domingo, 15 de fevereiro de 2009

Da educação musical das crianças.

Quando eu era criança, estávamos todos na década de 70. Naquela época, a televisão já influenciava a vida cotidiana do brasileiro. Sobretudo, a Rede Globo e suas novelas. Lembro-me de, quando eu estava na 4a série, a escola municipal em que eu estudava ter promovido uma festinha por ocasião talvez do dia das crianças e, no bailinho, eu dancei com as meninas e o som que imperava era o da Disco Music, por influência da novela Dancin Days, de Gilberto Braga. Era 1978. Foi uma delícia: as meninas vestiam mini-saias e usavam sandálias com brilhantes meias soquetes. E dançar era uma celebração.

Naquele contexto da música nacional, estávamos ouvindo Dancin Days - com As Frenéticas (tema de abertura da novela); Hora De União (Samba Soul) - com Lady Zu e Totó Mugabe; Amanhã, com Guilherme Arantes - (tema da personagem Júlia); Agora é Moda - com Rita Lee; Kitche Zona Sul, com Ronaldo Resedá (tema do personagem Beto); Solitude, com Gal Costa (tema da personagem Yolanda); Copacabana, com Dick Farnei (tema do personagem Alberico). Havia, é claro, os hits internacionais da mesma novela, que eram, entre outros: Dancin' Days Medley (Night Fever / Stayin' Alive / You Should Be Dancing / Nights On Broadway / Jive Talking / Lonely Days, Lonely Nights / If I Can't Have You / Every Night Fever) com Harmony Cats; Macho Man, com Village People; e Follow You, Follow Me, com o Genesis, entre outros. Tudo isso era muito dançante, divertido e... inocente.

Digo isso, porque de lá para cá muita coisa mudou no caldeirão musical brasileiro, bem como internacional. As crianças, evidentemente, continuam acompanhando as febres do que os adultos e a Rede Globo, entre outros canais televisivos, apresentam como opção no cardápio musical popular. E as crianças, o que pode ser saudável, continuam querendo dançar e, de fato, estão dançando.

Contudo, lembro-me de quando, por exemplo, apareceu o "É o Tchan!", um grupo musical brasileiro de pagode baiano, que se tornou muito popular na segunda metade da década de 90 e que apresentou diversas canções de teor nitidamente "erótico" e de duplo sentido. O tal grupo se popularizou com a ajuda de um trio de dançarinos, que em sua primeira e original formação eram Carla Perez, Débora Brasil e Jacaré e que também tinha nos vocais os chamados "Cumpadi" Washington e Beto Jamaica.

É evidente que toda dança tem um apelo corporal, físico mesmo e dentre outra coisas pode despertar a libido, mas a proposta desse tipo específico de trabalho, como o daquele grupo, enquadra essa libido em um modelo que resulta em um comportamento machista e, no mínimo, de gosto absolutamente duvidoso. E quando você se dá conta há crianças de 3, 4 anos, nas festinhas das famílias, reproduzindo as tais danças desse grupo, entre outros similares, e cantando suas músicas.

De lá para cá, a coisa toda se agravou ainda mais, sobretudo se levarmos em consideração o que o chamado Funk carioca vem promovendo nesse viés da vulgarização da experiência sexual entre seres humanos, chamados, então, de cachorros e cachorras. Aliás, o que determinadas propostas do funk carioca apresenta faz com que Carla Perez e sua trupe pareçam mesmo mais inocentes, ou seja, faz com que suas performances nos pareçam a essa altura "brincadeira de criança".

Como não é possível ser somente contra. Acho patético questionar a expressão dessas manifestações apenas por um viés moral ou de caráter censor, uma vez que, afinal, nada fará com que tais manifestações deixem de acontecer. Penso que ser vulgar é também uma característica do ser humano e isso desde há muito, bem como também é do humano proferir juízos de valor questionáveis. Então o que fazer? O ideal é ainda orientar as crianças e dizer-lhes com todas as letras: Essa música pode ser envolvente, mas é vulgar. É de gosto duvidoso, é, inclusive, preconceituosa com a mulher, com o gay, etc. Você já parou para pensar nisso? Então, vamos analisar a letra e o gestual dessa dança, por exemplo.

Tudo o que é analisado é, naturalmente, desmascarado e perde o caráter de atitude inquestionável. Outra possibilidade é ainda a de apresentar às crianças alternativas musicais, como as músicas divertidas e interessantes de outrora, da década de 70, por exemplo. Eu, se tivesse filhos, era exatamente o que eu faria para lhes orientar nesse mundo vasto de sons e movimentos.

4 comentários:

  1. Essa foi a melhor critica que li nos últimos tempos a respeito do que vem acontecendo com a música e toda essa conspurcação levada não apenas a adultos, talvez seja esse tipo de educação que faça crescer dia a dia a pedofilia e o sexo desenfreado e inconsequente.
    Sorte

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  2. Olyvia,

    Parece que o sexo sempre nessa "zona" de risco do desenfreado e inconsequente. Agora Pedofilia é triste muito triste e eu penso que esse post queria um tanto lembrar desse risco pior. Nenhuma criança deveria sofrer tal abuso e os adultos deveriam ser mais responsáveis, ao menos refletir mais com relação a esse tipo de preocupação que tentei demonstrar. Obrigado pelo apoio, pelo elogio.

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  3. nossa!!!!musíca é tudo gente..se todos tivessem,
    um pouco de cultura nusical....seriamos outro continente.....rsrsrsrs

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