domingo, 15 de fevereiro de 2009

Ser ou não ser vegetariano

Outro dia, uma tia contou-me que um primo meu, filho de sua irmã, tinha se decidido: agora é um vegetariano. Ela achou estranhíssima a decisão do rapaz, em geral os carnívoros de plantão acham mesmo estranhíssimo que alguém decida não comer mais carne, um tão antigo e justificado hábito, não é mesmo? Já a mim causou-me inveja a decisão do meu primo. Não sou dos que preferem carne a qualquer outra coisa e até mesmo costumo fugir de churrascos comunitários, em que homens barrigudos e mulheres não menos barrigudas se refestelam em meio a fumaça e odores de carne crua queimando na chapa. Mas, ainda como um filé de peito de frango, ou uma massa em molho à bolonhesa... Como e depois me penitencio ficando um bom tempo frequentando apenas a ala dos vegetais e legumes e frutas e cereais, no supermercado.
O argumento daquele meu primo é básico: não vou comer um animal e que foi morto para que eu o comesse. Já o argumento de uma amiga para não comer nem peixe, e que até Cristo comeu!, é ainda mais essencial: "Não como nada que tenha olho".
Espero um dia poder responder assim, e com todas as letras, àqueles que me perguntarem: Você não come carne?!
Estou falando disso porque, ontem, meu escritor preferido falou no post do seu Caderno o que os chineses fazem com as aves cujas penas recheiam nossos travesseiros e fiquei penalisado.
Leiam:

Penas chinesas

Fevereiro 12, 2009 by José Saramago

Meter uma lagosta viva em água a ferver e cozinhá-la ali é uma velha prática culinária no mundo ocidental. Parece que se a lagosta já for morta para o banho, o sabor final será diferente, para pior. Há também quem diga que a rubicunda cor vermelha com que o crustáceo sai da panela se deve justamente à altíssima temperatura da água. Não sei, falo por ouvir dizer, sou incapaz de estrelar convenientemente um ovo. Um dia vi num documentário como alimentam os frangos, como os matam e destroçam, e pouco me faltou para vomitar. E outro dia, que não se me apagou da memória, li numa revista um artigo sobre a utilidade dos coelhos nas fábricas de cosméticos, ficando a saber que as provas sobre qualquer possível irritação causada pelos ingredientes dos champús se fazem por aplicação directa nos olhos desses animais, segundo o estilo do negregado Dr. Morte, que injectava petróleo no coração das suas vítimas. Agora, uma curta notícia aparecida nos jornais informa-me de que, na China, as penas de aves destinadas a recheio de almofadas de dormir são arrancadas assim mesmo, ao vivo, depois limpas, desinfectadas e exportadas para delícia das sociedades civilizadas que sabem o que é bom e está na moda. Não comento, não vale a pena, estas penas bastam.

6 comentários:

  1. Galinhas, porcos e vacas não tem outra função no mundo a não ser nos servir de alimentos, pois são derrubadas matas virgens para se fazer pastos. E seguindo essa linha de raciocínio vale a pena ser vegetariano...

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  2. Josafá,
    Mais um vez você mexeu na ferida que incomoda muita gente. Parabéns!

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  3. Tem razão, mas um joelhinho de porco, bem grelhado, com mostarda, é suficiente para dar cabo a qualquer pudor alimentar vegetariano, meu caro Crisóstomo.

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  4. Olyvia,
    Eu não sei se os seres vivos têm determinada função apenas em relação a nós, os seres humanos. Tudo é também tão cultural, Na índia,
    a vaca, por exemplo, não participa dessa função sugerida. De qualquer modo, precisamos comer. Essa é a verdade que não pode ser calada: Você tem fome de quê?

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  5. Alessandra,

    A ideia nem era mexer na ferida não. Era pensar na ferida que nossas atitudes tão "humanas" resultam de ferida para o restante dos seres, para o planeta, enfim...
    É uma preocupação que eu tenho comigo, e que desejei partilhar. Mas não é que esse post foi o mais comentado, até agora? :)

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