a sessão teve uma aura de coisa para eleitos. Aliás, é um cinema tão radical na sua proposta que sempre foi e será para poucos. Maya Deren, do início dos anos 40 até sua súbita morte em 1961, foi a definidora da vanguarda no cinema americano.
O primeiro filme, Meshes of the afternoon (1943-1959, pb, 14 min.) nos toma desde o seu início. Ficamos comovidos, paralisados, apreensivos e aguardando o sinistro que virá. A atmosfera é de irrealidade e por isso mesmo é tão verdadeiro. O seguinte, foi At Land (1944, pb, 15min.) é também irrealidade pura e com um senso de humor único, proveniente da atmosfera de sonho. Como bailarina ela dança no cinema, ou melhor, seu cinema é pura dança física e corporal e cheio de alma. São filmes que flertam intensamente com o abismo do ser. Ela está para o cinema, como Virginia Woolf ou Clarice Lispector estão para a Literatura, sem dúvida.
Talvez o que mais eu tenha sentido foi isso: a magia feminina, pura, perturbadora. Comungando com a vida na mesma intensidade que com a morte. É um cinema de puro corpo e alma. É também o que somos convidados a ir sentindo com os demais filmes, que então, apresentam outros atores, bailarinos (que fazem do seu cinema a dança da imagem ou uma imagem que pode ser dança): A Study in Choreography for Camera (1945, 4 min.); Ritual in Transfigured Time (nesse até mesmo Anaïs Nin aparece na tela, 1945-46, 15 min.); Meditation on Violence (1948, 12 min.) e The very Eye of Night (1952-1959, 15 min.). Todos PB. O catálogo da mostra informou que os filmes de Maya Deren estão disponíveis no site da Mystic Fire Vídeo. Isso significa que o DVD com todos os curtas pode ser pedido nesse site. Vai lá: http://www.mysticfire.com/

3 comentários:

  1. Dica ótima!
    Em tempos de muita imagem, é bom lembrar como é isso, de cenas moventes, querendo dizer e dizendo, antes do turbilhão imagético que a gente nem bem digere, nem bem recebe, não transmuta...
    A imagem que faz a gente se mover é a que vale a pena, né?
    merci, mon cher.

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  2. Luciana,

    Isso eu também senti. O cinema de Maya Deren é daqueles em que imagem faz todo o sentido, não tem nada a ver com esse turbilhão imagético em que estamos mergulhados...

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  3. Um dos que mais me encanta é o inacabado Witch's Cradle, é algo tão surreal, místico e magnífico.

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