terça-feira, 27 de março de 2012

Solar, de Ian McEwan




Quando uma amiga minha emprestou-me sua edição do romance Solar, de Ian MacEwan, não curti muito no começo. Mas, depois da página 50, penso que comecei a entender o que está, afinal, acontecendo por ali...rsrsrs 
Agora já estou na página 170 e estou curtindo muito!!! kkkk 
Por isso, achei que eu devia procurar a carinha do romancista no Google Imagens. Sim, ele é um escritor famoso, respeitado na Inglaterra e no mundo, é importante que o conheçamos, embora o melhor modo de fazê-lo será mesmo lendo seus livros. ;-) 




by Murdo MacLeod
Ainda assim, encontrei essa imagem dele no blog bibliotecariodebabel.com, que reproduzia ainda uma versão integral de uma entrevista que o escritor concedeu ao suplemento Actual, do semanário Expresso, de Portugal.
O que me convenceu a continuar lendo seu livro, com ainda mais interesse, foi essa resposta que ele deu naquela entrevista:





Expresso: Há uns tempos, andou com o seu filho pela rua, no centro de Londres, a oferecer livros que tinha em duplicado na sua biblioteca. Todas as mulheres com que se cruzou aceitaram a oferta, enquanto todos os homens (menos um) a recusaram. Num texto publicado pelo The Guardian, a sua conclusão foi: «Quando as mulheres pararem de ler, o romance estará morto.» Será mesmo assim?

Ian McEwan: Bom, a verdade é que são as mulheres as principais consumidoras de romances. Por quê? Talvez porque as mulheres têm um interesse maior nas pessoas do que em coisas. Há sempre um risco, ao abordar este tema, de cair em generalizações, mas a minha experiência diz-me que as mulheres têm uma capacidade mais fina de interacção pessoal. O radar delas é mais exacto. E os romances são quase sempre sobre interacções pessoais. Independentemente do que os modernistas possam ter dito no início do século XX, o romance voltou, em minha opinião, a reclamar o que acontece na vida privada. 




Pareceu-me tão acertada essa sua  visão da situação - não só no que diz respeito ao romance como também ao papel da mulher enquanto leitora - que fiquei bem mais interessado pelo autor e por sua obra. 
Vamos combinar que nossas "interacções" com romancistas e romances podem também se dar por uma notícia que se tenha, para além da própria obra ou daquilo que os "entendidos" possam dizer de tal autor. Ou seja, elas podem se dar também por essa espécie de aceno que o próprio autor nos dê acerca de sua conduta e/ou visão de mundo e ainda que desse modo, ou seja, por um acaso... 
Não tenho me arrependido de continuar lendo o romance de MacEwan.


Tal leitura tem sido no mínimo instigante, uma vez que sua personagem protagonista é um cientista, um Prêmio Nobel de Física, mas um homem tão ordinariamente comum, que se revela um tanto confuso, "atrapalhado" mesmo, ao ponto de, por fim, nos comover. Há uma espécie de senilidade precoce que vai tomando conta desse homem, o qual, no entanto, ainda gostaria de estar no controle da situação. 


Nesse romance, encontramos uma abordagem absolutamente crítica do problema da falência do que tanto querem chamar de desenvolvimento sustentável, ou seja, um modo completamente novo de tratar do futuro do planeta. Para MacEwan, esse futuro está conectado a um modo muito subjetivo de ser, de cada um de nós, e, necessariamente, isso é o que há de espantoso! Eu  também vejo nesse romance um flerte do autor com toda uma tradição de contos policiais e também com a ópera bufa, e até com uma certa tradição de comédias do cinema americano: mas talvez isso tudo seja maluquice da minha cabeça...rsrsrs


Contudo, o mais importante é que há uma sensibilidade própria de um homem que busca compreender o ser humano, em termos globais, e isso, tão somente contando uma história, ou seja, por meio do exercício de construção/compreensão do que ele está chamando de interações da vida privada. E, sim, será nessa experiência de vida que encontraremos a mulher sempre como uma presença, no mínimo, instigante. É o que  posso observar na fabulação dessa vida em questão.


E, claro, tal personagem também tem seus momentos de epifania, vejam:


Beard pensou que, se algum dia viajasse para outra galáxia, logo sentiria uma falta mortal daqueles irmãos e irmãs à sua frente, de todo mundo, até mesmo das ex-mulheres. Fora invadido pela doce ilusão de que gostava das pessoas. Perfeitamente desculpáveis, todas elas. Um pouco cooperativas, um pouco egoístas, às vezes cruéis e, acima de tudo, engraçadas. Os skidoos passavam pela ravina estreita, de altas paredes, que havia sido o cenário de sua vergonha, um momento para ser enterrado e esquecido. Preferia relembrar como escapara friamente do urso assassino. A verdade, porém, era que sentia um estranho carinho para com a humanidade. Achou até que ela poderia vir a gostar dele. Todo mundo, todos nós , como indivíduos, naturalmente tínhamos de confrontar o esquecimento sem reclamar muito. Como espécie não éramos a melhor imaginável, mas sem dúvida a melhor, ou a mais interessante, que existia.

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