quarta-feira, 15 de abril de 2009

Desvario, de David Grossman

Estou apaixonado pela literatura israelense contemporânea.
Depois de ter lido algumas das excelentes obras de Amós Oz, agora estou lendo Desvario, de David Grossman. A Obra traz duas novelas: a primeira que dá título a essa edição, Desvario, apresenta dois personagens no interior de um automóvel e o clima lembra muito o daqueles road movies do cinema independente americano. No banco de trás do automóvel e com a perna quebrada, Shaul Krauss, um intelectual israelense de 55 anos, conta à cunhada Ester, que dirige o automóvel, detalhes do verdadeiro drama de seu amor pela esposa, Elisheva: ela há dez anos tem um caso amoroso com um artista russo chamado Paul. Trata-se de um autêntico tratado sobre o ciúmes e nele comungamos com a imaginação delirante e repleta de desvarios de todos os personagens construídos. Aliás, como leitores, também participamos desse jogo. Afinal, o que acontecerá quando chegarem ao destino dessa viagem?
Já a segunda novela trata da dificílima espécie de reconciliação de uma mãe moribunda com sua filha mais velha. No presente da narrativa, a filha lê para a mãe, deitada no leito de morte, uma narrativa que escreveu: a história de um amor proibido entre uma professora de Yoga (personagem inspirada na sua própria mãe), e que tem cerca de 40 anos, e um menino de apenas quinze anos. Aqui eu vejo a narrativa como do tipo iniciática, há muito de os mistérios da alma sendo desvendados.
Selecionei-lhes alguns trechos para despertar em cada um, espero, o possível desejo de leitura dessa obra magnífica. Eles pertencem à segunda novela, No corpo eu entendo:

É assim que eu capto as coisas, tudo é intuição para mim, ela explica, com um dar de ombros, a si própria e àqueles que lhe são caros, reconheço na vidência, não conheço na evidência...

...quando eu faço eu entendo. No corpo eu entendo.


E ela, como de hábito, ouviu meu silêncio, e, em vez de responder ficou repetindo, insistindo em me ensinar como cuidar de mim, e como não permitir que a tristeza do mundo, ou qualquer outra coisa, penetrasse no meu lugar interior. Nem mesmo seu gosto pela vida, enfatizou reiteradas vezes, e naquela época eu não tinha nem uma única alma no mundo para amar. Nem mesmo o seu maior maior maior amor - não deixe entrar lá. E então sorriu, seu sorriso encantador, sedutor: nem mesmo eu, não me deixe entrar.

Preciso agradecer de Público à minha amiga Paula, por ter apresentado ambos a mim, ou seja, Amós Oz e David Grossman. O que seria de nós sem nossos amigos também apaixonados pelos livros, pela leitura?

5 comentários:

  1. Tão bom será se essa vigorosa poética puder cavar um caminho de superação da desgraceira depauperadora que vive Israel, esse território instituído numa usurpação que lhes rende tanto morticínio e asassínio... Viva a literatura, que seja forte pra plantar uma virada!

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  2. Sim, sim. Amós Oz e David Grossman são ativos, combativos e também se unem nessa causa. Não só pela poética vigorosa que constroem em suas obras, mas por atitudes propriamente políticas nesse sentido e direção. Eles são ótimos!

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  3. Olá, Josafá.

    Obrigado pelo comentário no Vísceras.

    Abraços!

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  4. Visitar o seu blog é sempre muito bom. Eu é que agradeço.

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  5. Não leia nunca "A Mulher Foge" do Grossman! Você fica rezando para chegar à última página. O livro é bom, os personagens verossímeis, mas é imperdoável o arrastar de páginas e mais páginas no que poderia ser contado com economia e sensibilidade.

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