terça-feira, 20 de agosto de 2013

O Caráter Revolucionário by Erich Fromm


Quando eu tinha 16 anos, eu lia muito Erich Fromm. Obviamente, por vezes, eu achava tudo muito profundo e não tinha uma compreensão plena do que estava lendo. Mas eu me lembro de me identificar com muito do que ele sempre disse por meio de suas obras. Naquele tempo, eu nem sabia o que tinha sido a psicanálise para a história e tampouco o que ela seria para mim mesmo, 15 anos mais tarde.

A verdade é que eu fiz análise durante um tempo e foi tão bom! Por conta dessa experiência, eu me sinto muito grato a estes caras que pensaram a psique humana, e, aliás, penso que todos nós, em sã consciência, deveríamos nos sentir gratos.
Hoje minha vibe não é a de aceitar prontamente o discurso psicanalítico ou ao menos um aspecto dele e que tende a promover a desconstrução da metafísica, ou ao menos pretende desconstruir o que assim se costuma chamar, ou seja, qualquer interpretação ou vivência transcendente da vida humana no planeta.
Erich Fromm apresenta-nos a vantagem de ser um livre pensador e humanista. Eu tendo a confiar muito mais neste tipo de intelectual e cientista.


Emprestei esta semana, na Biblioteca Mário de Andrade, para matar saudades, seu livro: O dogma de Cristo e outros ensaios sobre Religião, Psicologia e Cultura. 2ª ed., Trad. Waltensir Dutra, Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1965.
No ensaio intitulado “O Caráter Revolucionário”, ele chega a conclusões deliciosas e que eu preciso compartilhar com vocês! Enjoy it!

(...) entendo como caráter revolucionário não um conceito ético, mas um conceito dinâmico. Não se é “revolucionário” nesse sentido caracterológico porque se pronunciem frases revolucionárias ou se participe de uma revolução. O revolucionário, nesse sentido, é o homem que se emancipou dos laços de sangue e solo, da mãe e do pai, das lealdades para com o Estado, classe, raça, partido, religião. O caráter revolucionário é humanista no sentido de que se sente parte de toda a humanidade, e nada que seja humano lhe é estranho. Ama e respeita a vida. É um cético e um homem de fé.

É cético porque suspeita das ideologias como disfarce de realidades indesejáveis. É um homem de fé porque acredita no que existe potencialmente, embora ainda não tenha nascido. Pode dizer “não” e ser desobediente precisamente porque pode dizer “sim” e obedecer a princípios genuinamente seus. Não está semi-adormecido, mas plenamente acordado para as realidades pessoais e sociais que o cercam. É independente, e o que é deve aos seus esforços. É livre, e não o servo de ninguém.

Esse sumário pode sugerir que descrevi a saúde mental e o bem-estar, e não o conceito do caráter revolucionário. Na realidade, a descrição dada reproduz a pessoa sadia, viva, mentalmente sã. Minha afirmação é a de que a pessoa sadia num mundo insano, o ser humano plenamente desenvolvido num mundo aleijado, a pessoa plenamente desperta num mundo semi-adormecido – é precisamente o caráter revolucionário. Quando todos estiverem acordados, não haverá mais profetas ou caracteres revolucionários – haverá apenas seres humanos plenamente desenvolvidos.

A maioria das pessoas, naturalmente, jamais teve caráter revolucionário. Mas a razão pela qual não vivemos mais nas cavernas é precisamente por ter havido sempre um número suficiente de caracteres revolucionários na história romana para nos tirar das cavernas e de seus equivalentes. Há, porém, muitos outros que pretendem ser revolucionários quando na verdade são rebeldes, autoritários ou oportunistas políticos. Creio que os psicólogos têm uma função importante no estudo das diferenças de caráter entre esses vários tipos de ideólogos políticos. Mas para isso é preciso, receio, ter algumas das qualidades que procuramos descrever aqui: devem ter um caráter revolucionário. 

2 comentários:

  1. Caro Josafá.

    É um prazer, uma preciosidade ler seus textos. No Facebook, você é uma pérola em meio a escombros. Lendo esta -

    http://blogdojosafacrisostomo.blogspot.com.br/2010/01/alegria-de-clarice-lispector.html

    - sua postagem sobre Clarice, me perguntei se você conhece a leitura que Aracy Balabanian faz dessa crônica. Se quiser, terei prazer em enviar-lhe.

    [ A crônica chama-se Precisa-se e faz parte do volume A descoberta do mundo }

    Tomo a liberdade de adicioná-lo no Facebook.

    Abraço,

    Ygor.

    ps: quem é esse cara? informação básica: doutorado em literatura, ufpr, clarice lispector, poesia, filosofia, etc.

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    1. Nossa Ygor, eu fiquei emocionado. É tão bom ouvir tudo isso e de uma pessoa que faz doutorado em Literatura! Eu gostaria sim que vc me enviasse a leitura de Balabanian (eu gosto tanto dela e acho que ela é tão aproveitada na televisão!) Amo Clarice também! Deve ser uma delícia estudar Clarice, escrever a respeito da sua obra, né? Eu fiz graduação em Letras na usp e cheguei a iniciar mestrado em literatura na Unb mas não terminei. Esse blog é muito pessoal não tem nada de acadêmico...rsrsrs Mas eu gosto tanto de ter este espacinho em que de vez em quando aparece alguém tão bacana como vc e que curte! Fique à vontade, eu sempre aceito amigos no face. E raramente bloqueio (só se a pessoa for muito muito lamentável!) rsrsrs abração!

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