Ontem, alguém me falava acerca da importância de não ouvirmos música ruim: de baixa qualidade. Por exemplo, com mensagens nas letras das canções que só convidam à discórdia e/ou ao desamor. Ou ainda que insistam na vulgaridade, na devassidão: quando, por exemplo, há um elogio ao descontrole da libido, considerado banal, e cujos resultados, sobretudo para a juventude, são sempre de dor. No Brasil, a coisa tem desandado nesse sentido e todo mundo já percebeu não é mesmo?
Então, lembrei-me imediatamente que, quando a arte é de um nível superlativo, o desenvolvimento desse mesmo instrumento, a canção, é completamente diferente e com finalidades opostas e isso justificava a minha ansiedade para ver, no domingo, o show de Sharon Jones e The Dap-Kings.
Eu e meus amigos chegamos ao local da apresentação, o Auditório Ibirapuera, quando a banda já se encontrava toda no palco e no momento exato em que entrava no palco, vestindo um vestido todo dourado, a cantora. Sharon Jones vibrava pela sua voz a condição feminina que ela representa por excelência: intensa, verdadeira, sedutora, talentosa e amorosa.
Ela cantava todo o tempo, desde o início e até o fim, sem intervalo, sem qualquer interrupção, sequer para falar, uma vez que quando precisava explicar qualquer coisa ao público [como quando quis ficar descalça ou até mesmo quando precisou calçar novamente as sandálias] ela justificava tudo o que fazia cantando... E também dançava, como alguém muito jovem, de grande vitalidade! [ela que não é nenhuma mocinha]
Aliás, algo que me tocou profundamente foi ver a plateia que se formou também quase toda ela composta de gente jovem. Jovialidade atrai juventude! Alguns sequer conheciam a cantora, mas se tornaram fãs absolutos naquele momento! E cantavam e dançavam e aplaudiam! Uma jovem perto de mim perguntou para outra: “Como é o nome dela mesmo? Sara Jane?” “Não, é Sara Jones!”
Eu não pude corrigi-las porque nesse momento Sharon Jones iria cantar o hit mais incrível que alguém pode ter no seu curriculum:
100 days, 100 nights
To know a man's heart
100 days, 100 nights
To know a man's heart
And a little more
Before he knows his own
E o que dizer da sua performance no bis? Depois dessa interpretação eu precisei ir embora, imediatamente, por que aquele momento pedia que fosse muito bem guardado no meu coração.
Ela cantou para o público em êxtase:
Ela cantou para o público em êxtase:
This is a man's world, this is a man's world
But it wouldn't be nothing, nothing without a woman or a girl.
Aliás, podemos dizer que nessa frase se resume toda a lição musical do último domingo, dia dos namorados, em São Paulo. O show de Sharon Jones é, em muitos sentidos, um convite ao entendimento do quanto a mulher deve ser respeitada, integralmente, e, sobretudo, do quanto o machismo é algo degradante. A liberdade e a força de expressão da artista não deixam de ser um libelo disso mesmo.
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