quarta-feira, 11 de julho de 2012

Bliss or the pear tree


via World Trees

Não há motivo algum para se sentir infeliz, vamos combinar assim. Ainda que, por exemplo, sei lá... você descobrisse que seu namorado tem um envolvimento com outra pessoa. Ainda assim! Tampouco isso justificaria o sentimento de infelicidade mórbida que costuma acometer algumas pessoas, as quais eu conheço e talvez você mesmo também conheça.

A tal descoberta justifica, quando muito, o término da relação, justificaria também, quiçá, o perdão e o recomeço, mas não o sentimento de tristeza profunda e que acompanha tantas decepções amorosas.

Fiquei pensando nisso ao ler o conto Bliss, “Felicidade”, de Katherine Mansfield.

Bertha Young, Pearl Fulton e Harry vivem qualquer coisa que, afinal, não poderia ser catalogada em um nível comum de relação, mesmo aquela que já se esperaria de um triângulo, ou seja, quando o próprio "triângulo"  não é de fato desejado, ao menos por um dos três vértices.

Nesse conto há uma cumplicidade entre mais de um par: entre Bertha e Pearl e entre Pearl e Harry. E claro, uma cumplicidade em algum sentido mais profundo, para além da natural ou que já se esperaria, entre Bertha e Harry: o casal "oficial".

Mas, então, no ápice do que poderia ter sido uma situação que, entre os mortais comuns, decairia  para uma espécie de sofrimento imensurável, temos tão somente essa singela passagem:

Bertha correu para as janelas largas do jardim. "Deus! O que vai acontecer agora?".
Mas a pereira estava tão linda como sempre, tão imóvel e florida como sempre.
  
No fundo, é isso o que me interessou apreender nessa experiência de leitura: o fato de que essa linda pereira continua imóvel e florida como sempre.

Mesmo que a apropriação da metáfora possa parecer "brega", não vou me furtar a dizer que há, sim, uma pereira dentro de cada um de nós e é a isso que desejo também chamar felicidade, porque se trata daquela que não se dissipa por nenhum motivo da ordem dos anseios egoístas, menos ainda por um motivo que pretenda ser o oposto dessa beleza e desse desabrochar sem igual. Mesmo quando me desespero e clamo por Deus e/ou me pergunto acerca do futuro incerto.

Simplesmente assim ou ainda que não tão simplesmente! ;-)

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