sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Esculturas de lã

Este trabalho eu conheci através do site de Elza Mora, a adorável artista Elsita, de quem eu já falei aqui.
Lá no seu site, ela diz ter amado estas esculturas de lã de Irina Andreeva.
Como não se apaixonar por tanta delicadeza, beleza e doçura?
Já fazia um tempinho que eu não reunia um mino tão adorável por aqui. Enjoy it!









terça-feira, 20 de agosto de 2013

O Caráter Revolucionário by Erich Fromm


Quando eu tinha 16 anos, eu lia muito Erich Fromm. Obviamente, por vezes, eu achava tudo muito profundo e não tinha uma compreensão plena do que estava lendo. Mas eu me lembro de me identificar com muito do que ele sempre disse por meio de suas obras. Naquele tempo, eu nem sabia o que tinha sido a psicanálise para a história e tampouco o que ela seria para mim mesmo, 15 anos mais tarde.

A verdade é que eu fiz análise durante um tempo e foi tão bom! Por conta dessa experiência, eu me sinto muito grato a estes caras que pensaram a psique humana, e, aliás, penso que todos nós, em sã consciência, deveríamos nos sentir gratos.
Hoje minha vibe não é a de aceitar prontamente o discurso psicanalítico ou ao menos um aspecto dele e que tende a promover a desconstrução da metafísica, ou ao menos pretende desconstruir o que assim se costuma chamar, ou seja, qualquer interpretação ou vivência transcendente da vida humana no planeta.
Erich Fromm apresenta-nos a vantagem de ser um livre pensador e humanista. Eu tendo a confiar muito mais neste tipo de intelectual e cientista.


Emprestei esta semana, na Biblioteca Mário de Andrade, para matar saudades, seu livro: O dogma de Cristo e outros ensaios sobre Religião, Psicologia e Cultura. 2ª ed., Trad. Waltensir Dutra, Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1965.
No ensaio intitulado “O Caráter Revolucionário”, ele chega a conclusões deliciosas e que eu preciso compartilhar com vocês! Enjoy it!

(...) entendo como caráter revolucionário não um conceito ético, mas um conceito dinâmico. Não se é “revolucionário” nesse sentido caracterológico porque se pronunciem frases revolucionárias ou se participe de uma revolução. O revolucionário, nesse sentido, é o homem que se emancipou dos laços de sangue e solo, da mãe e do pai, das lealdades para com o Estado, classe, raça, partido, religião. O caráter revolucionário é humanista no sentido de que se sente parte de toda a humanidade, e nada que seja humano lhe é estranho. Ama e respeita a vida. É um cético e um homem de fé.

É cético porque suspeita das ideologias como disfarce de realidades indesejáveis. É um homem de fé porque acredita no que existe potencialmente, embora ainda não tenha nascido. Pode dizer “não” e ser desobediente precisamente porque pode dizer “sim” e obedecer a princípios genuinamente seus. Não está semi-adormecido, mas plenamente acordado para as realidades pessoais e sociais que o cercam. É independente, e o que é deve aos seus esforços. É livre, e não o servo de ninguém.

Esse sumário pode sugerir que descrevi a saúde mental e o bem-estar, e não o conceito do caráter revolucionário. Na realidade, a descrição dada reproduz a pessoa sadia, viva, mentalmente sã. Minha afirmação é a de que a pessoa sadia num mundo insano, o ser humano plenamente desenvolvido num mundo aleijado, a pessoa plenamente desperta num mundo semi-adormecido – é precisamente o caráter revolucionário. Quando todos estiverem acordados, não haverá mais profetas ou caracteres revolucionários – haverá apenas seres humanos plenamente desenvolvidos.

A maioria das pessoas, naturalmente, jamais teve caráter revolucionário. Mas a razão pela qual não vivemos mais nas cavernas é precisamente por ter havido sempre um número suficiente de caracteres revolucionários na história romana para nos tirar das cavernas e de seus equivalentes. Há, porém, muitos outros que pretendem ser revolucionários quando na verdade são rebeldes, autoritários ou oportunistas políticos. Creio que os psicólogos têm uma função importante no estudo das diferenças de caráter entre esses vários tipos de ideólogos políticos. Mas para isso é preciso, receio, ter algumas das qualidades que procuramos descrever aqui: devem ter um caráter revolucionário. 

