Comer pode ser um imenso prazer. Eu não posso comer todos os dias em bons restaurantes e nem mesmo em maus restaurantes. Assim sendo, todos os dias como a muito boa comidinha caseira que fazemos eu e minha mãe.
Contudo, em dia de pagamento, costumo dar-me o presente de comer fora. E, então, entro num bom restaurante, que não precisa ser o mais caro da cidade, of course.
Sempre sozinho, sento-me e fico fazendo cara de paisagem enquanto aguardo o atendimento, que, como todo bom freguês, espero que seja o melhor, sobretudo no tocante à gentileza, educação e aos sorrisos. O cardápio será sempre bom, eu sei. Procuro escolher lugares que me sirvam alguma coisa leve e feita com os melhores ingredientes e sobretudo que eu perceba que aqueles que comandam as panelas estejam de bem com a vida, recebam o justo pelo seu trabalho e, assim, o façam com amor. Quem cozinha precisa ter amor pelo que faz, talvez mais do que todo mundo que trabalha. Eu vou comer, literalmente, o fruto desse trabalho.
Hoje, fui ao Caffe Latte, na Rua do Comércio, 58, centro de São Paulo. Restaurante lotado, não havia mesas disponíveis. O gerente da casa (?), muito simpático, perguntou-me se eu ficaria incomodado de comer no balcão, estando sozinho como estava. Aquiesci. Faço o pedido: Penne ao molho Mediterrâneo.
Na hora em que trouxeram o prato, vi que era um prato de penne, mas logo estranhei a aparência, eu pensava que o tal molho mediterrâneo levaria tomates, seria vermelho, e o prato que me colocaram na mesa, embora de penne, continha um molho branco. Como não tinha certeza de nada disso, comecei a comer e senti o gosto delicioso de bacalhau: Adorei!
A moça que acabara de deixar o prato, voltou, dizendo que tinha errado a entrega do pedido. Sem graça, perguntei se eu poderia continuar comendo aquele mesmo, e, claro, ela concordou.
Na hora de pagar a conta a boa surpresa, paguei o valor do penne ao molho mediterrâneo (mais barato) e não aquele que comi, ou seja, o do molho de bacalhau, cujo valor fiquei sem saber quanto era. Quando perguntei quanto eu devia pagar pela diferença (que imaginei que havia) a moça muito cordata disse-me:
- Não, o erro foi meu!
Que imenso prazer e ainda maior o de viver em um mundo civilizado e de boas surpresas, ainda que, ao que parece, isso só possa ocorrer de quando em quando, quiça, uma vez a cada mês.
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