domingo, 10 de março de 2013

A caneca

Nosso cotidiano é feito de episódios fortuitos aos quais não prestamos quase atenção ou talvez apenas exercitemos uma atenção desinteressada a fim de ocultar certos equívocos a que estamos apegados, portanto, sempre salvaguardando o seu constante retorno, enfim, a possibilidade de que sobrevivam em nós.

Eu tenho aprendido a notar o que estou fazendo de triste, no momento mesmo em que estou fazendo isso, graças a Deus!

Embora durante a observação eu não consiga de imediato mudar o rumo da performance lamentável a que me entrego ali, ainda assim, fico na espreita e a lamentar, assistindo a mim fora de mim, enquanto os laivos estertores da minha própria sombra demonstram que vivo uma experiência sofrida.

Nesse domingo, por exemplo, fui almoçar aqui em casa em companhia da minha mãe que tinha preparado o almoço e também um suco natural de goiaba muito saboroso.
Então, enquanto eu colocava a mesa, dispunha os pratos e talheres, foi quando pensei em usarmos a dupla de canecas de ágata que eu comprara um tempo atrás, ou seja, uma especialmente para mim e outra para ela.

A vermelha eu não encontrei, apenas a verde. Perguntei-lhe onde estava a outra e ela me respondeu que um homem passara por nossa porta pedindo para tomar água ou café e que ela deixou que ele levasse a caneca.

Imediatamente protestei, veementemente, achei um absurdo, lamentei, senti até tristeza por perder assim a canequinha linda e pela qual eu tinha tanto apego e até carinho! kkkkk
Mas, dentro de mim, simultaneamente, senti-me ridículo: como assim ter carinho por uma caneca que me custou R$7 e que temos oferecidas aos montes por aí?

Se me sinto apegado a um objeto material tão reles como poderei afinal ascender espiritualmente?

Essa será sempre a pergunta que não pode ser calada.
Eu acredito que para me elevar espiritualmente tenho que exercitar o desapego, abandonar esse amor desmedido à matéria. E tenho que amar o espírito de todas as coisas em primeiro lugar, simplesmente porque seu invólucro é de ordem transitória.

Tenho que oferecer a água dentro da caneca e não querer nenhum retorno, nem da caridade de ofertar água a quem tem sede e muito menos o retorno da caneca, se ainda for este o caso!

O essencial é sempre aplacar a sede de qualquer um que queira e precise viver.
Querer viver é amar, só tem amor quem vive por amor, para amar.
Que ao menos assim seja, graças a Deus!

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