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

a prayer


Sim, eu sei que buscar ser uma pessoa equilibrada é, por exemplo, compreender a profunda incapacidade cognitiva em que está mergulhado o ignorante que te insulta e, por isso mesmo, não sofrer com o insulto. 

Exercitar essa compreensão ao ponto de por vezes alcançar esse tipo de resultado é uma maneira de, entre outros ganhos, ir se libertando do vício do orgulho. 

Amém.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Velho Chico



Uma das experiências mais fascinantes que tive nestas férias foi a de conhecer o Rio São Francisco, em uma localidade próxima a Juazeiro, na Bahia.

Primeiramente, saímos de Catuni da Estrada pela rodovia BR407, que, aliás, também liga Salvador a Juazeiro. Em um trecho da rodovia, que liga Juazeiro a Jaguarari, temos uma considerável extensão de Caatinga .

Trata-se do único bioma exclusivamente brasileiro e que, portanto, propicia que tenhamos contato com uma grande parte de um patrimônio biológico que não pode ser encontrado em nenhum outro lugar do planeta. Não é o máximo isso?


O nome Caatinga vem do Tupi e significa ka'a [mata] + tinga [branca], ou seja, mata branca. De fato, a paisagem é toda esbranquiçada, apresentando uma vegetação em que a maioria das plantas perdeu as folhas, permanecendo com seus troncos esbranquiçados e secos.

Foi incrível observar que estávamos lá em Catuni em uma paisagem verde e exuberante e, de repente, ela já era toda constituída dessa mata aparentemente sem vida, de qualquer modo, sem viço, mas, de todo modo, dona daquela beleza que nasce da dificuldade, do sofrimento e que somente a natureza pode conceber no seu silêncio.


Quando fomos chegando à beira do rio, a paisagem voltou a ser viçosa, verde, e meus olhos ficaram marejados ao me deparar com um dos mais importantes cursos d'água do Brasil e mesmo de toda a América do Sul.


Sabemos que a nascente real e geográfica deste rio está localizada no município de Medeiros, em Minas Gerais e que na Serra da Canastra, no município de São Roque de Minas, é que se encontra, a aproximadamente 1.200 metros de altitude, a chamada nascente histórica e que por muito tempo se pensou ser a sua nascente real.

Ele atravessa todo o estado da Bahia, fazendo sua divisa ao norte com Pernambuco, que foi onde eu fui encontrá-lo. Depois, ele constitui a divisa natural dos estados de Sergipe e Alagoas, e, por fim, deságua no Oceano Atlântico, drenando uma área de aproximadamente 641.000 km². Seu comprimento medido a partir da nascente histórica é de 2.814 km, mas chega a 2.863 km quando medido ao longo do trecho geográfico.

O nome original do rio é indígena, pois toda a sua foz era habitada por índios destemidos e guerreiros e que o chamavam Opará algo como “rio-mar”. Hoje e desde há muito, também é chamado carinhosamente de Velho Chico, uma vez que Américo Vespúcio o batizou Rio São Francisco, quando comandou a primeira expedição que partiu do litoral navegando em sua foz no dia do santo: em 4 de outubro de 1501.

É impossível não nos emocionarmos com a sua vastidão, esse verdadeiro mar de água doce e, sobretudo com a sua história, uma vez que sabemos que nesse caso se trata, como nos disse Guimarães Rosa, da história do sofrimento de um rio que há mais de quinhentos anos é fonte de vida e riqueza.

Sim! Ele faz com que suas águas deem notícia todo o tempo dessa história acumulada em fulgurante beleza.













O caboclo, que comandava a barca que nos levou da margem do rio a uma pequena ilha no seu centro, chamou-me galego, como chamam em certas partes do Brasil alguém que tenha cabelos louros ou claros ou tão somente alguém de pele branca.

Eu tinha que ficar deveras comovido com tudo isso: com a gente, com o rio e seu nome santo, sempre levando a vida adiante em sua correnteza.